*José Álvaro de Lima Cardoso
A atual política brasileira de interferência no câmbio,
criticada frequentemente por economistas de vertente liberal, é adotada no
mundo todo. Não existe país que pratique uma política de câmbio flutuante “pura”. Em regra, para defender os interesses
nacionais, todos os países intervêm no câmbio. Algumas vezes isso é feito de
forma indireta, via política monetária, como ocorre com as políticas monetárias
“expansionistas” dos países ricos, que visam desvalorizar suas moedas, significando,
portanto, uma forte intervenção no câmbio[1]. A política de câmbio fixo
não é mais praticada pela maioria dos países, especialmente a partir da crise
de 2007, que dentre outras coisas, tornou os países mais protecionistas.
Não há país que hoje não
esteja protegendo a sua economia. Isso fica claro pelo próprio debate atual da
campanha presidencial dos EUA. Enquanto Romney acusa Obama de ter sido o
responsável pela decisão da Chrysler de levar a produção de Jeeps para a China
e não impor tarifas sobre as importações chinesas, o candidato democrata
critica as empresas americanas que investem em outros países, deixando de gerar
emprego e renda nos EUA. Em todos os países
centrais e nos demais BRICs são cada vez mais comuns políticas em benefício das
empresas de capital nacional, especialmente nas áreas mais estratégicas da
economia, e no caso da China, existe o controle do planejamento do Estado
exercido pela operação direta de suas empresas e, através de acordos, com as
transnacionais que lá investem. Estes países têm também uma política definida
de compras governamentais que privilegia as empresas nacionais.
O governo brasileiro vem tomando medidas
importantes para enfrentar o problema da perda de competitividade da indústria.
Além da mencionada política cambial, o governo elevou as alíquotas de importação de
cem produtos para até 25% (medida anunciada em setembro), e montou um Plano
para, a partir de 2013, reduzir os custos
da energia elétrica em até 28% da tarifa das indústrias e de
16,2% para os consumidores residenciais no país. Além disso, resolveu
colocar a taxa de juros em linha com os níveis internacionais e chegamos a
menor taxa de juros real da história (em torno dos 2%), medida que requereu coragem porque contraria diretamente interesses muito poderosos do capital
financeiro no país.
A pressão internacional para o
Brasil abandone suas políticas de proteção à economia do país vem se
intensificando. Recentemente autoridades globais teceram críticas ao governo
brasileiro, dentre as quais, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Além dos dirigentes dos países centrais, analistas de economia da grande
imprensa reforçaram suas críticas ao governo em relação às medidas
protecionistas, alegando que isso criará um clima de má vontade nos fóruns
internacionais contra o Brasil. Esses analistas, ingênuos ou mal intencionados,
“esquecem” que os países centrais, cujas
posições têm grande peso nos organismos multilaterais como ONU e OMC, querem
toda a liberdade para ganhar mercados internos em todo o mundo, sem oferecer
contrapartidas. Em face da crise global, que é mais forte nos países
desenvolvidos, precisam exportar seus produtos para o mundo todo, portanto,
quanto mais abertos os mercados mundiais, melhor.
*Economista e supervisor técnico do
DIEESE em Santa Catarina.
[1] O EUA, por exemplo, tem usado largamente
a chamada Quantitative Easing (flexibilização quantitativa),
política monetária que
aumenta a quantidade de dinheiro em circulação na economia, através da compra
de obrigações de dívida pública por parte do Banco Central, visando aumentar a
liquidez do sistema financeiro.
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