quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Acumulação


Antonio Delfim Netto

Acumulação

A dinâmica do desenvolvimento é produzida pelas inovações na criação de
bens, serviços e processos tecnológicos que estimulam a diversificação do
consumo e elevam o bem-estar da sociedade.

Seu indicador mais sintético é um aumento do Produto Interno Bruto per
capita. Pôr em prática uma "inovação" significa obter crédito para
financiá-la e correr os riscos do investimento.

Marx mostrou, muito antes de Keynes (a quem inspirou ainda que não
expressamente reconhecido), que o "investimento", isto é, o aumento da
capacidade produtiva derivado da inovação, é feito pelo "investidor" na
expectativa de obter lucro.

O aumento do consumo é um efeito paralelo e indispensável para a
continuação do processo capitalista, mas o seu motor é a tendência do
investidor de maximizar a acumulação.

O consumo é a parte maior da demanda global. O seu componente mais
instável e que produz as maiores variações na renda e no emprego é o nível
do investimento. Este depende, por sua vez, da expectativa da demanda e da
sua possível taxa de retorno (o lucro esperado).

Quando a expectativa de retorno desaparece, desaparece o investimento. A
demanda global entra em colapso,

produzindo uma crise que, em geral, começa no mercado financeiro e termina
no mercado de trabalho.

Na organização social apoiada nos "mercados", essas crises são ínsitas ao
ajuste entre a demanda e a oferta globais ao qual se soma a ciclotimia
normal do agente econômico. A demanda global tende a flutuar com ciclos de
períodos e amplitudes aleatórios impossíveis de serem previstos ou
controlados pela política econômica.

Os economistas já deveriam ter perdido a inocência revelada pelo Prêmio
Nobel, Robert Lucas, que sonhou ter destruído Keynes. Em 2003, ele
decretou na "American Economic Review" que a "macroeconomia foi
bem-sucedida: seu problema principal, a prevenção da depressão está, para
todos os fins práticos, resolvido e, de fato, resolvido por muitas
décadas".

A incerteza do mundo que impacta o investimento, agora, não é do tipo que
pode ser compensada atuarialmente. Nesta, os riscos têm uma história à
qual podemos aplicar, para nos defender, o cálculo de probabilidades.

Trata-se da incerteza essencial a que se referia Keynes: o que será da
Eurolândia daqui a cinco anos? É a incerteza produzida pelo fato de que o
passado não tem qualquer informação sobre o futuro.

É bom que entendamos que só o investimento público pode superá-la. E a
forma mais eficiente de fazê-lo é cooptar o "espírito animal" dos
empresários, dando-lhes a expectativa de taxas de retorno adequadas,
garantia dos contratos e uma regulação inteligente.

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