quinta-feira, 5 de maio de 2016

A força da recessão

O Sensor reproduz análise de Octavio de Barros, do Bradesco, sobre o o comunicado do COPOM.



Ata da última reunião do Copom ainda não sugere corte de juros no curto prazo

Em linha com o comunicado emitido após seu último encontro de política monetária, a ata da reunião do Banco Central descartou a possibilidade de cortes da taxa Selic no curto prazo. O comitê avalia que “apesar dos avanços no combate à inflação”, não há “espaço para a “flexibilização das condições monetárias”. Em nossa opinião, ao longo dos próximos meses, o Copom ganhará convicção sobre a intensidade da desaceleração da inflação corrente e das expectativas, que, em conjunto com a retração da atividade econômica em curso, o levarão a iniciar um novo ciclo de redução da taxa de juros. Com isso, projetamos que a Selic encerrará o ano em 12,25%.

O Copom revisou novamente sua projeção para os preços administrados neste ano, de 5,9% para 6,8%, levando em conta o reajuste de 19,0% das tarifas de água e esgoto e de 12,8% dos preços dos medicamentos. A despeito disso, reduziu suas projeções no cenário de referência para a inflação deste ano e do próximo, que encontram-se agora acima da meta de 4,5% em 2016 e ao redor dela em 2017. Já no cenário de mercado, houve redução da projeção para este ano e aumento para o próximo – nos dois casos, permanecem acima da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O desempenho mais favorável das projeções do BC reflete, em grande medida, a valorização recente do câmbio e ligeira melhora das expectativas do mercado.

O Copom voltou a chamar a atenção para o desempenho da política fiscal, que em sua avaliação, “encontra-se em zona expansionista”. Ressalta ainda que “indefinições e alterações significativas na geração de resultados primários (...) contribuem para acentuar a percepção negativa sobre o ambiente econômico, além de impactarem negativamente as expectativas de inflação”.

Quanto à atividade econômica, ressalta “o processo de distensão no mercado de trabalho e a perspectiva de um hiato do produto mais desinflacionário que o inicialmente previsto” como fatores para as decisões futuras de política monetária. Em relação ao cenário internacional, defende que ainda há um nível elevado de incertezas, mesmo que tenha observado alguma melhora dos preços das commodities desde a sua última reunião.

Por fim, repete o tom do comunicado emitido após o encontro, reconhecendo que apesar dos avanços alcançados no combate à inflação, especialmente na “contenção dos efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos”, o nível ainda elevado da variação dos preços acumulada em doze meses e as expectativas superiores à meta de 4,5% “não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”.

Com isso, acreditamos que o Copom deva optar pela manutenção da Selic na próxima reunião, atentando-se à evolução do cenário. No entanto, a expectativa de continuidade de melhora da inflação acumulada em doze meses e seu impacto favorável sobre as expectativas, em conjunto com uma taxa de câmbio mais apreciada e a força da recessão em curso deverão levá-lo a iniciar um  novo processo de redução da taxa Selic a partir do segundo semestre, que levará a taxa básica de juros a 12,25% ao final do ano.

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