Oposição transforma Comissão em “República do Galeão”
Contando com a boa vontade do então “rebelado” Renan Calheiros e a conivência do PMDB, a oposição ganhou o comando da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, no início desta legislatura. O PSDB, com a companhia domesticada do DEM, insinuou que pretendia a direção da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle. Evidentemente, pouco interessado na natureza ou na defesa dos brasileiros contra os abusos dos bancos, das telefônicas e, sim, de olho na fiscalização e controle da administração pública federal. Afinal, foi através da CMA que a oposição tentou convocar para audiências públicas, na legislatura passada, quase todos os ministros de Dilma e dirigentes das estatais.
Como o repentinamente generoso Renan Calheiros comprometeu-se a acatar a ideia de proporcionalidade na distribuição do comando das comissões-- coisa que ele desprezou na eleição da mesa, passando como um rolo compactador sobre PSDB e DEM-- coube à oposição a chefia de uma delas. O flerte com a CMA foi pura negaça, pois a oposição sabia que a base governista já havia se articulado para comandar o colegiado. Restou, então, a Comissão de Relações Exteriores, verdadeiro objetivo dos demo-tucanos.
E, desde a primeira reunião, DEM-PSDB deixaram transparente, sem qualquer rebuço a que vieram à CRE. Requerimentos de convocação do ministro das Relações Exteriores e de embaixadores; suspensão de audiências públicas para ouvir diplomatas indicados a embaixadas em países africanos – com os indicados já no plenário da comissão; proposta de enxugamento das embaixadas brasileiras, especialmente em países menos desenvolvidos, sob a alegação de “falta de retorno comercial”; pedidos de informação sobre empréstimos do governo brasileiro a países africanos e à Cuba (Porto de Mariel); nomeação pelo presidente da comissão, Aloísio Nunes, do diplomata Eduardo Sabóia como seu assessor especial (para relembrar: Sabóia foi quem ajudou o ex-senador boliviano Roger Molina a fugir da embaixada brasileira em Bogotá); aprovação de pautas dando prioridade ao debate de acordos bilaterais do Brasil com os Estados Unidos e alguns países europeus, em detrimento do Mercosul, Unasul e Brics; proposta de uma política exterior brasileira “antiterceiromundista”; críticas às posições brasileiras em relação ao Oriente Médio e ao Irã; defesa de retorno à política de alinhamento aos Estados Unidos e à Europa Ocidental, “o nosso lado”, como disse um senador do DEM.
Assim por diante. Em poucas sessões, desde que PSDB-DEM assumiram o comando da Comissão e Relações Exteriores do Senado, o colegiado transformou-se no bastião dos conservadores. É claro, a política exterior é trampolim para as questões internas, onde a construção do caminho para o impeachment da presidente é o interesse central.
Seis senadores destacam-se nessa contrafação de “República do Galeão”: Aloysio Nunes Ferreira, Tasso Jereissati, Ronaldo Caiado, José Agripino, Ricardo Ferraço e Ataídes Oliveira, que herdou a cadeira do falecido João Ribeiro e mantém viva no Senado a tradição vociferante e espumante de Artur Virgílio, Mão Santa e Mário Couto. Ricardo Ferraço presidiu a CRE na legislatura anterior e distinguiu-se por duas iniciativas: trazer William Waack para debater com os senadores “ a necessidade de mudança do foco da política exterior brasileira, do Mercosul para os acordos bilaterais com os Estados Unidos”; e a ex-deputada venezuelana Maria Corina Machado, para criticar as relações do governo brasileiro com a “ditadura chavista”. Conforme veteranos membros da CRE, a “palestra” de William Waach representou certamente o momento mais constrangedor de toda a história da comissão. Já o desempenho de Corina decepcionou os que pretendiam fazer dela santa heroína da cruzada anti-Venezuela.
Pois é, quem imaginaria que Aloysio Nunes Ferreira um dia, certo dia, faria o papel dos inquisidores do Galeão e lideraria o alinhamento incondicional da Brasil com o Império?
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