quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"Brasil está entre os países mais atrativos do mundo"


"Brasil está entre os países mais atrativos do mundo"


Rubenstein prevê retornos menores para fundos de private equity, mas ainda atrativos em relação a mercado de ações
Embora esteja longe de recuperar o vigor apresentado nos anos que antecederam a grave crise financeira de 2008, os Estados Unidos ainda são o melhor lugar do mundo para se encontrar boas oportunidades de investimento. A afirmação é de David Rubenstein, cofundador e copresidente do Carlyle Group, uma das maiores firmas globais de private equity - que investe na compra de participações em empresas -, com US$ 157 bilhões sob gestão.
Em entrevista ao Valor durante passagem no Brasil no início do mês, Rubenstein atribuiu o fraco desempenho da economia americana nos últimos anos à intensidade da crise que abateu a economia, a maior desde a Grande Depressão que teve início em 1929. Apesar de problemas como o impasse político sobre o chamado "abismo fiscal", o co-fundador do Carlyle prevê um crescimento de pelo menos 3% para os Estados Unidos em 2013.
Num ano em que o Brasil perdeu atrativos perante os olhos de muitos investidores estrangeiros, Rubenstein também se mostra otimista sobre o país, um dos países onde o Carlyle tem sido mais ativo. O executivo rejeita comparações com outros países da região, como Chile, Colômbia e Peru. "Todos esses mercados juntos ainda são relativamente pequenos em relação ao Brasil", afirma.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Passados quatro anos do auge da crise financeira de 2008, quais são os grandes desafios e ameaças para a recuperação da economia americana?
David Rubenstein: A recuperação econômica não tem sido robusta como geralmente ocorre após um período de recessão. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego historicamente costuma voltar ao mesmo patamar de antes da recessão em um intervalo de dois anos, e claramente não temos isso hoje. A recessão tecnicamente acabou em junho de 2009, mas na minha opinião nunca terminou realmente porque as taxas de desemprego permanecem altas e o crescimento da economia continua baixo. Tecnicamente, a definição mais aceita sobre recessão é a que indica dois trimestres consecutivos de crescimento econômico negativo, mas acredito que essa definição esteja datada e seja pouco útil.
Valor: E por que a economia ainda não se recuperou?
Rubenstein: Primeiro, porque a recessão foi a mais profunda que tivemos desde a Grande Depressão, então o tempo de recuperação acaba sendo maior. Segundo, o país tem uma dívida grande, da ordem de US$ 16 trilhões, com passivos em pensões e saúde pública. Nós temos ainda uma disparidade de renda crescente e problemas de desemprego estruturais. Por outro lado, também começamos a ver bons sinais na economia.
"Não temos 6% ou 7% de crescimento nos EUA, mas cresceremos ao menos 3% em 2013, o que considero bom"
Valor: Quais são esses sinais?
Rubenstein: Acredito que a questão do "abismo fiscal" será resolvida, com um acordo inicial até o fim deste mês e uma solução de longo prazo definida nos próximos dois anos. A recuperação no setor imobiliário está a caminho, e a recessão tipicamente termina quando isso acontece. Essa melhora acontece de várias maneiras: os investimentos na área e os preços estão em alta, e as construções de novas casas estão ocorrendo novamente. Vivemos ainda uma revolução na área de energia. Estamos expandindo dramaticamente nossa capacidade de produção de óleo e gás. Esse fenômeno estimula uma revolução manufatureira nos Estados Unidos, com o aumento da produção local em razão dos menores custos de energia. Pela primeira vez desde 1949 seremos exportadores líquidos de produtos relacionados a energia. Continuamos a ter uma atividade empreendedora no Vale do Silício e outras áreas. Tudo isso nos ajudará a sair desse período de pós-recessão.
Valor: De um modo geral, qual o seu prognóstico para a economia americana?
Rubenstein: Estou muito otimista com os Estados Unidos. Na verdade, acho hoje que é o melhor lugar do mundo onde investir. Não temos 6% ou 7% de crescimento como a China, mas provavelmente cresceremos pelo menos 3% no próximo ano, o que considero muito bom. Nós ainda temos alguns problemas, mas agora que as eleições acabaram veremos mais investimentos e crescimento.
Valor: O senhor tem a mesma visão otimista para o resto do mundo, em particular a Europa?
Rubenstein: Os problemas na Europa são muito mais sérios do que nos Estados Unidos. Os países do Sul possuem um endividamento muito alto, os bancos estão relativamente fracos e não há crescimento econômico suficiente para que consigam resolver essas questões no curto prazo. No final, os países do Norte, e talvez o FMI, precisarão oferecer algum tipo de ajuda financeira para alguns governos e, talvez, alguns bancos. A Europa está em uma recessão hoje e deve atravessar parte do ano que vem nessa condição. Como se trata do maior PIB mundial, o que acontece na Europa é muito importante para o resto do mundo. Eu acredito que veremos mais um ano, ou pelo menos até as eleições na Alemanha [previstas para setembro], antes de uma recuperação na Europa. Mas nem mesmo a Alemanha pode resolver todos os problemas sozinha.
Valor: Quais as perspectivas de crescimento para a economia global nesse cenário?
Rubenstein: Acredito que haverá um crescimento de 3,5% em 2013, talvez 4%. Não será tanto quanto gostaríamos, mas acho que os emergentes terão um bom desempenho. O Brasil obviamente terá um crescimento maior em relação a este ano, assim como a Índia, enquanto a China deve ter um desempenho pelo menos equivalente ao de 2012. Outras regiões, como a África subsaariana [que exclui o Norte do continente] e países latino-americanos como o México também terão um bom ano.
"Fico surpreso como alguns de meus principais concorrentes globais ainda não levantaram fundos para o Brasil"
Valor: Como o senhor vê a indústria de private equity em 2013?
Rubenstein: Os fundos de private equity tiveram um bom desempenho em momentos bons e ruins. A indústria sobreviveu à crise financeira muito bem e os investimentos cresceram em várias partes do mundo. Acredito que no ano que vem veremos mais fundos captando recursos e em volumes maiores. Mas não acho que haverá mega-aquisições de controle, na casa de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões, nos Estados Unidos e na Europa. Também não devemos ter negócios gigantes nos mercados emergentes, mas haverá um crescimento sólido. De um modo geral, sou muito otimista com a capacidade de os fundos de private equity encontrarem bons negócios. Os retornos provavelmente serão menores em relação aos anos de pico, mas ainda serão atrativos e melhores na comparação com a rentabilidade do mercado de ações.
Valor: O senhor mencionou que os Estados Unidos são o melhor lugar do mundo para se investir hoje. Por quê?
Rubenstein: O mercado americano ainda representa, na nossa visão, a melhor oportunidade de investimento no mundo. Os Estados Unidos possuem um histórico de crescimento positivo, os melhores e mais talentosos profissionais de investimento e os melhores gestores de empresas. Em segundo lugar, vemos os mercados emergentes, como China, Índia e Brasil. O Brasil reúne a quinta maior população do mundo, a sexta maior economia, uma moeda estável e inflação relativamente baixa. Trata-se de um país com amplos recursos naturais, um componente importante de energia verde, além de 100 milhões de pessoas na classe média. Vocês têm um governo que é pró-capitalismo, o que proporciona um bom ambiente de negócios. Por isso considero que o Brasil está entre os países mais atrativos do mundo.
Valor: Mas nos últimos meses, em especial com o fraco desempenho da economia brasileira, os investidores internacionais têm revelado preferência por outros países latino-americanos, como Chile, Colômbia e Peru...
Rubenstein: De fato, a economia brasileira terá um baixo crescimento neste ano e, na nossa visão, deve crescer de 3,5% a 3,9% em 2013. Mas não se pode comparar esses países com o Brasil. Os mercados de Chile, Colômbia e Peru juntos ainda são relativamente pequenos em relação ao Brasil. O Peru, por exemplo, é muito atrativo e nós investimos lá. Você pode encontrar um ou dois negócios em condições melhores, mas no Brasil existem muito mais oportunidades.
Valor: O Carlyle tem sido um dos investidores mais ativos no Brasil. Qual a sua avaliação sobre os negócios realizados no país?
Rubenstein: Nosso time local de private equity tem feito um ótimo trabalho e estamos felizes com todos os negócios que fizemos. Até o momento fizemos seis transações e investimos US$ 1,6 bilhão em capital. Fico surpreso como alguns de meus principais concorrentes globais ainda não levantaram fundos para o Brasil. Mas também fico feliz porque isso significa menos competição para nós. Acredito que a economia brasileira está em ótimas condições na comparação com outros países. O desempenho deste ano pode ter desapontado, mas acho que essa taxa deve se reverter a partir de 2013.

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