quinta-feira, 26 de maio de 2016

Áudios de Sarney confirmam o golpe

Por Renato Rovai, em seu blog. Transcrito no blog do Miro.

Os áudios de Sarney foram apresentados na noite de ontem pelo UOL numa nova matéria do repórter Rubens Valente. Antes de ler a transcrição este blogue afirmou, pelo que havia sido apresentado na primeira nota, que pareciam mais com os de Renan do que com os de Jucá. Com a transcrição vindo a público já não dá para dizer o mesmo.

Sarney foi muito além do presidente do Senado e pouco além do ex-ministro do Planejamento nas duas conversas publicadas até o momento.

O maranhense deixou claro que estava envolvido até as tampas no impeachment de Dilma. E que não havia solução com ela no governo para que se pudesse proteger aqueles que estavam sendo investigados na Lava Jato.

Deixou também mais do que claro que o golpe contra Dilma não tinha nada a ver com as tais pedaladas fiscais, mas com o fato de ela não controlar as investigações.

E ainda afirmou que a oposição à época, leia-se PSDB e DEM, defendiam a saída dela de qualquer forma. E que não aceitavam sequer o tal do parlamentarismo branco e a solução Michel Temer.

Mas que tucanos e demos foram convencidos por Renan, depois de uma longa conversa, de que Temer seria a solução.

Os áudios de Machado com Sarney só podem ser ignorados por ignorantes. O motivo do impeachment sempre foi o controle da Lava Jato. E a conspiração comeu solta para derrubá-la.

O que isso significa?

Primeiro que a classe política brasileira estava completamente desesperada e que agiu em legítima defesa ao afastar a presidenta nas votações da Câmara e do Senado.

Segundo, que não estava preocupada com nada mais do que com a sua própria pele ao condená-la.

Só por isso Dilma merece ser colocada num altar?

A resposta mais simplista seria sim, mas o que interessa é refletir sobre a mais complexa. Ou seja, o não.

Dilma é parte desse condomínio político onde todos acabam fazendo acordos para poder governar.

Não há ninguém que seja puro, nem santo, nem muito menos ingênuo.

O que se faz são acordos que levam em consideração algo muito abstrato, mas que parece um termômetro eficiente. Uma coisa que se costuma chamar de correlação de forças.

Dilma errou nessa avaliação e se deu mal.

O problema é que não há mais avaliação possível num momento onde não é na tal correlação de forças que se constrói a política. Não é no campo da política que se decidem as coisas públicas.

Elas migraram para um espaço estranho, para o campo midiático, jurídico e policial. As cartas são definidas ali.

Após ler essa conversa de Machado com Sarney o que fica claro é que a política no Brasil entrou em colapso.

A poderosa trinca do PMDB (Jucá, Renan e Sarney) foi vítima de uma arapuca de um parceiro de partido e pelo que parece também de negociatas. E não de um adversário ou inimigo político.

No que tange as ilegalidades, o fato de isso vir à tona é ótimo. Pode inibir a ação de muitos outros em esquemas de corrupção. Pode, vejam bem, mas também não é tão certo assim que isso aconteça.

Mas para a ação política é algo terrível. A partir de agora a tônica não será mais a confiança no interlocutor. Mas a desconfiança total.

As pessoas tomarão decisões muito mais individualmente porque estarão o tempo todo preocupadas se não estão sendo gravadas. E evitarão debater qualquer coisa que merecesse a avaliação de outros.

A política se tornará algo mais autocrático. Porque esse tipo de desconfiança não levará governantes a colocar tudo em debate. Ao contrário, os fará tomar a maior parte das decisões sozinhos.

E essa criminalização da política está sendo todos os dias regada com água e vitaminas pela Operação Lava Jato.

E criminalizar a política cada dia mais não vai nos levar a uma democracia melhor.

Mesmo que todos os políticos corruptos venham a ser presos, quem vai lhes tomar o bastão não serão pessoas mais honestas. Serão pessoas mais autoritárias e que utilizarão métodos policiais e repressivos. Porque o que está expondo as tripas da política brasileira neste momento é uma investigação que utiliza de métodos absolutamente questionáveis. E para os políticos que virão, para escapar disso só endurecendo ainda mais o jogo.

Isso não quer dizer que Sarney, Renan e Jucá não devem ser questionados e punidos pelo que disseram.

Mas eles deveriam sofrer ações muito menos por tentarem agir contra a Lava Jato e muito mais por terem cometido um crime muito maior, o de conspiração contra uma presidente da República que eles sabem não ter cometido crime de responsabilidade para sofrer um impeachment.

Se isso fosse punido, nossa democracia sairia maior. Mas não vai ser o caso. Essa questão já está sendo jogada para baixo do tapete.

Não é nada fácil debater a sério e fora do senso comum num momento desses, porque sempre se corre o risco de ser acusado por todos os lados.

Mas os áudios revelados de figurões do PMDB nos últimos dias apontam para uma solução de submissão da política aos desígnios de justiceiros.

Se a política tradicional é, sendo claro, uma merda, os justiceiros são muito pior.

Só com muito povo na rua é que se poderá criar um cenário de respeito de fato às instituições. Porque de resto, prevalecerá o suposto estado de justiça. Onde o que menos prevalecerá é a a própria justiça.

Porque para que ela prevaleça a única coisa a ser feita depois de todas essas revelações, seria devolver o mandato presidencial a Dilma.

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