quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Fim das barreiras argentinas passa por equilíbrio na balança



Para resolver as barreiras comerciais impostas pela Argentina às exportações brasileiras é preciso equilíbrio na balança comercial entre os dois países, que é superavitária para o Brasil em quase US$ 6 bilhões, defendeu o ex-embaixador Régis Arslnaian, em encontro na Federação das Indústrias (FIESC), na sexta-feira (10).

Conforme ele, o protecionismo do país pode ser explicado em grande parte pelo balanço de pagamentos. A Argentina precisa fechar as contas de 2012 com um superávit de US$ 10 bilhões, caso contrário, corre o risco de repetir a moratória de 2002, o que dificultaria o acesso a empréstimos internacionais entre outras complicações. O Brasil importa anualmente mais de US$ 200 bilhões dos mais diversos países, no entanto, compra pouco do vizinho do Mercosul. Se o Brasil importasse da Argentina só 3% dos US$ 200 bilhões, já daria uma grande contribuição para fechar as contas deles.       

Apesar dos produtos argentinos não terem preços tão competitivos, Arslanian defende que o Brasil deveria aumentar suas compras. Contudo, salienta que essa ação deveria ser uma estratégia de negociação que envolveria os presidentes dos dois países. Em troca, as empresas verde-amarelas ficariam livres das restrições comerciais impostas. "Trabalho há vinte anos com o Mercosul e estou convencido que hoje em dia é preciso uma solução global e política. A Argentina é fundamental para o Brasil", afirmou ele, destacando que o país tem sustentado boa parte da competitividade brasileira pelo fato de comprar muitos produtos industrializados. Para ele, o Brasil poderia privilegiar a Argentina nas compras de trigo, por exemplo, que, em grande parte vem do Canadá, além de lácteos e vinhos.

O ex-embaixador, que trabalha como consultor em comércio exterior, disse que sempre houve problemas nas relações com a Argentina. Na opinião dele, quanto maior o comércio, maiores serão os obstáculos, mas que isso faz parte da intensificação das relações mercantis. "O Mercosul é muito mais que um acordo de livre comércio. Vamos além disso, o que implica liberalização comercial. Temos a responsabilidade de cuidar e fazer com que os parceiros estejam bem. Não adianta estarmos bem se os vizinhos estiverem mal. Tem que haver integração na América do Sul", enfatizou Arslanian, destacando que a integração é um projeto que se constrói em décadas.

Na visão dele, as relações entre os dois países têm problemas maiores do que deveriam ter e isso já passou dos limites toleráveis. Não há uma solução à vista. Esse imbróglio só vai se resolver a partir de negociações estruturadas no âmbito político, com a formulação de um acordo para eliminar as retaliações e liberar as mercadorias de forma geral, e não buscado uma solução para cada caso, para cada empresa, disse. Por isso, o equilíbrio no comércio seria uma saída, argumentou.

Arslanian disse que cada vez que o Brasil senta com o governo argentino para negociar questões comerciais, os vizinhos reclamam do desequilíbrio no comércio bilateral e como isso afeta o balanço de pagamentos. Se nenhuma medida for tomada, a tendência é que o protecionismo aumente, pois não há perspectivas de a economia interna da Argentina melhorar. "O governo tem consciência que precisamos comprar mais da Argentina. Mas isso tem que ser formalizado. Assim se consegue um entendimento e se resolve esse problema", finalizou ele.

SC x Argentina: a Argentina é um importante mercado também para Santa Catarina. As restrições que o país vizinho adotou no início do ano refletiram nas exportações do Estado. No acumulado do ano até junho, os embarques catarinenses para a Argentina somaram US$ 303 milhões, valor 7% menor que o registrado no mesmo período em 2011. O país é o terceiro mercado para quem o Estado mais exporta.

Os principais produtos embarcados no período foram motores e geradores elétricos, motocompressores, laminados de ferro e aço e energia elétrica.

De janeiro a junho deste ano em relação ao mesmo período em 2011, as importações catarinenses da Argentina registraram queda de 14,6%, para US$ 520,8 milhões. Entre os produtos importados pelo Estado estão polietilenos sem carga ou linear, polímeros de etileno e farinha de trigo.  

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