Dilma Rousseff, na Folha
O ano de 2015 chegou ao final e a virada do calendário nos faz
reavaliar expectativas e planejar novas etapas e desafios. Assim, como
sempre, nos traz a necessidade de refletir sobre erros e acertos de
nossas decisões e atitudes.
Este 2015 foi um ano muito duro. Revendo minhas responsabilidades
nesse ambiente de dificuldades, vejo que nossos erros e acertos devem
ser tratados com humildade e perspectiva histórica.
Foi um ano no qual a necessária revisão da estratégia econômica
do país coincidiu com fatores internacionais que reduziram nossa
atividade produtiva: queda vertiginosa do valor de nossos principais
produtos de exportação, desaceleração de economias estratégicas para o
Brasil e a adaptação a um novo patamar cambial, com suas evidentes
pressões inflacionárias.
Tivemos também a instabilidade política que se aprofundou por uma
conduta muitas vezes imatura de setores da oposição que não aceitaram o
resultado das urnas e tentaram legitimar sua atitude pelas dificuldades
enfrentadas pelo país.
Mais do que fazer um balanço do que se passou, quero falar aqui
da minha confiança no nosso futuro e reafirmar minha crença no Brasil e
na força do povo brasileiro. Estou convicta da nossa capacidade de
chegarmos ao fim de 2016 melhores do que indicam as previsões atuais.
A principal característica das crises econômicas do Brasil, desde
os anos 1950, é uma combinação entre crise externa e crise fiscal. As
economias emergentes sempre foram pressionadas pela combinação de
deficit e dívida externa, com desarranjos fiscais do Estado.
A realidade brasileira hoje é outra. A solidez da nossa economia é
a base da retomada do crescimento. Temos uma posição sólida nas
reservas internacionais, que se encontram em torno de US$ 368 bilhões, a
sexta maior do mundo.
O deficit em transações correntes terá recuado no final do ano de
cerca de 4,3% para 3,5% do PIB, comparativamente a 2014. O investimento
direto estrangeiro na casa de US$ 66 bilhões demonstra a confiança dos
investidores no nosso país.
Em 2016, com o apoio do Congresso, persistiremos pelos
necessários ajustes orçamentários, vitais para o equilíbrio fiscal. Em
diálogo com os trabalhadores e empresários, construiremos uma proposta
de reforma previdenciária, medida essencial para a sobrevivência
estrutural desse sistema que protege dezenas de milhões de
trabalhadores.
É claro que os direitos adquiridos serão preservados, e devem ser
respeitadas as expectativas de quem está no mercado de trabalho, mas de
forma efetivamente sustentável.
Convocarei o Conselho de Desenvolvimento Social, formado por
trabalhadores, empresários e ministros, para discutir propostas de
reformas para o nosso sistema produtivo, especialmente no aspecto
tributário, a fim de construirmos um Brasil mais eficiente e competitivo
no mercado internacional.
Não basta apenas a modernização do nosso parque industrial, é
fundamental continuarmos investindo em educação, formação tecnológica e
científica.
Precisamos também respeitar e dialogar com os anseios populares,
desenvolvendo uma estrutura de poder mais próxima da sociedade,
instituições fortes no combate à corrupção, oferta de serviços públicos
de qualidade e ampliação dos instrumentos de participação e controle da
sociedade civil.
As diferentes operações anticorrupção tornaram as instituições
públicas mais robustas e protegidas. Devem continuar assegurando o amplo
direito de defesa e punindo os responsáveis, sem destruir empregos e
empresas.
Reafirmo minha determinação pela reforma administrativa que
iniciei. Quero um governo que gaste bem os recursos públicos, que seja
racional nos processos de trabalho e eficiente no atendimento às
demandas da sociedade.
O governo está fazendo sua parte. Executamos um duro plano de
contenção de gastos, economizando mais de R$ 108 bilhões em 2015 -o
maior contingenciamento já realizado no país. Para 2016, firmamos o
compromisso de produzir um superavit primário de 0,5% do PIB. Fizemos e
faremos esse esforço sem transferir a conta para os que mais precisam.
Sei que as famílias brasileiras se preocupam com a inflação.
Enfrentá-la é nossa prioridade. Ela cairá em 2016, como demonstram as
expectativas dos próprios agentes econômicos.
O governo manteve, no ano de 2015, os investimentos que
realizamos para melhorar a vida dos brasileiros. Por exemplo, foram
cerca de 389 mil moradias entregues e mais de 402 mil contratadas no
Minha Casa, Minha Vida. Quase 14 milhões de famílias receberam o Bolsa
Família.
Oferecemos 906 mil novas vagas em universidades públicas e
privadas e 1,3 milhão no Pronatec. Entregamos 808 km de rodovias, tanto
por meio de obras públicas como pelas concessões privadas. Autorizamos
dez terminais portuários privados, concedemos e modernizamos aeroportos.
Ampliamos a oferta de energia em 5.070 MW.
É hora de viabilizar o crescimento. O plano de concessões em
infraestrutura já é uma realidade. Os leilões de portos, aeroportos,
rodovias e ferrovias vão impulsionar a nossa economia e contribuirão
para a geração de empregos. Não vamos parar por aí.
É importante ressaltar que em 2015 as instituições da nossa
democracia foram exigidas como nunca e responderam às suas
responsabilidades, preservando a estabilidade institucional do Brasil.
Todos esses sinais me dão a certeza de que teremos um 2016
melhor. Mesmo injustamente questionada pela tentativa de impeachment,
não alimento mágoas nem rancores. O governo fará de 2016 um ano de
diálogo com todos os que desejam construir uma realidade melhor.
O Brasil é maior do que os interesses individuais e de grupos.
Por isso, quero me empenhar para o que é essencial: um Brasil forte para
todo o povo brasileiro.
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