segunda-feira, 4 de maio de 2015

Reino Unido da Precariedade: Um milhão com contratos "zero horas"

 Os contratos "zero horas", que não dão qualquer garantia ao trabalhador, tornaram-se uma prática corrente no Reino Unido, revela um recente estudo de um instituto britânico.

Em algumas empresas do Reino Unido os contratos "zero horas" representam a esmagadora maioria dos vínculos trabalhistas. É o caso da cadeia McDonalds, onde 90% dos trabalhadores (precisamente 82.200 pessoas) estão nestas condições, isto é, tanto podem trabalhar 70 horas por semana como nenhuma, sendo remunerados nessa correspondência.

O empregador não lhes dá qualquer garantia, mas exige-lhes disponibilidade total em função das suas necessidades.

Deste modo, a multinacional do hambúrguer pode dar-se ao luxo de com apenas 1.200 trabalhadores efetivos servir diariamente 2,5 milhões de refeições em terras de sua majestade.

A Sports Direct é outra cadeia comercial muito conhecida que mantém 20 mil trabalhadores com contratos "zero horas", ou seja, 90% da mão-de-obra. O mesmo modelo é aplicado nas lojas Boots ou na Subway.

Como explica uma reportagem do jornal espanhol Público.es., não é raro o trabalhador ser convocado de manhã ao serviço e pouco depois ser enviado para casa porque a afluência de clientes ficou abaixo das expectativas.

O assunto tornou-se num tema quente da atualidade britânica depois de o CIPD (Chartered Institute of Personnel and Development), um instituto especializado em recursos humanos, ter publicado, dia 5, um relatório segundo o qual o universo de trabalhadores nestas condições é quatro vezes maior do que os números oficiais indicam.

Assim, enquanto as estatísticas britânicas apontam para a existência de 250 mil "contratos zero", o estudo do CIPD estima que os números reais rondarão um milhão de pessoas.

Um caso de super-exploração

Por seu turno, o CIPD, que se baseou num inquérito a mais de mil empregadores, mostra que o recurso a esta modalidade de precariedade absoluta se tornou comum em muitos setores de actividade.

Os resultados revelam que 19% dos empregadores inquiridos empregaram pelo menos uma pessoa nestas condições.

No chamado setor do voluntariado esta percentagem sobe para 34%, no setor público para 24% e no setor privado em geral fica-se nos 17%.

Na hotelaria, restauração e entretenimento, 48% dos empregadores admitiram recorrer aos "contratos zero", na educação, 25%, e na saúde, 27%.

É ainda significativo que 25% das empresas com mais de 250 trabalhadores utilizem este tipo de contratos, enquanto o mesmo sucede em apenas 11% das pequenas empresas.

A maioria dos empregadores (54%), que reconhecem utilizar este tipo de contratos, afirmam que eles representam pouco mais de dez% do total de trabalhadores, sendo que a percentagem média é de 16%.

Com base nestas respostas, o CIPD estima que entre três a quatro% dos empregados cobertos pelo inquérito têm contratos "zero horas", o que equivale a um milhão de trabalhadores em todo o Reino Unido.

Além disso, as informações fornecidas por 148 trabalhadores com este tipo de contratos mostram que 14% dos patrões frequente ou muito frequentemente não lhes oferecem o número de horas suficiente para manterem padrões básicos de vida.

Por outro lado, 38% dos trabalhadores consideram que têm um emprego a tempo inteiro, trabalhando 30 ou mais horas por semana.

A verdade é que os contratos "zero horas" estão muito longe de servirem apenas estudantes ou pessoas que desejam trabalhar algumas horas por semana, finalidade para que teriam sido criados.

Segundo o sindicato Unison, a grande maioria destes trabalhadores sujeita-se a estes contratos, sem quaisquer benefícios, como direito a férias, cobertura em caso de doença, seguro de saúde ou indemnização por despedimento, apenas porque não tem outra opção.

Fonte: Avante!. Título do Vermelho. Retirado do site da Fetraconspar.

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