Leia a íntegra da entrevista do presidente da AEPET, Felipe Coutinho, à Parágrafo Revista:
1) Fale sobre a rodutividade da Petrobrás hoje?
Felipe Coutinho:
A produção da Petrobras no pré-sal alcançou 1,24 milhões de barris de
óleo equivalente por dia (boed) em junho, quase a metade da produção
nacional da companhia de 2,70 boed.
A
aceleração da produção é recorde se comparada ao desenvolvimento dos
campos marítimos do golfo do México, do Mar do Norte ou da Bacia de
Campos. A demanda interna está assegurada considerando os campos em
operação e em desenvolvimento já licitados.
Enquanto a produção e as reservas das maiores multinacionais privadas de
petróleo são decadentes há muitos anos, a Petrobras descobriu a maior
reserva das últimas três décadas. O pré-sal já é uma realidade, não há
razões para alterar a Lei de Partilha, acelerar leilões, abrir mão do
conteúdo local e entregar o petróleo para exportação pelas
multinacionais. Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo por
multinacionais.
2) Quais os benefícios do pré sal?
FC:O
pré-sal, se bem utilizado, pode promover o desenvolvimento econômico e
social brasileiros. É necessário garantir a propriedade do petróleo pelo
Estado brasileiro, mas não é suficiente. Precisamos agregar valor ao
petróleo, transforma-lo em derivados, petroquímicos, fertilizantes,
fármacos e produtos da química fina. Também é preciso utilizar a renda
petroleira para erguer a infraestrutura das energias renováveis e dos
biocombustíveis.
Para isso é necessário planejamento, um projeto nacional de médio e longo prazos, para além dos ciclos eleitorais de 4 anos.
3) A Petrobrás passa hoje por um momento delicado, o senhor acha que isso possa interferir no seu valor de mercado?
FC:
O preço das ações oscila em função de inúmeros aspectos, alguns
internos e outros externos à companhia, e não reflete o valor
estratégico da Petrobras.
A
companhia representa quase 15% do PIB e é a responsável pela garantia da
nossa segurança energética e alimentar. É fundamental nos transportes,
inclusive dos alimentos, nos fertilizantes, na petroquímica, além de ser
a maior produtora de biodiesel do Brasil.
Em
2015, a geração de riqueza foi extraordinária. Lucro bruto de R$ 98,6
bilhões (23% maior que 2014) e EBITDA (Receita antes das despesas com
juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 73,9 bilhões (25%
maior que 2014). O prejuízo contábil de R$ 34,8 bilhões é resultado da
reavaliação dos ativos, diante da nova conjuntura dos preços do petróleo
e da cotação cambial, com a desvalorização do real, e das despesas com
juros.
4) Sua opinião sobre o plano de desinvestimentos da empresa?
FC:
O plano é prejudicial porque desintegra a companhia e a expõe aos
riscos desnecessários da variação dos preços relativos. A integração
desde a exploração do petróleo à produção de derivados, petroquímicos,
fertilizantes, energia elétrica, biocombustíveis, transporte e
comercialização permite que a companhia tenha resultados positivos
diante da variação natural dos preços relativos do petróleo e de seus
produtos.
Outro aspecto negativo é a entrega do mercado interno que é grande e tem
potencial de crescimento. Trata-se de entregar o fluxo de caixa futuro
em troca de ativos desvalorizados na atual conjuntura de preços baixos.
Existem alternativas para lidar com a dívida e alongar prazos, sem
dilapidar o patrimônio e comprometer o futuro.
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