José Álvaro de Lima Cardoso,
supervisor do Escritório Regional do Dieese de Santa Catarina.
supervisor do Escritório Regional do Dieese de Santa Catarina.
As medidas duras já começaram a
ser anunciadas. Elas são contra quem?
*José
Álvaro de Lima Cardoso
Como
ocorreu nos golpes de 1954 e 1964 o principal pretexto para a construção do atual
golpe contra a democracia foi o combate a corrupção. A mentira não resistiu a
um dia de governo, com o novo ministério, composto de 23 ministros, sete deles
denunciados na operação Lava Jato. Uma análise superficial dos números
disponíveis, desmonta a farsa sobre o suposto combate à corrupção. Segundo cálculo
de 2013, divulgado pelo diretor-titular do Departamento de Competitividade e
Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz, o valor estimado do custo médio anual
da corrupção no país é de R$ 67 bilhões. Se compararmos com o PIB brasileiro,
de R$ 5,52 trilhões, aquele número, representa 1,2% do PIB, importante, mas
longe de ser dramático. Em
contrapartida, o país deixa de arrecadar aos cofres da União, por ano, cerca de
R$ 500 bilhões, em decorrência da sonegação de impostos.
Ou
seja, a sonegação, que não é nem mencionada pelos “interessados” em combater a
corrupção, é mais de sete vezes mais prejudicial à arrecadação pública do que os
desvios de dinheiro público (no sentido tradicional do termo, claro, porque
sonegação também é uma forma de corrupção). Mas a razão disso não é difícil de
entender. Muito dos envolvidos na trama golpista são os mesmos
que sonegam impostos. Na Operação Zelotes, que trata de sonegação e corrupção
em território nacional, a Polícia Federal investiga desvios da ordem de R$ 20
bilhões (algumas vezes os valores estimados na Lava Jato).
As medidas que o governo provisório
pretende encaminhar têm endereço certo: liquidar com os modestos avanços do
trabalho e da renda obtidos a duras penas nos últimos anos, e até conquistas
anteriores. O teor das medidas, açodadamente anunciadas, tem eixos bem definidos:
acumular recursos para fazer superávit
primário, reduzir os custos do trabalho, e ferir a soberania do Brasil. Através do golpe, estão tentando passar
de contrabando, a proposta que foi rejeitada pelo povo brasileiro em quatro
eleições presidenciais seguidas. Propostas que, mesmo com a blindagem dos
grandes meios de comunicação não conseguem formar maiorias, porque são contra o
povo e contra o Brasil.
Quando se mencionam medidas duras já se
sabe que elas afetam diretamente os trabalhadores e os mais pobres, justamente quem
mais precisam das políticas sociais do Estado. A orientação fundamental das
propostas anunciadas, ou mencionadas, é reduzir custos trabalhistas e o aumento
do grau de exploração dos trabalhadores. As propostas dos discursos dos senadores
golpistas, no fatídico dia 11 de maio, já cantaram as pedras: fazer ajuste
fiscal, reforma da previdência, e realizar a "modernização” da legislação
trabalhista. É a agenda neoliberal, que
não consegue passar nas urnas: fim de todas as “indexações para salários e
benefícios” (portanto fim da política de valorização do salário mínimo);
flexibilização da legislação e retirada de proteções dos trabalhadores;
prevalência do negociado sobre o legislado; fim das vinculações
constitucionais, como gastos mínimos obrigatórios com saúde e educação.
O governo provisório tem levado sua
missão a sério: no primeiro dia de gestão já anunciou que, a partir de julho, as
prestações das moradias financiadas pelo programa “Minha casa, Minha Vida”
ficarão até 237,5% mais caras. Sobre a dívida pública, que drena R$ 500 bilhões
de reais por ano para 10.000 famílias super ricas, e responde por 82% do
déficit público, nem um pio. Por que será que isso acontece?
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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