José
Álvaro de Lima Cardoso*
Conforme
importantes especialistas vêm defendendo, a crise mundial do petróleo, que
levou o preço de mercado da Petrobrás ao nível do chão, recupera o importante
debate sobre a necessidade do governo utilizar recursos públicos para
capitalização da companhia. Vender ativos, cortar custos e interromper
investimentos, neste momento em que existe uma super oferta destes ativos no
mundo, com preços no fundo do poço, é péssima saída. Os problemas que a
Petrobrás enfrenta neste momento - decorrência da combinação de crise mundial e
efeitos da Lava-Jato - não são apenas da empresa, mas também do governo
brasileiro. Trata-se da companhia que viabilizou a saída do Brasil de uma
condição de dependência absoluta no campo energético em 2002, para uma de
autossuficiência para todo o século XXI em função das descobertas do pré-sal.
O
governo tem que estudar inclusive a possibilidade de utilizar parte das US$ 370
bilhões de reservas cambiais para capitalizar a empresa. Porque não deveria? A
guerra do petróleo é jogo pesado. Trata-se de viabilizar, neste momento
difícil, o fluxo de caixa da maior produtora de
petróleo do mundo, entre as companhias de capital aberto, e que responde
por 10% de todo o investimento em formação bruta de capital do país.
Especialmente porque a dívida atual da empresa se deve, fundamentalmente, aos
grandes investimentos que em determinado momento, a colocaram na condição de
maior investidora do mundo. Em 2008, em função da crise do crédito, das
hipotecas de alto risco (subprime), dezenas de bancos dos Estados Unidos e da
Europa foram socorridos pelos governos. O plano de auxílio ao sistema
financeiro do governo Bush, era superior à bagatela de US$ 2,6 trilhões.
Porque
não capitalizar uma companhia (com uma fração das reservas cambiais) que é a
zeladora da exploração correta do pré-sal, nosso passaporte para o
desenvolvimento? O pré-sal é uma das poucos reservas que consegue ser
competitiva mesmo com o barril abaixo de US$ 30 dólares, por trabalhar com um
dos menores custos de produção do mundo (US$ 8). Segundo estudiosos do setor de
petróleo no Brasil, a estatal tem estoque de campos de petróleo em atividade,
nos quais os investimentos já foram amortizados. Isso possibilita que a Petrobrás
continue produzindo com o preço no patamar atual. Quantas empresas no mundo
podem contar com esse tipo de vantagem?
Claro
que quando acabar o estoque nos poços onde os investimentos já estão
amortizados, a empresa terá que se adequar aos custos de extração compatíveis
com o preço do barril. Mas aí o cenário mundial tende a ser outro. Além da
empresa continuar investindo em tecnologias mais sofisticadas, que permitirão
continuar reduzindo custos de extração, a conjuntura do petróleo já terá
mudado. A Arábia Saudita não vai manter sua estratégia de bombear petróleo
mesmo com o baixo crescimento mundial, porque essa ação tem limites. No país o
petróleo responde por 85% das exportações e metade do PIB. Nos últimos dois
anos a receita do petróleo caiu 88%, causando um déficit orçamentário de US$ 39
bilhões, o maior de sua história.
Apesar
das incansáveis tentativas, a Petrobrás não vai morrer, porque dispõe de quadro
técnico extremamente competente e detém a melhor tecnologia em águas profundas
e ultra profundas do mundo, desenvolvida contra tudo e contra todos. Mas a
gravidade da crise requer força e energia. Descartar ativos estratégicos e
rentáveis, de forma pusilânime, para tentar dar explicações para entreguistas e
puxa sacos de multinacionais do petróleo, não vai resolver. O que pode resolver
é, utilizando informação estratégica e tendo compromisso com o Brasil e com o
seu povo, sair da letargia.
Economista
e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina.
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