A presença da presidenta Dilma Rousseff e
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris, ganhou a atenção
dos meios de comunicação e do empresariado francês. Como prova disso, o
influente semanário econômico “Challanges” dedicou a capa à visita de
Dilma a França. A manchete da publicação não poderia ser mais explícita:
“Brasil, o país onde é preciso estar”. Dilma convidou os empresários
franceses a investir no Brasil e o ministro da Indústria francês
convidou o Brasil a “utilizar a França como cabeça de ponte” para o
mercado europeu. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.
Eduardo Febbro
Data: 13/12/2012
Paris - A presidenta brasileira Dilma
Rousseff prosseguiu quarta-feira em Paris sua dupla ofensiva, ao mesmo
tempo política, contra as medidas de austeridade que estão sendo
impostas em toda a Europa, e também comercial, com a oferta feita aos
empresários franceses para que invistam no Brasil. Em ambos os casos, a
partida parece ganha: a política, porque esse é o credo do presidente
socialista François Hollande, que propõe uma combinação de poupança
pública e investimentos para fomentar o emprego; a segunda, com a
sedução do empresariado francês. Como prova disso, o influente semanário econômico “Challanges”
dedicou a capa à visita de Dilma a França. A manchete não poderia ser
mais explícita: “Brasil, o país onde é preciso estar”. O Brasil, de
fato, atraiu a atenção da mídia francesa.
A dupla presença de Dilma e do ex-presidente Lula aqueceu e deu conteúdo ao frio outono francês. Lula participou do fórum internacional para o progresso social organizado conjuntamente pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean Jaurés sob o lema “Escolher o crescimento, sair da crise”. O ex-presidente disse aos seus interlocutores que a crise era uma oportunidade para repensar a política.
Dilma Rousseff colocou uma carta tentadora sobre a mesa: durante seu encontro com a cúpula patronal francesa, a presidenta anunciou um ambicioso plano de infraestrutura aeroportuária: “os números no Brasil são enormes. Temos a intenção de construir cerca de 800 aeroportos ou mais. Serão construídos em cidades com mais de 100 mil habitantes”. A mandatária acrescentou que “queremos que todas as cidades com mais de 100 mil habitantes tenham acesso a um aeroporto que esteja a uma distância máxima de 50 ou 60 quilômetros do centro”. A realização deste projeto, assinalou, é “uma necessidade importante para o crescimento do país”.
Na mesma reunião com os empresários franceses, da qual participou um representante da ala esquerda do Partido Socialista, no poder, o ministro da Indústria, Arnaud Montebourg, ao lado de seu homólogo brasileiro, Fernando Pimentel, fixou o horizonte dos possíveis investimentos: “temos que buscar a abertura econômica, mas sem que isso signifique aceitar práticas depredadoras no comércio internacional, como vemos acontecer na Ásia”, disse o ministro.
A delegação brasileira surpreendeu os empresários franceses pela firmeza de suas propostas. Neste contexto, a presidenta Dilma criticou duramente as políticas de austeridade e chamou a França a reforçar a colaboração com seu país a fim de “explorar as novas oportunidades que a crise oferece”. Diante do empresariado, em vários momentos com ar maravilhado, a chefe de Estado brasileira expôs sua convicção de que “a redução dos gastos, a política monetária exclusiva e a diminuição dos direitos sociais não constituem uma resposta à crise”. Dilma se baseou no próprio exemplo do passado latino-americano – anos 80 e 90 – para defender seu ponto de vista: “ninguém reconhecia que as medidas que aumentavam as desigualdades, o desemprego e a desesperança nos países latino-americanos não levava a parte alguma”.
Em resposta à solicitação de uma cooperação renovada com Paris, o ministro da Indústria francês convidou o Brasil a “utilizar a França como cabeça de ponte” para o mercado europeu. Com respeito à compra ainda suspensa de 36 aviões Rafale, do fabricante Dassault, por cerca de 4 bilhões de euros, a dirigente brasileira precisou que, em função da crise, essa decisão segue suspensa. A história desses aviões é uma espécie de grande montagem organizada pelo ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.
Em setembro de 2009, Sarkozy fez uma viagem relâmpago ao Brasil para negociar com Lula a venda dos aviões Rafale. De volta a Paris, Sarkozy deu o negócio por consumado e abriu garrafas de champagne para festejar publicamente o contrato. Nesta época, o entorno presidencial assegurava que os “brasileiros não podiam rechaçar essa proposta”. Na verdade, nada estava concretizado ainda.
