Por Iván Granovsky, na Carta Maior. Extraído do blog do Miro.
Primeiro estão os iates, os jatinhos, os helicópteros e as Ferrari. Logo aparecem os famosos e os flashes. Em terceiro lugar, a indústria do cinema. E, por último, a arte. Porém, com a arte, chega a política. E com a política, chega Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, único filme latino-americano na competição oficial do 69º Festival de Cannes. A obra foi produzida e rodada em Pernambuco, no Nordeste do Brasil. Este pequeno estado brasileiro se relaciona atualmente com o mundo por duas coisas: porque sua produção cinematográfica é de alta qualidade e porque nessa região se viu como centenas de milhares de pessoas ascenderam na escala social, graças às políticas de Luiz Inácio Lula Da Silva e Dilma Rousseff.
Aqui em Cannes, a estreia mundial de “Aquarius” ocorre a menos de uma semana de vida do governo “interino” de Michel Temer, depois que o Senado brasileiro aprovou a abertura do processo de impeachment contra a presidenta. Mas a palavra “interino” não se usou em nenhum momento, no protesto que os brasileiros e latino-americanos realizaram na terça-feira, 17 de maio, no tapete vermelho da sala Lumière, do Festival de Cannes. A palavra usada foi “golpe”, escrita em português, inglês e francês.
Na porta de um hotel de Cannes, onde havia entre 20 e 30 integrantes da equipe do filme, outros colegas e amigos se somaram à iniciativa de distribuir os cartazes, que diziam: “the world can’t accept this illegitimate government”, “sauvez la democratie bresilienne”, “we will resist”, “Brazil is not a democracy anymore”, “a coup took place in Brazil”, “#StopCoupInBrazil”.
Numa foto coletiva, todos os presentes traziam alguma bandeira ou levantavam papéis. Depois, cada um foi tomando seu para a sessão de Aquarius. A equipe ia em carros e vans, os demais faziam uma fila comum.
Primeiro estão os iates, os jatinhos, os helicópteros e as Ferrari. Logo aparecem os famosos e os flashes. Em terceiro lugar, a indústria do cinema. E, por último, a arte. Porém, com a arte, chega a política. E com a política, chega Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, único filme latino-americano na competição oficial do 69º Festival de Cannes. A obra foi produzida e rodada em Pernambuco, no Nordeste do Brasil. Este pequeno estado brasileiro se relaciona atualmente com o mundo por duas coisas: porque sua produção cinematográfica é de alta qualidade e porque nessa região se viu como centenas de milhares de pessoas ascenderam na escala social, graças às políticas de Luiz Inácio Lula Da Silva e Dilma Rousseff.
Aqui em Cannes, a estreia mundial de “Aquarius” ocorre a menos de uma semana de vida do governo “interino” de Michel Temer, depois que o Senado brasileiro aprovou a abertura do processo de impeachment contra a presidenta. Mas a palavra “interino” não se usou em nenhum momento, no protesto que os brasileiros e latino-americanos realizaram na terça-feira, 17 de maio, no tapete vermelho da sala Lumière, do Festival de Cannes. A palavra usada foi “golpe”, escrita em português, inglês e francês.
Na porta de um hotel de Cannes, onde havia entre 20 e 30 integrantes da equipe do filme, outros colegas e amigos se somaram à iniciativa de distribuir os cartazes, que diziam: “the world can’t accept this illegitimate government”, “sauvez la democratie bresilienne”, “we will resist”, “Brazil is not a democracy anymore”, “a coup took place in Brazil”, “#StopCoupInBrazil”.
Numa foto coletiva, todos os presentes traziam alguma bandeira ou levantavam papéis. Depois, cada um foi tomando seu para a sessão de Aquarius. A equipe ia em carros e vans, os demais faziam uma fila comum.
Os que estavam na fila, depois de passar o controle de segurança,
começaram a caminhar pelo tapete vermelho, até subir as famosas escadas
do Palais des Festivals de Cannes. A primeira ação, embora pareça naïve,
foi tomar uma foto com uma produtora brasileira que levantava um cartaz
contra o golpe. Automaticamente, um segurança se aproximou e tirou o
cartaz das mãos dela. Quando viu que eu tinha outro, também tirou o meu,
e fez o mesmo com todos os colega que estavam ao nosso lado. Os gritos
de “isso é censura” não surtiram efeito, e o segurança não devolveu os
cartazes. Após o segundo e último controle, poucos metros antes de
entrar na Sala Lumière, uma produtora de São Paulo (a cidade mais
pró-impeachment do Brasil) se aproximou e tirou da bolsa outro cartaz,
guardado justamente para o caso dos primeiros cartazes serem proibidos.
Entramos na sala e cada um tomou o seu lugar.
A tela da Lumière transmite ao vivo e mostra aqueles que entram pelo
tapete vermelho, até o começo do filme. Ali, pudemos ver os rostos de
todos os brasileiros que participaram do filme. Qualquer um poderia
dizer que a organização não estava de acordo com a realização dessa
“performance” contra o golpe no Brasil. Depois de alguns minutos, os
integrantes da equipe do filme chegaram. Pararam em frente aos
fotógrafos, que estão acostumados a aguardar os atores de Hollywood e
modelos de passarela. Todos mostraram seus cartazes. Os que já estavam
dentro da sala começaram a aplaudir e mostrar seus próprios papéis, os
que sobraram pelo menos. Os aplausos aumentaram. Depois desse primeiro
momento, foi a vez do diretor Kleber Mendonça Filho, da produtora Emilie
Lesclaux e dos atores Sonia Braga, Maeve Jinkings e Humberto Carrão. Os
primeiros metros foram tradicionais, sorrindo para as câmeras. Claro,
apesar da tragédia política brasileira atual, ninguém pode esquecer que o
país também trouxe este maravilhoso filme para as telas do mundo.
Nos seguintes metros, após subir a escalinata até a Sala Lumière, onde,
como sempre, estavam sendo esperados por Thierry Fremaux e Pierre
Lescure – diretor e presidente do festival, respectivamente –, vieram
novos momentos emocionantes. Os metros mais políticos. Os metros mais
artísticos. Foram esses os metros que tornaram este dia histórico.
Porque a luz do cinema e a escuridão de um golpe eram comunicadas por
seus protagonistas e suas vítimas. Na fila, um ao lado do outro,
diretor, produtores, atores e autoridades, diante da imprensa
internacional. Cada um tirou do bolso o seu papel. Com rostos sérios,
graves, se mantiveram três minutos na mesma posição. Em Cannes, a
mensagem era única: o cinema não pode estar a favor de um processo tão
ilegítimo como o que o Brasil se está vivendo atualmente.
Entraram na sala, e lá toda a equipe do filme, e todos os que estavam distribuídos pelos outros setores, levantaram seus papéis. No Festival de Cannes, sempre se espera um escândalo. E graças a isso, as câmeras oficiais entraram em cena e a transformaram num pedido, aos gritos, de justiça verdadeira.
O mundo inteiro viu.
* Iván Granovsky é cineasta argentino.
Entraram na sala, e lá toda a equipe do filme, e todos os que estavam distribuídos pelos outros setores, levantaram seus papéis. No Festival de Cannes, sempre se espera um escândalo. E graças a isso, as câmeras oficiais entraram em cena e a transformaram num pedido, aos gritos, de justiça verdadeira.
O mundo inteiro viu.
* Iván Granovsky é cineasta argentino.
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