quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Novo desenho do desenvolvimento


Luis Nassif
Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel julga que há certa dificuldade em se entender o que está ocorrendo na economia brasileira e na mundial.
É um processo simultâneo de mudanças estruturais profundas, diz ele. Estamos no início de uma revolução radical no Brasil, com as mudanças ocorridas no padrão de juros e de câmbio da economia, e na aposta da educação e na inovação, que consolida o passo inicial de criação de um enorme mercado de consumo de massa.
Essas transformações ocorrem em um momento em que há alterações radicais no padrão da indústria de transformação e de acumulação de capital em nível global.
O que é indústria? - indaga ele. O iPhone não contém nenhum componente produzido pela Apple. A Foxconn (o fabricante) fica com 5% do valor final, 60% se destinam aos componentes e 35% ficam com a Apple.
Esse padrão se alastrou pelo ramo da eletrônica e até das montadoras. Hoje em dia, é possível montar um automóvel sentado no escritório com dez sistemistas em volta. Contrata-se um escritório de design em Turim para o modelo. Acerta-se com os alemães a fabricação do bloco de motores, a caixa de transmissão, com a Bosch o sistema elétrico. Dentro de algum tempo, com algum terceirizado, a montagem do veículo.
O Brasil terá que se adaptar a esse modelo e correr atrás, diz ele. Senão, corre o risco da produção industrial brasileira ser terceirizada para a China e outros asiáticos.
Pimentel considera que o país melhor posicionado para a nova era são os Estados Unidos. Nos últimos anos jogaram o custo da energia pra baixo, já têm um custo tributário pequeno, um mercado de capitais fantástico e enorme capacidade tecnológica.
Mas o grande diferencial norte-americano é a facilidade com que se definem novos modelos de negócios e os precifica. A grande revolução do Google foi o modelo de negócios desenvolvido, assim como na Apple foi a enorme competência para definir seu modelo de terceirização.
No caso brasileiro, ainda se enfrentam dificuldades até para trabalhar a sucessão familiar. Além dos custos de capital e de produção, a grande revolução é a do conhecimento, diz Pimentel. Por isso a importância dos royalties na educação e de programas como o Pronatec, Ciência Sem Fronteira.
Pimentel não dá crédito às análises de que há problemas com investimento por insegurança jurídica ou desconfiança em relação aos propósitos privativistas do governo. No âmbito da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial existem 19 Câmaras de competitividade, cada qual com 30 membros - de empresas a associações - discutindo permanentemente a questão da competitividade.
Há trabalhos conjuntos com federações da indústria para disseminar a inovação, as apostas nas concessões de infraestrutura. E o episódio da redução do preço da energia, longe de ser visto como quebra de contrato foi aplaudido pelo setor produtivo, como sinal mais forte de compromisso do governo com a reindustrialização.
Luis Nassif é jornalista, especializado em economia

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