SITE CARTA MAIOR
DECLARAÇÕES DA ECONOMISTA MARIA CONCEIÇÃO TAVARES SOBRE A CRISE
MUNDIAL E A SUGESTÃO DE DEMISSÃO DE GUIDO MANTEGA PELA REVISTA
THE ECONOMIST.
"A revista
Economist sabe, e se não sabe deveria saber o que está
acontecendo no mundo; a revista Economist, suponho, enxerga o
que se passa na Europa; sobretudo, não é cega a ponto de não
ver o que salta aos olhos em sua própria casa.
A economia inglesa despenca de cabo a rabo atrelada ao que há de
mais regressivo no receituário ortodoxo, numa escalada
pró-cíclica de fazer medo ao abismo. Então que motivações ela
teria para criticar o Brasil com a audácia de pedir a cabeça do
ministro da economia de um governo que se notabiliza por não
incorrer nas trapalhadas que estão levando o mundo à breca?
O coro contra o Mantega não me convence. Nem nas suas alegações,
nem nos seus protagonistas, nem na sua batuta.
Não acredito nessa geração espontânea nas páginas da
Economist,por mais que isso combine com o seu conservadorismo.
Não acredito que a motivação seja econômica e não acredito que o
alvo seja o Mantega.
Pela afinação do coro vejo mais como algo plantado daqui para
lá; o alvo é 2014 e o objetivo é fortalecer o mineiro.
A mim não me enganam. Ah, quer dizer então que o Brasil vive uma
crise de confiança, por isso os empresários não investem? Sei…
O investimento está retraído no planeta Terra, nos dois
hemisférios do globo. Bem, a isso se dá o nome de crise
sistêmica. É disso que se trata. Hoje e desde 2008; e,
infelizmente, por mais um tempo o qual ninguém sabe até quando
irá, mas não é coisa para amanhã ou depois, isso é certo. Então
não existe horizonte sistemico de longo prazo e sem isso o
dinheiro foge de compromissos que o imobilizem. Fica ancorado em
liquidez e segurança, em papéis de governo ricos.
Não é fácil você compensar em um país aquilo que o
neoliberalismo esfarelou e pisoteou nos quatro cantos do globo.
Por isso não se investe nem aqui, nem na China ou nos EUA do
Obama. E porque também mitos setores estão com capacidade ociosa
–no mundo, repito, no mundo.
A política monetária sozinha não compensa isso, da mesma forma
que o consumo não alarga o horizonte a ponto de estender o longo
prazo requerido pelo capital. Então do que essa gente está
falando?
Alguns deles certamente conseguem compreender o que estou
dizendo. Estes, por certo não fazem a crítica que eu faria, se
fosse o caso de fazer alguma. A meu ver o Brasil tem que ser
ainda mais destemido na redução do superávit primário –e nisso
Mantega está sendo até excessivamente fiscalista, para o meu
gosto.
Mas com certeza a malta que pede a sua cabeça não pensa assim.
Também não pensa, como eu penso, que o governo deve ir mais
depressa no investimento estatal, fazer das tripas coração no
PAC , porque é daí, do investimento público robustecido que pode
irradir a energia capaz de destravar a inversão privada.
Mas não. A coisa toda cheira eleitoral. A economia internacional
não vai crescer muito em 2013. O Brasil deve ficar acima da
média. Mas, claro,nenhum desempenho radiante e eles sabem disso.
Então imaginam ter encontrado a brecha para fincar o pé de
palanque do mineiro. E começam a disparar para atingir Dilma.
Agora pergunte o que eles propõem ao Brasil. Pergunte.E depois
confira onde querem chegar olhando as estatísticas de emprego,
investimento e as sondagens quanto a confiança dos empresários
em Portugal, na Inglaterra, Espanha… Ora, façam-me o favor".
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