terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tristezas não resolvem


Antonio Delfim Netto
O ministro Guido Mantega recebeu muitas críticas, recentemente, ao dizer que acredita que a economia brasileira vai voltar a crescer 4% ou até um pouquinho mais em 2013 e nos anos seguintes. Apesar do baixo crescimento do PIB em 2012, não tenho dúvida de que vamos terminar o ano com a economia “rodando” entre 3,5% e 4%. A expansão do terceiro trimestre sobre o segundo (acima de 1%) e a expectativa de que não ficará abaixo de 1% no quarto trimestre em relação ao terceiro, já aponta para um crescimento anualizado de 4%. Com todas as dificuldades que enfrentamos este ano - a economia externa baleada e as exportações reagindo mal - o ministro Guido e sua equipe podem comemorar, discretamente, o fato que vamos virar o ano novo com nossa economia se recuperando. 

O crescimento em 2013 não está dado. Sua sustentação vai depender do comportamento da política econômica, da aceleração dos investimentos públicos ao longo do ano e da cooptação do setor privado, para que este recupere o espírito animal e desamarre seu navio do ilusório cais da segurança. Aqui entra a famosa sentença de W.I. Thomas que veste como uma luva a atual situação brasileira: “se as pessoas definem suas circunstâncias como reais, então elas serão reais em suas consequências”. 

Se o setor privado brasileiro, erroneamente, passa a supor que o governo tornou-se hostil ao mercado e que deseja ampliar o seu tamanho, ele tira as consequências dessa sua crença, buscando uma posição defensiva segura até que a tempestade (o governo passageiro) dê lugar ao sol. Não adianta ficar triste: “as circunstâncias pensadas como reais levam à consequências reais”. Para cooptar o investimento privado indispensável para a ampliação do crescimento é preciso mudar aquela crença. O governo deve insistir que é “pró-mercado” e não “pró-negócio”. Precisa convencer que é a favor da competição regulada e ágil e que não pretende realizar diretamente aquilo que por sua natureza o setor privado sabe fazer melhor. 

O governo - a exemplo do velho aforisma sobre os costumes romanos - deve mostrar que não se envolve com os “negócios” que caracterizam o “capitalismo de compadres”. E tem que se esforçar para cooptar a massa gigantesca de pequenos, médios e grandes empresários, assustados com o fantasma da “estatização”, que seria o seu “verdadeiro objetivo”, como corneta a oposição... Talvez o teorema de Thomas ajude a entender o paradoxo de um governo, extremamente bem avaliado pela sociedade, ser visto ao mesmo tempo com profunda desconfiança pelo seu setor produtivo privado, particularmente o financeiro. 

Apesar dos tênues sinais de que o cenário internacional está ficando “menos pior”, o que nos dá algum alento para melhorar as exportações, a aceleração do crescimento vai continuar dependendo cada vez mais de nós mesmos. Depende do suporte que o governo for capaz de dar para o crescimento do mercado interno e das respostas do setor privado às políticas postas em prática. A única forma, na realidade, de projetar o crescimento é tratar de construí-lo, por que não existe nenhum mecanismo mágico que garanta o acerto das previsões. O ano está terminando e o mundo não acabou em 2012, como os feiticeiros previram... Nossa economia tem tido um comportamento peculiar, com maior crescimento nos setores de serviços, uma verdadeira revolução no processo da inclusão social, o mercado de trabalho praticamente em pleno emprego, com as instituições funcionando bem, de forma que não há nenhum obstáculo intransponível para que o Brasil volte a crescer mais. 

O autor, Antonio Delfim Netto, é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e articulista do JC

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