quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O julgamento do mensalão e o mito do sacrifício


 Do blog PAG2


Vou começar falando do Joseph Campbell, mas chego no Zé Dirceu.

Ao comparar a história de criação de múltiplas culturas ao redor do mundo, Campbell depara-se, em sua fantástica obra “As Máscaras de Deus”, com duas aparentes verdades: mesmo com as religiões se transformando, as pessoas tendem a se apegar aos mitos ou entender o mito, como a explicação de algo que não pode ser explicado pela linguagem comum. O mito seria o excesso de linguagem.

Campbell trouxe também à discussão o papel do sacrifício no mito, que representa a necessidade do renascimento simbólico e da renovação.

Como é de conhecimento do mundo imaterial, a direita não tem estratégia. Não pensa em longo prazo. Não junta lé com cré. Ao pensar o julgamento do mensalão até agosto, fatiá-lo e refatiá-lo para que chegasse à semana das eleições com a condenação do réu mais famoso, a mídia e a direita fizeram uma única conta. A conta que Jorge Borhaunsen fez em 2006: ficaremos 20 anos sem essa raça (de petista).

Mas a conta não batia.

Já no domingo à noite era possível ouvir perguntas ecoarem. O que deu errado? A população é burra e não percebeu que o PT é o partido da corrupção? Que tudo num governo do PT é pensando para roubar e enganar?

Pelos números, a resposta é um retumbante não. Então o que deu errado?

Ninguém calculou que, ao condenar figuras históricas do partido, estariam dando salvo conduto aos novos personagens da esquerda. Para usar uma figura mitológica, estariam lavando o novo PT com sangue de sacrifício, limpando-o dos pecados.

Como todo o mito, esse não está escrito. Exacerbou-se de tal maneira a linguagem, que o que sobrou pode ter sido entendido como ritual de renascimento simbólico e da renovação.

Se apostasse na absolvição de todos os réus, a retórica de impunidade poderia durar por anos. Com um julgamento duro, quase um sacrifício, o resto do PT que sobreviveu sem mácula à sua imagem ressurge como renovado.

Afinal, denúncias de corrupção são conhecidas desde o Brasil colônia. Em mais de 500 anos de história, só o PT foi julgado e punido. 


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