segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A prisão do Vice-almirante Othon e a soberania energética do Brasil



José Álvaro de Lima Cardoso*.

        Quando em 2014 a pancadaria sobre a Petrobrás se intensificou, a partir do início da operação Lava Jato, acendeu-se um “sinal amarelo”. Os inimigos da empresa, a partir de denúncias de corrupção, vendiam a ideia que a Petrobrás não passava de um legítimo antro de corrupção e ineficiência. No entanto, após uma pesquisa básica sobre os indicadores da empresa, disponíveis na Internet, podia-se constatar que, naquele momento a Petrobrás, sozinha, respondia por mais de 10% de todo o investimento feito no Brasil, e que era responsável pelo maior plano de investimento em curso no século XXI, feito por uma única corporação (U$ 200 bilhões a serem investidos em produção e exploração entre 2014 e 2018). Os dados do pré-sal, por outro lado, se superavam a cada mês que passava, chegando até o estágio atual em que o pré-sal já corresponde a mais de 50% da produção brasileira. Isso explicava em boa parte os violentos e ininterruptos ataques à Petrobrás.
        Conforme registramos em alguns artigos naquele período, os ataques à Petrobras tinham vários objetivos: provocavam uma crise política para desestabilizar o governo Dilma, depreciavam a empresa em benefício das concorrentes e, principalmente, sabotavam o projeto de desenvolvimento nacional que ela e o pré-sal representavam. Já ficava evidente, então, que os ataques à empresa não eram para localizar e punir os corruptos, mas visavam essencialmente triturar a imagem da Petrobrás e construir as condições para, de algum jeito “meterem a mão” na maior jazida de petróleo descoberta neste milênio.
       As tentativas de liquidar a companhia e o seu entorno de empresas de engenharia, desde o início da Lava Jato, caracterizam um crime de lesa-pátria. A retirada da empresa da condição de operadora única do pré-sal, lei sancionada no dia 29.11.16, pelo moribundo que atualmente ocupa a presidência da República, tem o evidente objetivo de destruir a Petrobrás enquanto empresa pública e entregar o pré-sal às multinacionais. Esta lei, é fundamental lembrar, é cópia de projeto de José Serra que, em 2010, prometeu à Chevron acabar com a Lei de Partilha, conforme denunciado pelo site Wikileaks. O certo é que desde o início do processo o alvo obsessivo da Lava Jato foi a Petrobrás e as empresas nacionais de infraestrutura que compunham, de alguma forma, um projeto nacional de desenvolvimento que, com imperfeições, se configurava no país.
        Consumada a etapa inicial do golpe (o pior está por vir), estão fatiando a Petrobrás, na surdina e sem consultar o seu dono, o povo brasileiro. A intenção da direção é transformar a empresa numa produtora de óleo cru, com expressão menor na economia brasileira. Este processo de desmonte está andando celeremente, até porque não se sabe quanto tempo esse governo irá durar. O desmonte da Petrobrás não ocorre por uma questão de “burrice”. Ele é cirúrgico e tem o objetivo de liquidar com o que a empresa tem de melhor, sua integração “do poço ao posto”. Estão vendendo a preço de banana, os setores que geram caixa e valor agregado para a empresa. Petroquímica, o transporte e a distribuição de gás e de combustíveis, estão sendo fatiados e a empresa está ficando com a produção de óleo cru. A opção dos entreguistas é tão absurda, que os compradores dos ativos praticamente doados pela empresa têm sido estatais de outros países, como no caso do poço de Carcará, que foi adquirido pela Statoil, estatal da Noruega.
        Um golpe de Estado, mesmo os “modernos”, desferidos via parlamento com o apoio da mídia e do judiciário, necessariamente têm que se basear em mentiras. Especialmente quando desferido contra o povo e contra a soberania do país. À medida que o quebra-cabeças vai sendo montado e as informações vão surgindo, fica claro que um dos alvos do golpe foi a tentativa do Brasil de forjar sua soberania energética, pré-requisito para o desenvolvimento econômico- social. Entre as razões do envolvimento estrangeiro no golpe, como se sabe, está o interesse na ampliação do acesso às matérias primas existentes no Brasil. E apesar do interesse nas reservas do pré-sal ser central, não se trata apenas de petróleo. Água, minerais em geral e toda a biodiversidade da Amazônia, estão em jogo. Por isso também, é uma investida sobre toda a América do Sul, visto que algumas questões, como o acesso ao Aquífero Quarani, não se resolvem no âmbito de um só país.
