Sociólogo, especialista em relações internacionais
e assessor da Liderança do PT no Senado
Max Weber dizia que o Estado tem o monopólio do uso
legítimo da força.
Entretanto, o governo sem voto que sucede a
presidenta eleita não têm legitimidade alguma. Falta-lhe a credibilidade que só
o voto soberano do povo pode conferir.
A frente do que talvez seja o pior ministério da
história da república, um conjunto mal ajambrado para recompensar golpistas,
composto só de homens brancos e ricos, alguns investigados pela Justiça, o
governo usurpador só conseguirá se manter com a força ilegítima da repressão
contra trabalhadores, movimentos sociais e defensores da democracia golpeada.
Trata-se de um governo natimorto, com breve prazo
de validade.
Por isso, já articulam um julgamento expedito da
presidenta inocente. Sabem que o tempo conspira contra eles e, assim, vão
tentar condená-la a jato, adotando a mesma estratégia que, no Paraguai, usaram
contra o presidente Lugo. Tentarão esconder, em vão, o que o mundo já sabe: não
há crime. Tentarão ocultar, em vão, o que o mundo já conhece e proclama hoje em
suas manchetes: é golpe.
No ínterim, tentarão também adotar as medidas
prometidas a banqueiros, empresários e a interesses estrangeiros. As medidas da
pinguela para o passado, que pretende, de um só golpe, acabar com os legados
sociais de Lula, Ulysses Guimarães e Getúlio Vargas.
No cardápio, redução do salário mínimo, diminuição
de aposentadorias, pensões e outros benefícios previdenciários, desvinculação
das receitas orçamentárias obrigatórias para saúde e educação, erosão da
proteção trabalhista, entrega do pré-sal e privatização de "tudo o que for
possível". Inclui-se também, como sobremesa, a volta do foco estreito das
políticas sociais, as quais passariam a atingir somente os 5% mais pobres, para
que a fome volte a atingir 36 milhões de brasileiros e 12 milhões de crianças
que estão agora no Bolsa Família saiam das escolas e voltem às ruas.
Trata-se de cardápio tão indigesto que jamais seria
aprovado nas urnas. É necessária essa eleição indireta do golpe, assegurada por
uma maioria parlamentar circunstancial, para que tudo isso seja jogado goela
abaixo do povo.
Será uma grande tragédia que aprofundará a crise
política do Brasil.
Mas tragédia maior será a dos golpistas. Em sua
arrogância de quem julga poder prescindir do povo, em sua vaidade de golpistas
bem-sucedidos, eles acreditam que venceram. Na realidade, já estão derrotados.
As aparências enganam. Na ópera-bufa do golpe tudo
está invertido. Golpe vira impeachment. Honestidade vira crime. Retrocesso vira
progresso. Passado vira futuro.
Governo de perdição nacional vira governo de
salvação nacional. Brutalidade golpista vira conciliação.
Na ópera-bufa do golpe, os verdadeiros derrotados
viram falsos ganhadores.
Pois sempre ganha quem fica ao lado do povo e
sempre perde quem atenta contra a democracia.
No julgamento definitivo da História sobre este dia
de infâmia, serão cobertos de glória os aparentemente derrotados e imersos em
vergonha eterna os falsos ganhadores.
Ganhou quem defendeu a democracia, perderam, para
sempre, os golpistas.
Perderam, principalmente, os autores do golpe.
Politicamente Cunha já morreu e Temer, sem voto,
agoniza com sua total falta de legitimidade e credibilidade. Enfrenta também o
suplício que Dante reservou aos que estão no Lago Cocite, o nono círculo do
Inferno. Não convence ninguém.
Já Dilma, mesmo afastada, começa a renascer como a
mártir honesta da democracia golpeada. Sua dor de inocente injustiçada convence
e inspira.
Entre os dois presidentes, não há dúvida sobre quem
a História e o povo escolherão.
Os que defendem a democracia estão sempre certos.
Na memória do povo, estarão sempre vivos.
Fonte: brasil247
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