Desaceleração da economia pode estar ajudando a
aumentar o número de negócios por causa da queda no valor das companhias
FERNANDO
DANTAS / RIO - O Estado de S.Paulo
A
desaceleração da economia brasileira pode estar estimulando as operações de
aquisições por estrangeiros de empresas nacionais, ao fazer com que os
vendedores aceitem preços mais razoáveis. A visão é de Patrice Etlin, sócio
para a América Latina da Advent International, empresa global de private equity
com sede nos Estados Unidos
Ele nota
que a volatilidade da Bolsa e a expectativa de crescimento fraco da economia
brasileira este ano estão levando, paradoxalmente, a uma aceleração do
fechamento de negócios.
Isso
ocorre porque as famílias e empreendedores que detêm as empresas cobiçadas
estão pedindo preços mais razoáveis, depois de uma fase em que, com o Brasil no
auge da moda, os preços foram às alturas. "Há uma aproximação de valor
entre o que os vendedores pedem e o private equity está disposto a pagar",
explica o executivo.
No caso
da Amil, porém, a percepção geral do mercado é que o preço da transação foi
bastante elevado (quase R$ 10 bilhões). A UnitedHealth, ao contrário dos fundos
de private equity, é um investidor estratégico - isto é, uma empresa do mesmo
ramo da que foi adquirida.
Novo
patamar. Segundo Etlin, "há hoje, caçando transações no Brasil, cerca de
US$ 11 bilhões". Ele acrescenta que a grande maioria desses recursos foi
levantada nos dois últimos anos, e agora os investimentos estão começando a
ocorrer.
A Advent,
por exemplo, participou da operação em janeiro pela qual o Unopar, grupo
universitário paranaense forte em ensino à distância, foi adquirido por R$ 1,3
bilhão. A aquisição foi feita por meio da Kroton, a empresa da Advent de
educação pública que está na BM&F Bovespa.
Antonio
Wever, sócio do grupo nacional Pátria, associado ao americano Blackstone, um
dos maiores fundos de private equity do mundo, diz que entre 40% e 50% dos
mandatos da instituição hoje "são por parte de empresas internacionais
ativamente procurando e negociando oportunidades no Brasil". Ele diz que
tem oito mandatos para aquisições internacionais em setores da economia
brasileira como consumo, infraestrutura e serviços.
O Pátria
vendeu, entre meados de 2010 e abril de 2012, três laboratórios farmacêuticos
nacionais - Bunker, Delta e uma participação no Pele Nova - para a Valeant,
empresa farmacêutica internacional de origem canadense. Wever ressalta que o
próprio Pátria pode ser incluído na onda de interesses dos estrangeiros pelo
Brasil, já que vendeu uma participação de 40% para o Blackstone no fim de 2010.
O
advogado Cesar Amendolara, sócio do Velloza & Girotto Advogados Associados
e responsável pela área de fusões e aquisições do escritório, afirma que o
investimento estrangeiro em empresas brasileiras é o que mais está movimentando
o mercado atualmente, junto com os grupos estrangeiros que vêm para o País
iniciar sua atividade a partir do zero. O Velloza & Girotto trabalhou na
operação da rede CNA de cursos de inglês, que teve investimento de R$ 135
milhões do private equity do grupo britânico Actis (que investiu também R$ 180
milhões na Universidade Cruzeiro do Sul, em janeiro). Ele percebe que a
lentidão no mercado de capitais - este ano, houve apenas uma oferta pública
inicial de ações no Brasil - faz com que os recursos se direcionem mais para
investimentos em private equity.
Outros
negócios tradicionais foram vendidos para grupos estrangeiros este ano. A Fogo
de Chão, rede com sete churrascarias no Brasil e 18 nos Estados Unidos, foi
vendida pela GP Investimentos, grupo financeiro nacional, para o fundo de
private equity Thomas Lee Partners, por US$ 400 milhões. O anúncio foi em maio
deste ano.
Já a
Yoki, indústria de alimentos conhecida por sua pipoca de micro-ondas e produtos
juninos, foi vendida para a americana General Mills em maio, por R$ 1,75
bilhão. A Yoki teve vendas de R$ 1,1 bilhão em 2011. A empresa tem nove
fábricas e produz 610 itens diferentes, de salgadinhos a sucos prontos.
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