Antonio Delfim Netto Acumulação A dinâmica do desenvolvimento é produzida pelas inovações na criação de bens, serviços e processos tecnológicos que estimulam a diversificação do consumo e elevam o bem-estar da sociedade. Seu indicador mais sintético é um aumento do Produto Interno Bruto per capita. Pôr em prática uma "inovação" significa obter crédito para financiá-la e correr os riscos do investimento. Marx mostrou, muito antes de Keynes (a quem inspirou ainda que não expressamente reconhecido), que o "investimento", isto é, o aumento da capacidade produtiva derivado da inovação, é feito pelo "investidor" na expectativa de obter lucro. O aumento do consumo é um efeito paralelo e indispensável para a continuação do processo capitalista, mas o seu motor é a tendência do investidor de maximizar a acumulação. O consumo é a parte maior da demanda global. O seu componente mais instável e que produz as maiores variações na renda e no emprego é o nível do investimento. Este depende, por sua vez, da expectativa da demanda e da sua possível taxa de retorno (o lucro esperado). Quando a expectativa de retorno desaparece, desaparece o investimento. A demanda global entra em colapso, produzindo uma crise que, em geral, começa no mercado financeiro e termina no mercado de trabalho. Na organização social apoiada nos "mercados", essas crises são ínsitas ao ajuste entre a demanda e a oferta globais ao qual se soma a ciclotimia normal do agente econômico. A demanda global tende a flutuar com ciclos de períodos e amplitudes aleatórios impossíveis de serem previstos ou controlados pela política econômica. Os economistas já deveriam ter perdido a inocência revelada pelo Prêmio Nobel, Robert Lucas, que sonhou ter destruído Keynes. Em 2003, ele decretou na "American Economic Review" que a "macroeconomia foi bem-sucedida: seu problema principal, a prevenção da depressão está, para todos os fins práticos, resolvido e, de fato, resolvido por muitas décadas". A incerteza do mundo que impacta o investimento, agora, não é do tipo que pode ser compensada atuarialmente. Nesta, os riscos têm uma história à qual podemos aplicar, para nos defender, o cálculo de probabilidades. Trata-se da incerteza essencial a que se referia Keynes: o que será da Eurolândia daqui a cinco anos? É a incerteza produzida pelo fato de que o passado não tem qualquer informação sobre o futuro. É bom que entendamos que só o investimento público pode superá-la. E a forma mais eficiente de fazê-lo é cooptar o "espírito animal" dos empresários, dando-lhes a expectativa de taxas de retorno adequadas, garantia dos contratos e uma regulação inteligente.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Acumulação
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