sábado, 5 de julho de 2014

Cinco lições sobre a cobertura da Copa pela mídia internacional

Flávio Aguiar


1. Grande parte da mídia internacional trata o Brasil com desprezo ou ignorância. Ou ainda ambos. A impressão que se tem é a mesma de quando vemos um mapa mundi na tradicional projeção de Mercator. Esta é aquela que achata o mundo redondo e tem como ponto de vista o Trópico de Câncer, no Hemisfério Norte. Resultado: o Alaska fica gigantesco, e o Brasil pequenininho. É a percepção que predomina na velha mídia internacional. O Brasil não é, para ela, uma sociedade complexa. A presidenta Dilma, por exemplo, parece ser a prefeita dos mais de 5 mil municípios brasileiros e a governadora de todos os nossos estados, além do Distrito Federal. Também é a presidenta de todos os consórcios encarregados da construção ou reforma das Arenas da Copa. A culpa dos problemas (pois só há problemas) é toda dela.

2. Uma grande parte dos jornalistas que acorreram à cobertura do Copa, da velha mídia ou alternativos, foram atrás do mesmo do mesmo, confirmando seus pré-conceitos. Queriam ver pobres, favelados, miseráveis, e foram atrás deles. Antes estes eram vítimas da ditadura; agora são vítimas da ditadura ou do populismo do PT. É claro que conseguem o que querem: no nosso país há muitos pobres e ainda muitos miseráveis. Mas para estes jornalistas interessa mostrar o país como estático, sem movimento. Favelado é e sempre será favelado, não houve qualquer mudança no quadro social, nem numérica nem qualitativa.

3. Este tipo de cobertura encontra valiosos apoios na nossa velha mídia, que continua tratando a Copa e seus desdobramentos nas cidades brasileiras como um equívoco, um desperdício, ou uma mera jogada populista parea engambelar o nosso povo. Mas há falta de interesse também. Ao ressoar a cobertura brasileira, sóm prestam atenção, na maior parte dos casos, à mídia tradicional. Mas isto não se refere apenas ao Brasil. Se procurarmos por aqui ecos, por exemplo, de um site como o norte-americano Democracy Now, ou mesmo de jornais como o argentino Página 12 ou o mexicano La Jornada, quase nada econtraremos.

4. Mas há valiosas exceções. Recentemente o New York Times publicou valiosa reportagem sobre a “nova classe média” não só brasileira, mas latino-americana, ressaltando que a América Latina deixou de ser uma macrorregião predominantemente de pobre s e miseráveis. Ressalta inclusive a polêmica em torno do termo “nova classe média” e que ainda há profundas desigualdades em nosso país e no continente. Mas é um refresco para a alma. Por outro lado, como até agora tudo deu certo na Copa, até o futebol, que tem sido o melhor dos últimos tempos, e as seleções da América Latina estão em alta, boa parte da mídia de má-vontade enfiou as manchetes entre as pernas, à espera de alguma catástrofe conveniente.

5. O mais importante, porém, está em buscar a leitura de comentários de leitores e de viajantes que estão aí no Brasil. Descompormissados com a editorialização das grandes empresas midiáticas, por sobre as coberturas tendenciosas, a esmagadora maioria ressalta a hospitalidade, a confraternização, a boa organização da Copa (com seus inevitáveis problemas), a inexistência até o momento de conflitos graves da mais variada espécie. E passam ao largo das inexpressivas manifestações do “Não vai ter Copa”.

Enfim, um sucesso.






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