terça-feira, 19 de janeiro de 2016

'Página 12': "Não vão privatizar a Petrobras"


Francisco Soriano, diretor da Sindipetro-RJ, deu entrevista para jornal argentino.


Deu no Jornal do Brasil.


O jornal argentino Página 12 publicou nesta terça-feira (19), entrevista com Francisco Soriano, diretor da Sindipetro-RJ. O economista observa que, apesar das crises internas e externas no Brasil, no ano passado, a Petrobras aumentou a sua produção em quase cinco por cento.
"Eles não vão ser capazes de privatizar a Petrobras ", diz Soriano, que apóia sua afirmação com números:  "Apesar da crise interna e externa, no ano passado, a produção aumentou quase 5 por cento, o equivalente a 2,1 milhões de barris por dia, e superou as previsões do planejamento da empresa, com uma excelente performance na área de pré-sal (águas ultraprofundas) ".

Em 2015 a produção aumentou quase 5 %, o equivalente a 2,1 milhões de barris por dia
Em 2015 a produção aumentou quase 5 %, o equivalente a 2,1 milhões de barris por dia
P: Os analistas dizem que a Petrobras passará por reformas. É verdade?
R: A opinião deles é pura especulação. A verdade é menos dramática. A Petrobras é uma empresa bem sucedida, mesmo após os últimos problemas, o que eles querem há muitos anos é a privatização. Mas não se pode usar a desculpa de que está quebrado, porque a cada mês está aumentando sua produção e, mais importante, foram cerca de 1 milhão de barris extraídos de poços na área do "pré-sal" (poços descobertos a partir de 2007). Isso substitui o que a mídia disse e as agências internacionais anunciaram, de que não seria possível extrair um bruto rentável tão profundamente, e que seria necessário uma tecnologia muito cara e sondas. Mas nós fizemos. O petróleo poderia estar até a mais de 5000 metros de profundidade, porque temos engenheiros e tecnologia reconhecidos em todo o mundo.
P: Pré-Sal é a joia da coroa?
R: Sim, estamos falando ao equivalente comprovado de 90 bilhões de barris de óleo e nossos engenheiros consideram esse valor de reservas "possível", podendo inclusive dobrar, triplicar, ou quem sabe até mais. Eles são muito procurados por outras empresas de países centrais onde há insuficiência de recursos, o que torna o nosso litoral uma zona econômica muito visada. Esta não é a única riqueza, estamos falando de questões geopolíticas, e quando o pré-sal foi descoberto, os Estados Unidos ordenou a volta de suas frotas para a costa do Rio de Janeiro, onde estão localizados os campos de extração.
P: Até onde chega a pressão dos EUA?
R: A Petrobras vem sofrendo  vários ataques externos através de associações dos Estados Unidos com grupos de nosso país. É uma grande engrenagem. Falamos de poderosos lobbies estrangeiros, onde os Estados Unidos e seus serviços de inteligência como o NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) faz ou tenta fazer acordos com grupos no Brasil, compostos de empresários e agentes do setor financeiro, além dos políticos interessados no impeachment da presidente Dilma.
P: A disputa da Petrobras explica o impeachment?
R: São enormes os interesses na queda de Dilma. A presidente não tinha o menor envolvimento com petróleo, até supervisionar a nova lei sobre o óleo. Isso foi depois do leilão de espionagem da NSA. Nos leilões e concessões, os EUA se sentiram prejudicados. A partir deste fato, tudo mudou.
P: Foi um escândalo tão grave, a ponto da NSA invadir a privacidade de comunicação da presidente da Petrobras? Essa informação pode ter sido usada para atacar a Petrobras? Desculpe, mas acho que essa pergunta deve ser feita.
R: O presidente Barack Obama pediu para entregar a informação de que a NSA foi roubado, fato nunca antes contestado e bastante raro. O caso se agravou depois que Dilma recusou um convite de Obama para visitar seu país, no final de 2013.
P: O Ponto central é a lei do petróleo?
R: As empresas internacionais perderam toda a esperança depois que o governo sinalizou que não voltaria atrás com relação a lei do petróleo. Haverá muitas críticas a presidente, mas eu acho que ela não vai ceder para retornar a lei submissa de Fernando Henrique. No governo de FHC, aconteceram várias situações para se impor o sistema de concessões solicitadas pelas multinacionais. As Forças Armadas ocuparam refinarias e houve uma pesada repressão contra os trabalhadores. Aconteceram muitas demissões no setor de petróleo. Cardoso veio como um trator contra o movimento sindical, suspendendo fontes de financiamento absolutamente legais.
P: O que você acha que deveria mudar na lei atual?
R: Os EUA querem mudar a legislação que vem do segundo mandato de Lula (2007-2011), para ter acesso às nossas reservas. O ponto? Se houver mais leilões e concessões, o regime será restaurado, chegando ao ponto da era de FHC, quando Shell, British Petroleum e Chevron ganharam um campo com direito de exploração de óleo. Agora isso não acontece mais porque temos o regime de participação.
P: Qual a diferença central?
R: Leilão. Agora a lei exige que, mesmo quando se ganha uma extração de petróleo estrangeiro, deve ser feita com a Petrobras e a Petrobras decide o quanto pode ser removido. Agora, as multinacionais não podem fazer a extração ao modo deles, nem a qualquer momento. O petróleo é agora tratado como um ativo estratégico não renovável, fundamental para o desenvolvimento da indústria de energia e do país em geral.
Declínio
As ações da Petrobras caíram 7 por cento nesta segunda-feira (18) na Bolsa de Valores de São Paulo, sendo negociados a menos de cinco reais, valor mais baixo desde 2003. Na entrevista com Pagina 12, o diretor da Sindipetro-RJ minimizou a importância dos "altos e baixos do mercado de ações", porque o "verdadeiro negócio é saudável, e se ocorrer mais oscilações, com queda contínua no preço do barril, podemos contar com a ajuda do governo brasileiro ou de nossos parceiros do Brics, como por exemplo, a China, que já investiu pesadamente".
A Petrobras anunciou uma redução de 32 bilhões de dólares em investimento. Se faz necessário esclarecer que não é por um ano, e sim pelo período de 2015 a 2019, e que os investimentos serão de 98 bilhões, e a medida não afetará os campos da área do pré-sal.
P: Será que haverão demissões devido à crise?
R: O que está acontecendo é a demissão de trabalhadores terceirizados. temos mais de 80 mil funcionários. O país inteiro, para não falar do mundo, vive um momento de recessão em todo os setores e isto leva ao desemprego.

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