*José
Álvaro de Lima Cardoso.
Nesta altura dos acontecimentos até as
pedras sabem que o interesse imperialista nas matérias primas do Brasil
(petróleo, minerais, água, biodiversidade da Amazônia) foi um dos carros-chefe
do golpe. No entanto, além do interesse econômico imediato – nas matérias-primas
e na eliminação de direitos e redução de salários - o golpe tem decisivo componente
geopolítico, com cada vez maiores evidências do envolvimento direto das forças
de inteligência norte-americanas (CIA, FBI, NSA). Está cada vez melhor
documento, por exemplo, o envolvimento da equipe da Lava Jato com estratégias
montadas em instituições de inteligência dos EUA.
Ao contrário de 1964, quando a censura
e a repressão impediam a circulação de informações, neste golpe, apesar da
democracia ter sido restringida, está sendo possível denunciar suas entranhas
enquanto ele se desenrola (apesar da blindagem da mídia). Sabemos, por exemplo,
da relação de Sérgio Moro com a comunidade de informações dos EUA. Moro fez
cursos no Departamento de Estado, dos EUA, em 2007. No ano seguinte fez um
programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard. Em 2009 participou
da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida pela
Embaixada dos Estados Unidos. Foi treinado, segundo o historiador Moniz
Bandeira, em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação pelos
estadunidenses. Inclusive em demonstrações reais, segundo o historiador Moniz
Bandeira, de como preparar testemunhas para delação.
Tivemos a informação também, ainda
antes do impeachment, que Sérgio Moro, e o procurador-geral da República
Rodrigo Janot, atuam em parceria com órgãos dos Estados Unidos contra empresas
brasileiras. E que Sergio Moro recentemente autorizou o compartilhamento da
delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, com investigadores
de Londres em processo contra a Petrobrás. Segundo informações divulgadas na
imprensa, Sergio Moro tem autorizados conversas feitas diretamente com cada
delator da Lava Jato e o Departamento de Justiça dos EUA, sem passar pelo
Estado brasileiro, como prevê a lei. Ou
seja, os responsáveis pela operação Lava Jato permitem o acesso a órgãos do
Estado norte-americano, a informações sigilosas, que são utilizadas para atacar
e processar judicialmente a Petrobrás e outras empresas brasileiras. Como
podemos nominar esse tipo de atitude? Como podemos chamar também a prisão do
Vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, principal
responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de
combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria, no mundo?
Não foi por acaso que na preparação do
golpe, nos últimos anos, foi estimulado no povo brasileiro o complexo de
vira-latas e se depreciou de forma sistemática tudo que poderia significar
orgulho pelo País ou amor pela pátria. A campanha foi tão eficiente que idiotas
saíram nas manifestações pró impeachment vestidos com as cores ou enrolados na
bandeira dos EUA. Somente um processo sofisticado de manipulação da população poderia
possibilitar o apoio a uma operação entreguista como a Lava Jato, pensada para
quebrar a Petrobrás e o seu entorno, que gerou R$ 140 bilhões em prejuízo para
a economia, provocando a demissão de milhares de trabalhadores, liquidando com dezenas
de projetos na área de energia, indústria naval, infraestrutura e defesa.
Recentemente, membros do Ministério Público Federal vieram a público para
colocar sob suspeição o programa de construção de 36 caças estratégicos com a
Suécia, colocando em dúvida a lisura de um ex-presidente da República e dos
militares que participaram do negócio.
O
golpe e o entreguismo estão só no começo. No apagar das luzes de 2016, o
presidente golpista determinou à Comissão Aeronáutica Brasileira na Europa
(CABE) a contratação, com urgência, de serviços de sensoriamento remoto por
satélite. O custo de importação do equipamento está estimado em cerca de R$ 300
milhões. Segundo informações da imprensa, os membros da CABE estranharam a
ordem, visto que este tipo de serviço para as Forças Armadas, só pode ser
realizado por empresas nacionais ou constituídas sob as leis brasileiras, com
sede e administração no País. Salvo raras exceções.
A ordem, que partiu da Casa Civil, tem
graves implicações também no campo da soberania e segurança nacional. Segundo informações, a divisão de licitações
e contratos da Aeronáutica classificou como ilegal a determinação, visto que
esse tipo de fornecimento tem que ser feito por empresas brasileiras, inscritas
no Ministério da Defesa. Os oficiais da Força Aérea, segundo os jornais, estão
intrigados com o pedido da Presidência da República, que está se metendo
diretamente nesse tipo de assunto, e atropelando regras que, dentre outras
coisas, exigem a presença de empresas nacionais no processo. O que pode explicar essa entrega
voluntária da vigilância do território brasileiro a empresas estrangeiras,
senão entreguismo e subserviência? O que representa, do ponto de vista da
segurança e soberania, buscar apoios em outros países, se empresas nacionais sabidamente
têm condições de fornecer com excelência esse tipo de serviço? É que este não é
um golpe qualquer. A agressão imperialista que o Brasil está sofrendo pode se
comparar às guerras contra o Iraque e a Líbia, as técnicas de desestabilização
utilizadas, são semelhantes.
*Economista.
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