sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A morte de Joelmir Beting


Autor:  Luis Nassif
Havia muitos Joelmir Betting em um só: o amigo doce, o jornalista célebre e o palestrante imbatível.

Joelmir foi o primeiro jornalista brasileiro a explorar em sua plenitude a comunicação de massa. Transitou pelo jornal – durante anos, com a coluna na Folha -, pela rádio e pela televisão. Tornou-se palestrante requisitadíssimo. Levou o jornalismo econômico dos gabinetes para as donas de casa.

Para se ter ideia de seu alcance, a primeira pessoa que me chamou a atenção para Joelmir foi minha mãe, lá pelos fins dos anos 60, encantada com seu estilo.

Depois de uma carreira rápida na Folha, como repórter e, depois editor, enveredou pelo colunismo e passou a explorar o estilo radiofônico imbatível, recheado de bordões saborosos.

Como enfatizava a querida Lucila, sua esposa, Joelmir era um cronista da economia. Não chegava a aprofundar nas análises macroeconômicas, como Rolf Kuntz, nem a explicar nas análises setoriais, como Celsão Ming. Seu estilo era o da crônica saborosa.

Na Folha, a coluna de Joelmir tornou-se referência. Mas a aproximação maior com o público se dava através do jornal Gente, da rádio Bandeirantes, no horário campeão da manhã, ao lado dos queridos José Paulo de Andrade e Salomão Esper. Substituí Joelmir no programa, quando ele foi para a Globo, e sei o que era seu tremendo alcance.

Nunca o ditado sobre a grande mulher atrás do grande homem foi tão significativo, quanto nas relações entre Joelmir e a apaixonadíssima Lucila, tão apaixonada que – como ela me contou uma vez – tinha ciúmes até dos tempos em que ainda não conhecia Joelmir. Em torno de ambos sempre circulou uma família encantadora, equilibrada, madura, com filhos que honraram a memória do pai.

O mais significativo de Joelmir é ter-se tornado personagem nacional sem o deslumbramento e o estrelismo falsamente internacionalista de muitos sucessores. Sempre foi o rapaz de Tambaú, afilhado do padre Donizetti. Nunca abdicou de suas origens e de seus modos simples.

Contou-me uma vez que, no Jornal Gente, a maior repercussão era quando falava de receitas caseiras e outros temas do dia-a-dia dos ouvintes.

Havia o Joelmir da imprensa escrita, radiofônica e televisiva. Mas o Joelmir mais brilhante era o palestrante, com sua sucessão de imagens irônicas, o modo fluente de falar, o encadeamento de temas que encantava as plateias.

Ao mesmo tempo, era um ser humano extremamente sensível, que se abalava quando exposto às mudanças de humores das redações. Foi assim quando saiu da Folha e, mais tarde, quando deixou a Globo. Mas sempre tinha, como reforço emocional, a presença permanente de Lucila.

Trabalhamos juntos na consolidação da AJEF (Associação dos Jornalistas de Economia e Finanças) e fizemos parte da mesma chapa que conquistou o Sindicato dos Jornalistas em 1984.

Ao lado de Aloisio Biondi, Joelmir foi parte fundamental na criação do moderno jornalismo econômico do país.

Espero chegar a tempo em São Paulo, para as homenagens a um grande homem.

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