quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Lula: 'Eu não venderia os ativos da Petrobras'

Tatiana Carlotti, na Carta Maior

Em encontro com blogueiros na manhã desta quarta-feira (20.01), o ex-presidente Lula reafirmou sua disposição à luta e comentou questões como economia, eleições, polarização social, o PT e as investigações da Lava Jato. Ele destacou, também, a grande importância da Petrobras para o país, afirmando que não venderia os ativos da estatal brasileira.

Ao chegar no governo, contou o ex-presidente, o volume de investimentos na estatal era de apenas US$ 3 bilhões ao ano; quando passou a faixa presidencial, a soma chegava a US$ 30 bilhões. “São dez vezes mais”. Ao lembrar que a estatal atingiu a autossuficiência durante a sua gestão, Lula comentou os investimentos realizados na indústria naval brasileira que levaram ao aumento do emprego no setor (2 mil trabalhadores para 86 mil) e o fortalecimento da expertise tecnológica.

“Há 30 anos, não se construía uma nova refinaria no país”, destacou. Ele lembrou que quando resolveram construir plataformas aqui, muitos questionavam sobre os custos, “mas quanto vai gerar de investimento em tecnologia, engenharia, salário? Quero que o Brasil seja um dos países com expertise em construir isso”. Uma expertise, aponta, comprovada pelo baixo custo de produção do barril do pré-sal, hoje a US$ 8,00, enquanto o “petróleo milagroso do xisto norte-americano" encontra-se a US$ 45,00.

“Chegará o momento em que o presidente da Petrobras será o eleito e ele indicará o presidente da República”, brincou Lula. O ex-presidente também comentou a lei da partilha, instituída durante o seu governo, que fez com que o petróleo fosse um patrimônio do país. Muitos não gostaram disso, afirmou ao citar o projeto do senador José Serra (PSDB) que tenta reverter o processo de partilha.

Questionado sobre a venda de ativos da estatal pelo governo Dilma, o ex-presidente afirmou: “eu, sinceramente, não venderia. Se o governo entendeu que essa era a saída, paciência. Eu não faria”. Lula lembrou, também, do dia em que anunciou, na Bolsa de Valores de São Paulo, “o maior processo de capitalização da história do capitalismo”: um total de US$ 70 bilhões, que tornaram a estatal a quarta do mundo em valor de mercado.

“Nós não podemos abrir mão do que é estratégico para o país”, avaliou, citando os exemplos da França e Alemanha: “aquilo que é estratégico está nas mãos deles. Não abrem mão não”.

Selic não tem que subir


A crise econômica e o ajuste fiscal também foram pauta da entrevista do ex-presidente. “Se em algum momento acreditou-se que fazendo discurso para o mercado, nós íamos melhorar, nós percebemos que não ganhamos nenhuma pessoa do mercado. Nem o Levy virou governo. Não ganhamos ninguém e perdemos a nossa gente”.

Segundo o ex-presidente, “não há nenhuma necessidade de aumentar a taxa de juros Selic neste momento”. Em sua avaliação é preciso fazer o país voltar a crescer: “só vai aumentar orçamento quando a economia voltar a crescer. É política pública pura, de fortalecimento do crédito para o consumo e para o crescimento. Se o mercado interno não cresce, os empresários não vão investir. O governo está com a bola e precisa dizer qual o ritmo do jogo”.

Lula também afirmou que a presidenta precisa ter como uma “obsessão” a retomada do crescimento, a geração de emprego e a redução da inflação. “Não é uma decisão econômica, mas política, porque você tem que escolher o que fazer”. O ex-presidente também destacou o “extraordinário” mercado interno do país. O que precisamos é de “uma política de financiamento mais forte e mais investimento em infraestrutura para a roda começar a girar e o governo ter capacidade de arrecadar e investir mais”.


Eles não vão destruir esse projeto


Em relação à disputa política, Lula garantiu que fará mais política e que vai participar ativamente do processo eleitoral. “Vou fazer o que precisa ser feito para que ninguém destrua o projeto de inclusão social iniciado em janeiro de 2003. Eles não vão destruir esse projeto”. O ex-presidente também comentou a tentativa “explícita” de golpe no país: “a gente não brinca com a democracia. Todas as vezes que brincamos, houve um golpe no país. Tenta-se destruir a democracia, negando-se a política”.

Convicto a processar jornalistas que levantarem falsas acusações contra sua pessoa - “daqui para frente, vou processar todo mundo” – ele citou a campanha difamatória contra seu filho, Fábio, “uma grande violência”. “Viraram corporação, ninguém assume a culpa. Lamentavelmente, o processo tem de ser em cima do jornalista”. Disse ainda admitir que os jornais publiquem o que quiserem em seus editoriais, “a única coisa que não admito é mentira na informação”.

Sobre o processo de criminalização do PT, em curso no país, Lula questionou: “O que seria desse país sem o PT?”, passando o recado aos que afirmam que o partido acabou. “O PT é formado por milhões de pessoas”. Sem deixar de mencionar os erros cometidos por membros do partido, afirmou que o “PT aprendeu a lição”. Também apontou que embora o prestígio da legenda tenha caído, o prestígio dos outros partidos também sofreu queda. Em sua visão, “o PT tem que reagir fazendo o embate político para convencer a sociedade”.

Segundo o ex-presidente, o que predomina hoje no país é a tese do “não importa o que vai ser dito pelo juiz, mas pela imprensa. Vamos fazer a execração pública das pessoas. Mesmo que a Justiça absolva, elas já estão sendo condenadas”. Lula avaliou, ainda, que as investigações em curso no país só existem porque o governo criou todas as condições para que nada fosse jogado debaixo do tapete. “Isso foi feito para permitir que neste país todos saibam que tem de andar linha”.

Sobre as falsas acusações levantadas contra ele, foi categórico: “Eu duvido que neste país tenha um promotor, um delegado, um empresário – amigo ou não – que tenha coragem de afirmar que eu tenha me envolvido com qualquer coisa ilícita neste país”.

Lula também registrou que o juiz Moro já afirmou que ele não está sendo investigado. “Não há nenhuma Ação Penal contra mim e nenhuma possibilidade disso, a não ser que seja uma violência contra tudo o que se conhece nesse país”, complementou, avaliando que neste momento, nem habeas corpus as pessoas estão conseguindo: “está muito pior que na ditadura militar”.


“Em três anos dá para fazer muita coisa”


Ao ressaltar o recente reajuste de 11% dado ao salário mínimo, o aumento para os aposentados e o reajuste do piso dos professores, o ex-presidente lembrou que na imprensa notícias como são expressas como se a presidenta estivesse dando um aumento que não tem condições de dar. “O povo brasileiro precisa repudiar todas as pessoas que trabalham para atrapalhar o emprego no Brasil: “elas não estão prejudicando o governo ou a presidenta, mas o país. Quem sofre na pele é o povo mais necessitado”, ponderou.

Lula afirmou que a presidenta Dilma não pode permitir que uma pauta negativa paralise o governo. E se disse “convicto” que ela será ousada daqui para frente. “Faltam 3 anos, um ano foi consumido. Em 3 anos dá para fazer muita coisa”.

Por fim, questionado sobre uma possível candidatura em 2018, avaliou que a decisão dependerá do que acontecer no país: “O importante não é discutir candidatura, mas o fortalecimento do projeto. Se eu tiver com saúde na época e for o único capaz de evitar que as conquistas do povo brasileiro sejam tiradas e o processo de inclusão seja desmontado, eu estarei no jogo. E se tiver outra [pessoa], eu estarei também, fazendo a campanha”.



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