quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A dependência da economia ao capital estrangeiro


Editorial do Jornal Brasil de Fato
Cabe ao nosso território e ao nosso povo trabalhar apenas para fornecer
matérias-primas baratas para o centro do capital. Essa é a lógica
dominante

14/11/2012

Editorial da edição impressa 507



Há um consenso entre as correntes de pensamento econômico, movimentos
sociais e partidos políticos de todo o mundo, que a partir da década de
1990 o capitalismo ingressou numa nova fase hegemonizada pelo capital
financeiro e pelas grandes corporações internacionais que passaram a
dominar o mercado mundial. Assim, o capitalismo globalizou-se e domina
toda a economia global; porém sob o comando do capital financeiro e das
grandes corporações. As estatísticas mais conservadoras revelam que,
passados vinte anos dessa hegemonia, o capital financeiro circulante
saltou de 17 trilhões de dólares, em 1980, para 155 trilhões em 2010,
enquanto o volume de produção de mercadorias medidas pelo PIB mundial
passou de 15 trilhões de dólares para 55 trilhões. Por outro lado, as 500
maiores empresas internacionais controlam 58% de todo PIB mundial, embora
empreguem menos de 5% da mão de obra disponível.

Essa força do capital em sua nova fase atingiu e submeteu a todas as
economias do hemisfério sul, entre elas o Brasil. Mais do que nunca a
economia brasileira é cada vez mais dependente do capitalismo
internacional, ao ponto de nos transformarmos novamente em país
agro-mineral exportador e provocar uma desindustrialização da economia,
que chegou a pesar 38% do PIB na década de 1980. Hoje pesa apenas 15% da
economia nacional.

Sofremos com essa redivisão internacional da produção e do trabalho. Cabe
ao nosso território e ao nosso povo trabalhar apenas para fornecer
matérias-primas baratas para o centro do capital. Essa é a lógica
dominante.

Já a burguesia brasileira, interna, continua com o mesmo comportamento
histórico denunciado por todos os pesquisadores, em especial Florestan
Fernandes. Segundo ele, essa burguesia nunca teve interesses nacionais e
muito menos de desenvolver nosso país. Pensa e age apenas em torno do
lucro imediato, e para isso, se apropria de recursos públicos ou se alia
subalternamente aos interesses da burguesia internacional.

Há alguns meses, os jornais revelaram que haveria 580 bilhões de dólares
de capitalistas brasileiros depositados em paraísos fiscais no exterior. A
maior parte dessa fortuna sai do país sem pagar impostos, e parte dela às
vezes retorna para esquentar investimentos estratégicos, ou mesmo apenas
para limpar sua origem, como revelou o livro do jornalista Amaury Ribeiro
Jr., A privataria Tucana onde descreve esse movimento com detalhes e
nomes.

Por isso, os movimentos sociais e a esquerda de todo o mundo precisam
urgentemente levantar a bandeira da luta contra os paraísos fiscais, suas
isenções e sigilos. Eles são a verdadeira “lavanderia” secreta da maior
parte dos capitalistas financeiros do mundo. Por aí passam também os
verdadeiros ganhadores com o comércio de drogas e armas.

Agora, começam a surgir notícias e estudos revelando um grave processo de
desnacionalização das empresas brasileiras. O Brasil de Fato soma-se a
essa preocupação. Por isso, publicaremos em nossas páginas análises e
matérias para subsidiar esse debate. Parece que a crise que se abateu
sobre o capitalismo financeiro internacional gerou para o Brasil um efeito
contraditório, pois um grande volume daquele capital fictício, para evitar
o risco de perder-se corre para afugentar-se no Brasil. Chegaram aqui, de
2008 para cá, ao em torno de 200 bilhões de dólares por ano. E aqui,
compraram terras, usinas, etanol, hidrelétricas, poços de petróleo,
empresas industriais, e até a empresa de serviços de saúde como a Amil.
Com um cadastro de 8 milhões de brasileiros, a empresa foi
desnacionalizada e passada para um grupo de empresários estadunidenses. No
setor sucroalcooleiro, o movimento foi ainda mais violento. Em apenas três
anos, o capital estrangeiro passou a controlar 58% de todas as terras de
cana, usinas de açúcar e etanol. Hoje, três empresas controlem
verdadeiramente o setor: Bunge, Cargill e Shell! E todos os dias os
jornais da burguesia anunciam novas compra de empresas pelo capital
estrangeiro.

Mas a galinha de ovos de ouro dos capitalistas estrangeiros são as
reservas do pré-sal. Essa é a verdadeira pressão que Obama e o
primeiro-ministro da Inglaterra fizeram sobre a presidenta Dilma: exigem
que o Brasil faça leilões do pré-sal, para que suas empresas possam
explorá-los. Todos sabemos que o petróleo, pelas circunstâncias econômicas
atuais e pelo mercado garantido, gera a maior renda extraordinária que um
capitalista pode sonhar. Pois enquanto o preço de mercado do barril está
ao redor de 120 dólares, o custo de extração do pré-sal é de apenas 16
dólares. A diferença deve ser apropriada pelo Estado e não pelos
interesses do lucro capitalista. Fez bem a presidenta em anunciar que o
governo brasileiro se comprometeria a aplicar todos os recursos advindos
dos royalties do petróleo em educação. Medida sábia e necessária. Porém,
sofreu boicote de sua própria base parlamentar e a proposta sofreu a
primeira derrota no Congresso. Ou seja, a disputa dos recursos naturais
com o capital só será vencida pelo povo, se houver mobilização de massa.
Caso contrário, as empresas petrolíferas garantirão com muita facilidade
seus interesses.

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