domingo, 18 de dezembro de 2016

Um projeto de unidade nacional deve superar divisões ideológicas


por J. Carlos de Assis

Não gosto da expressão “coxinha”. Aliás, nunca entendi direito o que significa. Se é uma metáfora mais ou menos literal da anatomia humana, coxinha evoca algo bastante interessante, ou seja, as coxas bem torneadas e expostas de uma jovem mulher. É um mistério porque, na política brasileira recente, passou a significar pessoas, sobretudo jovens, que estavam a favor do impeachment de Dilma. E ficar a favor do impeachment de Dilma assumiu uma conotação pejorativa, curiosamente sem muita relação com a política.
Uma das prioridades que temos hoje no Brasil é juntar as pessoas honestas e de boa vontade num grande projeto de regeneração nacional, expulsando do templo do Planalto os vendilhões que nele se assentaram. Tenho certeza de que, curadas as feridas do embate do impeachment, milhares, na verdade milhões de coxinhas tem o mesmo objetivo. É possível que tenham errado na questão do impeachment, mas não sem razão. O tema estava dominado pela mídia canalha e dificultava um julgamento criterioso, sobretudo por jovens.
E não me venham dizer, inclusive meus camaradas de esquerda, que não foram enganados, também eles, pela manipulação midiática. Nos dois governos do PT fui, junto com o senador Requião e poucos outros, um crítico implacável da política econômica, embora ressalvando a política social. O problema é que, salvo circunstâncias episódicas como um surto de importação de commodities pela China, nenhuma política social se sustenta por muito tempo sem a âncora de uma política econômica progressista.
Temos sido tratados como escravos da banca durante todos os governos, desde a ditadura. Nos governos do PT não foi diferente. E não foi por isso que Dilma sofreu o impeachment. Foi por um motivo torpe, um crime de responsabilidade inventado por seus detratores, a maioria corrupta na relação com o poder, o que ela rejeitava. O povo, e nele os coxinhas, não podiam escapar da manipulação de uma mídia uníssona que decidiu colocar Dilma para fora na esperança de aumentar o controle da banca sobre a presidência.
Não superaremos a profunda crise em que nos encontramos sem algum grau de unidade nacional. O primeiro passo é uma aproximação da esquerda com os chamados coxinhas, expressando ambos uma completa e cabal rejeição da corrupção, e uma rejeição não menos decidida do domínio quase absoluto que a mídia controlada pela banca tenta estabelecer sobre todos nós. A busca de um projeto nacional passa necessariamente pela unidade nacional de propósitos, não necessariamente pela unidade de ideologias.
O fato é que, na diversidade do mundo, cada um tem sua visão própria. A unidade deve ser estabelecida, sim, mas quanto ao objeto. Nesse campo, não há diferença entre esquerda e o que chamam de coxinha, desde que essa expressão não esconda uma visão egoísta e discriminatória da política. Se esquerda for a busca da justiça social, sou esquerdista. Se coxinha for ser contra a corrupção, pedindo uma administração pública honesta e competente, incluo-me com muito grado entre os coxinhas. Precisamos de todos para derrubar pacificamente o regime corrupto que está aí, totalmente a serviço da banca.

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