quinta-feira, 26 de maio de 2016

Serra presenteia o pastor da Lava-Jato

Por Altamiro Borges, em seu blog

Guindado ao posto de ministro das Relações Exteriores do governo golpista, o grão-tucano José Serra está em plena campanha para viabilizar a sua candidatura presidencial em 2018 – pelo PSDB, PMDB ou outra sigla de aluguel. Só isto explica sua postura agressiva e narcisista desde que tomou posse no Itamaraty, na semana passada. Ele já divulgou inúmeras notas contra os “governos bolivarianos” da América Latina, declarou que reorientará a política externa brasileira – contrapondo-se aos Brics e à integração regional e privilegiando as relações com os falcões dos EUA –, e viajou para a Argentina para firmar uma parceria com o neoliberal Mauricio Macri – sendo recebido com vaias e bolinhas de papel.

O sonho presidencial do eterno candidato também explica o seu oportunismo ao conceder passaporte diplomático para o pastor Samuel Cassio Ferreira, investigado pela Operação Lava-Jato. Este foi o primeiro ato no front interno do ministro “interino” das Relações Exteriores, que visa unicamente conquistar o apoio dos charlatães que exploram a religiosidade popular. O “pastor” Samuel Cassio é líder da igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira, em São Paulo. Ele entrou na mira da Polícia Federal sob a acusação de ter participado da operação de repasse de propina ao presidente afastada da Câmara Federal, o correntista suíço Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Os investigadores identificaram dois depósitos feitos à igreja que o pastor comanda no valor de R$ 250 mil. A grana foi repassada por empresas que pertencem a Júlio Camargo, delator da Lava-Jato e que trabalhava como consultor da Toyo Setal, prestadora de serviço da Petrobras. Em sua delação, o empresário disse que o montante tinha como destino final o lobista Eduardo Cunha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustentou em seu relatório ser “notória” a vinculação de Eduardo Cunha com a igreja Assembleia de Deus Ministério Madureira. Um inquérito foi aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar se o líder religioso cometeu crime de lavagem de dinheiro.

Em despacho publicado no "Diário Oficial" de quarta-feira (18), José Serra assinou a concessão do documento especial ao pastor e à mulher dele, Keila Ferreira, válido por três anos. O passaporte diplomático dá direito à isenção de visto de entrada em alguns países, que têm acordo firmado com o Estado brasileiro, além de filas exclusivas em diversos aeroportos. O caso do benefício concedido ao casal Ferreira foi revelado pelo site "G1", pertencente ao insuspeito Grupo Globo. Após a publicação da reportagem, o ministro “interino” e oportunista decidiu pedir um estudo interno à área técnica do Itamaraty para reavaliar os critérios de concessão dos passaportes diplomáticos.

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