Sensor publica artigo de Mauro Santayama, transcrito no seu blog
Em pleno processo de impeachment, e de julgamento no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), das ações envolvendo a chapa vitoriosa nas
últimas eleições, a situação da República tem sido marcada pela
espetacularização de um permanente “pega para capar” jurídico-policial, a
ascensão da “antipolítica”, o aprofundamento da radicalização e a
fascistização do país.
Políticos e
empresários têm sido presos – muitos por ilações frágeis ou exagerado
rigor cautelar –, enquanto outros homens públicos e bandidos e delatores
premiados apanhados com milhões de dólares na Suíça circulam livremente
ou estão em prisão domiciliar.
Milhares de
brasileiros acreditam piamente que o Brasil é um país quebrado e
destruído, quando temos as sextas maiores reservas internacionais do
mundo e somos o terceiro maior credor individual externo dos Estados
Unidos.
Que um perigoso
“bolivarianismo” pretende implementar uma ditadura de esquerda na
América Latina, quando, seguindo os ritos democráticos normais, e sob
amplo acompanhamento de observadores internacionais, a oposição liberal
acaba de ganhar, pelo voto, as eleições na Venezuela e na Argentina.
Que o Brasil é um
país comunista quando pagamos juros altíssimos, e somos,
historicamente, dominados, na economia e na política, por um dos mais
poderosos sistemas financeiros do mundo, pelo agronegócio e o
latifúndio, por bancos e empresas multinacionais.
Discutindo na
mesa de pôquer da sala de jogos do Titanic, envolvidos por suas
disputas, e por uma rápida sucessão de fatos e acontecimentos, que têm
cada vez mais dificuldade em digerir e acompanhar, os homens públicos
brasileiros ainda não entenderam que a criminalização da política,
criada por eles mesmos, como parte de uma encarniçada e deletéria
disputa pelo poder, há muito extrapolou o meio político tradicional,
espalhando-se, como o diabo que escapa da garrafa, como uma peste pela
sociedade brasileira, na forma de uma profunda ojeriza, preconceito e
desqualificação do sistema político, e daqueles que disputam e detêm o
voto popular.
Se não se
convocar a razão e o bom senso, para reagir ao que está acontecendo, e
se estabelecer um patamar mínimo de normalidade político-institucional,
tudo o que restará será o confronto, o arbítrio e o caos.
Está muito enganado quem acha que o mero impedimento de Dilma Rousseff resolverá a questão.
No final da
década de 20, os judeus conservadores comemoravam, da varanda de suas
mansões, na Alemanha, o espancamento, nas ruas, de esquerdistas e
socialistas, pelos guardas de grupos paramilitares nazistas como as SS e
as SA, e se regozijavam, em seu íntimo, por eles os estarem livrando da
ameaça bolchevista.
Depois também
viram passivamente – achando que estariam resguardados por suas fortunas
– passar sob suas janelas, as filas de operários e pequenos
comerciantes judeus a caminho dos campos de concentração – até chegar a
sua vez de ocupar, como sardinhas em uma lata, o seu lugar nas câmaras
de gás.
Poucas vezes, na
história, o efeito bumerangue costuma poupar aqueles que, como
aprendizes de feiticeiro, se atrevem a cutucar o que está dentro da
caixa de Pandora.
Depois de Dilma e
do PT, seria a vez de Temer, e depois de Temer virão os outros – todos
os partidos e lideranças que tenham alguma possibilidade de alcançar o
poder, por via normal.
Parafraseando Milton Nascimento, na política brasileira “nada será como antes amanhã”.
O Brasil que se
seguirá à batalha sem quartel e sem piedade, levada a cabo pela oposição
nos últimos anos e meses tendo como fim a destruição e total
aniquilamento do PT – cujas principais vítimas não serão esse partido,
mas o Estado de Direito, o presidencialismo de coalizão, a
governabilidade e a própria Democracia – não terá a cara do Brasil do
PSDB de Serra, de Aécio, ou de FHC, mas, sim, a de Moro e a de
Bolsonaro.

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