SEX, 04/03/2016 - 00:01
ATUALIZADO EM 04/03/2016 - 14:52
Luis Nassif
Atualizado às 7:45
Vamos ao nosso jogo de xadrez sobre o terremoto político de ontem, com a
notícia sobre a suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral.
Peça 1 - a delação premiada de Delcídio do Amaral
provavelmente é verdadeira.
Há um conjunto de indícios nessa direção.
O primeiro, a existência de um documento organizado com anexos e tudo,
que se pode conferir nas imagens divulgadas. Não se trata nem de rascunho, nem
de check-list.
Segundo, o fato do próprio Procurador Geral da República Rodrigo Janot
ter deixado entrever, dias atrás, a existência de uma delação bomba, detalhada,
que estaria em mãos de Teori Zavaski.
Também, o fato de nem Janot nem Delcídio terem desmentido a existência
da delação. Janot limitou-se a desconversar e Delcídio a afirmar que não podia
garantir a origem e a autenticidade dos documentos mencionados na reportagem.
Finalmente, o fato do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo ter
batido direto em Delcídio. Poderia limitar-se a rebater as denúncias. Mas a
troco de quê bater em Delcídio se não houvesse segurança sobre a existência da
delação?
Peça 2 - os focos de vazamento.
A estratégia dos vazadores consiste em agir quando as informações
sigilosas estão em mais de um local. No caso, quem teria acesso à delação
seriam fontes da PGR ou do STF (Supremo Tribunal Federal). Não passa pelo
escoadouro da Lava Jato.
Por outro lado, o vazamento foi através de uma revista estreitamente
ligada à Aécio Neves, mas por uma repórter próxima ao Ministro Cardozo.
Nesse eixo, cabe tudo: vazadores a serviço da oposição ou do governo.
Peça 3 - os interesses em jogo.
Aí, cabem várias hipóteses aventadas durante o dia.
Hipótese 1 - alguém interessado em aumentar o fogo do
impeachment que atingirá seu auge nas próximas semanas com a ofensiva sobre
Lula e as manifestações do dia 13. Essa hipótese justificaria o fato da
reportagem não se referir a nenhum grão-duque do Congresso. Boa probabilidade.
Hipótese 2 – o receio de algum recuo de Delcídio. O
vazamento seria a a maneira de não desperdiçar o conteúdo da delação original.
Como há um conjunto muito grande de inconsistências, haveria o receio de que
fosse podada, quando analisada pelo Ministro Teori Zavascki. Boa probabilidade.
Hipótese 3 - na direção oposta, a desmoralização
antecipada da delação, realçando os aspectos mais vulneráveis, para anular seu
impacto posterior, caso fosse endossada pelo STF. É impossível que, em mais de
400 páginas de delação, aliás, a revista ter destacado aspectos tão
inconsistentes da delação. Provavelmente focou apenas nos trechos que se
referiam a Lula e Dilma. Média probabilidade.
Hipótese 4 – seria uma maneira do PGR pressionar o
Ministro Teori a endossar a delação. Baixa probabilidade.
As consequências
O vazamento nublou o impacto da aceitação da denúncia contra Eduardo
Cunha pelo STF. Mas a ofensiva pelo impeachment jogará todas suas fichas nas
próximas semanas com o ativismo político de sempre da Lava Jato.
De qualquer modo, o foco central do impeachment reside na fragilidade
demonstrada até agora pelo governo Dilma, pela dificuldade de concatenar
uma pauta nacional mínima.
E a fraqueza maior da campanha do impeachment está na incapacidade da
oposição de apresentar um rascunho de projeto de país. O grupo central
pró-impeachment – Gilmar Mendes, Aécio Neves, José Serra, Michel Temer – não
consegue passar a ideia de espírito público e de brasilidade.
Por LN, às 07:45
A operação deflagrada agora de manhã, visando levar Lula coercitivamente
para depor, resolve o enigma. O vazamento foi preparação para ela.
Explica também a saída do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. E
pode esclarecer, também, a conduta da Procuradoria Geral da República: o
depoimento de Delcídio estava com ela.
Explicaria também o fato do relatório sair em uma revista alinhada com
Aécio, por uma repórter próxima a Cardozo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário