domingo, 11 de novembro de 2012

Gideon Levy: Israel precisa de um presidente dos EUA furioso




Do segundo Obama se espera maior autoconfiança e que ele esteja menos preocupado com considerações de sobrevivência. É aqui que a grande oportunidade reside: uma nova e promissora realidade poderia surgir se ele enfrentasse um primeiro ministro de direita que já mostrou não ligar a mínima para as suas exigências, que interveio contra ele nas eleições e continuamente o insulta. Israel precisa de um presidente dos EUA furioso.
Data: 09/11/2012
Tel Aviv - Eles podem se tornar o duo de vencedores, aqueles que chegarão a um acordo com os palestinos: um furioso Barack Obama presidente dos Estados Unidos em oposição ao jogador primeiro ministro Benjamin Netanyahu (que perdeu o jogo). Se um Obama reeleito obedecer ao seu coração e lógica, ao seu código moral e aos seus valores, e aos interesses Americanos e do resto do mundo, então podemos esperar por um velho-novo presidente na Casa Branca. Um presidente que traduzirá sua raiva contra Netanyahu em pressão para que Israel finalmente acabe com a ocupação.

É precisamente esse par, que não tem andado junto e nem consultado um ao outro que pode levar ao grande momento. Todos os que conhecem Obama pessoalmente testemunham que o problema palestino está no seu coração. Ao longo dos últimos anos, tenho escutado testemunhos disso mais de uma vez – algumas vezes de israelenses, algumas de palestinos e algumas, de estadunidenses, mas sempre de fontes confiáveis.

Mas o primeiro Obama decidiu deixar esses sentimentos profundos e o seu senso natural de justiça de lado e se tornou adicto de considerações de sobrevivência política. Ele tentou, logo no começo de sua primeira gestão, lidar com a ocupação israelense. Seus primeiros telefonemas do gabinete foram para Netanyahu e para a Autoridade Nacional Palestina e ele designou um enviado especial imediatamente.

Mas esse movimento foi meramente uma corrida. Assim que entendeu o tamanho das forças que estavam trabalhando para perpetuar a ocupação israelense, o homem mais forte do mundo decidiu lavar as mãos e deixar o tema de lado.

Obama se parecia com alguém que tinha desaparecido e perdido o interesse. Ele traiu a sua posição como líder da América e do mundo. Netanyahu o humilhou e insultou, ignorou solenemente os seus pedidos e tomou o seu próprio caminho, e Obama engoliu todos os insultos de uma maneira que obscureceu quem era o presidente da maior potência mundial e quem era o primeiro ministro de um protetorado.

Mas do segundo Obama se espera maior autoconfiança e que ele esteja menos preocupado com considerações de sobrevivência. É aqui que a grande oportunidade reside: uma nova e promissora realidade poderia surgir se ele enfrentasse um primeiro ministro de direita que já mostrou não ligar a mínima para as suas exigências, que interveio contra ele nas eleições e continuamente o insulta.

É difícil acreditar que a vontade de Obama capitule nesse segundo mandato também. É difícil acreditar que ele perdoará o comportamento de um Israel que fala de dois estados para dois povos, mas se recusa até a congelar as construções nos assentamentos em territórios ocupados. Essa máscara deve ser retirada da face de Israel, e ninguém pode fazê-lo melhor do que um furioso e moral presidente em seu segundo mandato.

Israel precisa de um presidente dos EUA furioso. Esta é a última chance para salvar a si mesmo do curso da ocupação. O país nunca fará isso por sua própria iniciativa – não há simplesmente a menor possibilidade. Sem a raiva dos EUA, não há razão para fazer isso, enquanto a vida em Israel for tão boa e os palestinos, tão fracos.

Se outra pessoa que não Netanyahu for eleito aqui – alguém que venha a dar início a negociações, blá, blá, blá, quem conversará com os palestinos é claro que os desapontará, como sempre aconteceu nas últimas décadas – então nada mudará. Obama provavelmente cairá mais uma vez no truque da imagem de um país supostamente moderado.

Mas Netanyahu como primeiro ministro e Avigdor Lieberman como seu número dois vão provavelmente insultar Obama. E um presidente como Obama, com um bem desenvolvido senso de justiça e um sofisticado senso de história, provavelmente não perderá a chance de fazer alguma coisa, de novo.

Sim, Obama pode. Israel nunca foi tão dependente de seu país. A questão é se ele quer fazer isso, e se será suficientemente corajoso e determinado.
Isso terá de acontecer rapidamente. Não é nem necessário esperar pela posse. Obama deve mudar as regras do jogo de acordo no qual Israel pode ser agressivo como quiser e meter o nariz no mundo inteiro. A Europa não pode fazer isso, nem as Nações Unidas, e certamente não os Palestinos. Só Obama pode.

Portanto, quando o presidente subiu ao palco na noite da vitória, a esperança se acendeu mais uma vez. Depois das decepções dos últimos quatro anos, que foram tão amargas, dada as grandes expectativas que as precederam, essa esperança não é a mesma que acompanhou a primeira vitória. Mas é ainda assim esperança. E não há outra coisa.

Tradução: Katarina Peixoto

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