A visita de Dilma Rousseff a França serviu também para que o Fundo Mundial da Natureza (WWF) interpelasse Paris e Brasília para que ambos ratifiquem e façam entrar em vigor o acordo firmado em 2008 pelos dois países para lutar contra a exploração selvagem de ouro. Em um chamado a Paris e Brasília publicado pelo matutino Libération e assinado pelos responsáveis do WWF na França e no Brasil, o Fundo Mundial para a natureza denuncia a situação que impera nas fronteiras comuns que França e Brasil compartilham na Guiana: “no coração dessas gigantescas zonas protegidas e dedicadas à biodiversidade e às comunidades locais, um mal profundo se instalou: a febre do ouro”. Para a WWF, a visita de Dilma Rousseff é uma “oportunidade única” para que “se detenha a exploração aurífera ilegal nas zonas protegidas”.
Tradução: Katarina Peixoto
A dupla presença de Dilma e do ex-presidente Lula aqueceu e deu conteúdo ao frio outono francês. Lula participou do fórum internacional para o progresso social organizado conjuntamente pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean Jaurés sob o lema “Escolher o crescimento, sair da crise”. O ex-presidente disse aos seus interlocutores que a crise era uma oportunidade para repensar a política.
Dilma Rousseff colocou uma carta tentadora sobre a mesa: durante seu encontro com a cúpula patronal francesa, a presidenta anunciou um ambicioso plano de infraestrutura aeroportuária: “os números no Brasil são enormes. Temos a intenção de construir cerca de 800 aeroportos ou mais. Serão construídos em cidades com mais de 100 mil habitantes”. A mandatária acrescentou que “queremos que todas as cidades com mais de 100 mil habitantes tenham acesso a um aeroporto que esteja a uma distância máxima de 50 ou 60 quilômetros do centro”. A realização deste projeto, assinalou, é “uma necessidade importante para o crescimento do país”.
Na mesma reunião com os empresários franceses, da qual participou um representante da ala esquerda do Partido Socialista, no poder, o ministro da Indústria, Arnaud Montebourg, ao lado de seu homólogo brasileiro, Fernando Pimentel, fixou o horizonte dos possíveis investimentos: “temos que buscar a abertura econômica, mas sem que isso signifique aceitar práticas depredadoras no comércio internacional, como vemos acontecer na Ásia”, disse o ministro.
A delegação brasileira surpreendeu os empresários franceses pela firmeza de suas propostas. Neste contexto, a presidenta Dilma criticou duramente as políticas de austeridade e chamou a França a reforçar a colaboração com seu país a fim de “explorar as novas oportunidades que a crise oferece”. Diante do empresariado, em vários momentos com ar maravilhado, a chefe de Estado brasileira expôs sua convicção de que “a redução dos gastos, a política monetária exclusiva e a diminuição dos direitos sociais não constituem uma resposta à crise”. Dilma se baseou no próprio exemplo do passado latino-americano – anos 80 e 90 – para defender seu ponto de vista: “ninguém reconhecia que as medidas que aumentavam as desigualdades, o desemprego e a desesperança nos países latino-americanos não levava a parte alguma”.
Em resposta à solicitação de uma cooperação renovada com Paris, o ministro da Indústria francês convidou o Brasil a “utilizar a França como cabeça de ponte” para o mercado europeu. Com respeito à compra ainda suspensa de 36 aviões Rafale, do fabricante Dassault, por cerca de 4 bilhões de euros, a dirigente brasileira precisou que, em função da crise, essa decisão segue suspensa. A história desses aviões é uma espécie de grande montagem organizada pelo ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.
Em setembro de 2009, Sarkozy fez uma viagem relâmpago ao Brasil para negociar com Lula a venda dos aviões Rafale. De volta a Paris, Sarkozy deu o negócio por consumado e abriu garrafas de champagne para festejar publicamente o contrato. Nesta época, o entorno presidencial assegurava que os “brasileiros não podiam rechaçar essa proposta”. Na verdade, nada estava concretizado ainda.
A visita de Dilma Rousseff a França serviu também para que o Fundo Mundial da Natureza (WWF) interpelasse Paris e Brasília para que ambos ratifiquem e façam entrar em vigor o acordo firmado em 2008 pelos dois países para lutar contra a exploração selvagem de ouro. Em um chamado a Paris e Brasília publicado pelo matutino Libération e assinado pelos responsáveis do WWF na França e no Brasil, o Fundo Mundial para a natureza denuncia a situação que impera nas fronteiras comuns que França e Brasil compartilham na Guiana: “no coração dessas gigantescas zonas protegidas e dedicadas à biodiversidade e às comunidades locais, um mal profundo se instalou: a febre do ouro”. Para a WWF, a visita de Dilma Rousseff é uma “oportunidade única” para que “se detenha a exploração aurífera ilegal nas zonas protegidas”.
Tradução: Katarina Peixoto
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