        Já está relativamente bem documentado a relação de Sérgio Moro com instituições dos EUA. Fez cursos no Departamento de Estado, dos EUA, em 2007. No ano seguinte fez um programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard. Em 2009 participou da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida pela Embaixada dos Estados Unidos. Foi treinado, segundo o historiador Moniz Bandeira, em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação pelos estadunidenses. Inclusive em demonstrações reais, segundo Moniz Bandeira, de como preparar testemunhas para delação. Sérgio Moro, ademais, e o procurador-geral da República Rodrigo Janot atuam em parceria com órgãos dos Estados Unidos contra as empresas brasileiras. Sem o menor pudor. O blog GGN revelou que Sergio Moro recentemente autorizou o compartilhamento da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, com investigadores de Londres em processo contra a Petrobrás. Segundo o Blog a medida judicial foi viabilizada pelo vazamento de informações sigilosas por parte da força-tarefa da Lava Jato à imprensa, e pela posterior autenticação, por Sérgio Moro, do levantamento ilegal dos dados.
      Todavia, um dos acontecimentos mais intrigantes foi a prisão do Vice-almirante e Engenheiro Othon Luiz Pinheiro da Silva, em agosto deste ano, principal responsável pelas maiores conquistas históricas na área de tecnológica nuclear no Brasil. Segundo os especialistas da área, o militar concebeu o programa do submarino nuclear brasileiro e foi o principal responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria, no mundo. O militar, que recebeu todas as honrarias possíveis das Forças Armadas Brasileiras, para os especialistas no setor, é considerado um patriota e um herói brasileiro. Para o judiciário entreguista, é um corrupto. A história vai nos esclarecer, como de resto irá iluminar muitos fatos, em que neste momento que a história se movimenta à galope, estão obscuros. Mas o fato concreto é que a hipótese de corrupção não combina com a destacada biografia do Almirante Othon em prol da soberania energética do Brasil.
        Para entender o caso do Almirante é fundamental considerar que a Lava Jato utiliza a seu favor, dentre outras coisas, a desconstrução, via meios de comunicação, da reputação dos seus acusados. Isso ocorreu com inúmeros casos desde o início da Operação. Dentre outras coisas, os membros envolvidos com a Operação Lava Jato são acusados pelas defesas dos réus, de usarem armas variadas tipo acusações frívolas, plantação permanente de informações negativas na mídia, desmoralização, acusação ou insinuação de que o acusado é imoral, etc. A estratégia principal é: descontruída até o limite a imagem do acusado, a população passa a apoiar a prisão, mesmo que inadequada e passando por cima de direitos constitucionais básicos, como a presunção de inocência. No caso do Brasil a situação é ainda mais séria porque esse tipo de comportamento tem o apoio do Judiciário, em todos os seus níveis.
       As evidencias são fortes que o Brasil, com a liderança e experiência do Vice-almirante, vinha desenvolvendo um programa nuclear muito bem sucedido com tecnologia de ponta, e isso incomodou o Império do Norte, que não admite que outros países dominem esse tipo de tecnologia. Segundo o jornalista José Carlos de Assis, os estadunidenses tentaram interferir, saber de detalhes, e o Brasil se recusou a passar informações sobre a tecnologia utilizada. Há fortes e crescentes indicações que o referido programa foi objeto de espionagem por parte dos norte-americanos, que esperaram a melhor hora para inviabilizar a continuidade do programa nuclear brasileiro. Quanto mais o golpe avança mais fica evidente que, além do aspecto de apropriação das riquezas naturais do Brasil, ele tem um forte componente geopolítico, de impedir que o país se torne uma potência regional, com tecnologia, indústria desenvolvida, mercado consumidor amplo e soberania energética. Fatiar a Petrobrás, inviabilizar o programa nuclear brasileiro, torpedear dezenas de outras iniciativas, são momentos chaves deste script terrivelmente perverso e doloroso.
                                                                                                     *Economista.

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