Altamiro Borges, em seu blog

Esta não foi a primeira nem será a última investida de cunho fascista no país. Nas recentes marchas lideradas por grupelhos de direita esta onda de ódio – que estava encubada – mostrou a sua face assustadora. Os manifestantes – que não escondiam sua origem elitista – reivindicaram a volta da ditadura militar, aplaudiram famosos torturadores e destilaram veneno, no pior nível, contra Lula, Dilma e as forças de esquerda. Diante de um prédio ocupado por sem-teto na capital paulista, eles rosnaram: “Vagabundos”, “vai para Cuba” e outros chavões fascistóides.
Antes de Alexandre Padilha, outro ministro petista já tinha sido alvo de agressões. Em fevereiro, ao levar sua esposa para realizar uma sessão de tratamento do câncer no Hospital Albert Einstein, o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) foi “expulso” do local aos berros histéricos de “vai para o SUS” e “vai para Cuba”. O presidente da instituição privada, um sionista famoso pelas opiniões direitistas, até tentou atenuar a ação macabra e criminosa. Em nota, o hospital – que recebe recursos milionários do SUS – afirmou que “recebe igualmente a todos... e rechaça qualquer atitude de intolerância em seu ambiente”. Nada foi apurado, ninguém foi punido e a mídia simplesmente deu sumiço no episódio lamentável.
Merval Pereira, o “imortal” que não escamoteia seu ódio doentio ao “lulopetismo”, até justificou a barbárie. Em artigo repugnante publicado no jornal O Globo, ele afirmou que a agressão ao ex-ministro Guido Mantega é “reflexo do estilo agressivo de fazer política que o PT levou adiante no país nos últimos 12 anos”. Para ele, a cena corroborou a tese das forças golpistas. “O importante a notar é que o impeachment já se tornou um tema inevitável nas análises sobre o futuro do país, e seria hipocrisia tratá-lo como algo de que não se deve falar. O país está convulsionado, e sem uma liderança com grandeza que possa levar a acordos políticos indispensáveis para a superação do impasse que se avizinha”.
Estas e outras cenas de intolerância, sempre alimentadas pela mídia privada, exigem rápida resposta dos poderes públicos e imediata repulsa das forças democráticas do país. Não dá para silenciar diante de idiotas fascistas, como o empresário Danilo Amaral ou os agressores macabros do Hospital Albert Einstein. É urgente polemizar com os “imortais” da imprensa privada, que seguem chocando o ovo da serpente fascista. Neste sentido, cabe parabenizar mais uma vez o escritor e jornalista Fernando Morais, que postou na sua página no Facebook uma dura resposta aos fascistóides que resolveram sair do armário. Sua reação indignada deveria servir de exemplo para outros democratas. Vale conferir:
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Cada vez que um vagabundo insulta em público alguém do governo (como aconteceu meses atrás com o Guido Mantega num hospital e ontem num restaurante com o Alexandre Padilha), fica fácil entender por que São Paulo virou um cemitério de elefantes de extrema direita. Primeiro foi o Roberto Freire. Depois o Bolsonaro Filho. Agora é o Roberto Jefferson que ameaça se candidatar a deputado por São Paulo. Muito apropriado. Aqui é o ninho onde eles estão chocando o ovo da serpente.
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Também vale conferir o artigo do ex-ministro Alexandre Padilha, publicado no blog de Renato Rovai:
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Inaceitáveis instantes de intolerância
Toda vez que uma pessoa que nitidamente nunca passou pela dificuldade de não ter médico no seu bairro, comunidade ou família faz um gesto de ódio ao %u22A#MaisMédicos, fico mais orgulhoso do programa que criei e implantei e de toda luta contra a intolerância, arrogância e descompromisso com os que mais precisam que empreendi quando Ministro da Saúde do Brasil.
Hoje
os jornais estamparam mais uma vitória do Mais Médicos. A nova etapa
mobilizou apenas médicos brasileiros. Atingimos o universo de mais de
18mil médicos, atendendo mais de 63 milhões de brasileiros que não
tinham médico. Isso foi possível por dois motivos. Diferente do desejo
de alguns, dos cerca de 14 mil médicos recrutados a partir de 2013 a
desistência foi ínfima até 2015. O segundo motivo é que o programa
criado pela minha gestão no Ministério da Saúde em 2011 (PROVAB), que
garante pontos para o concurso de residência (especialidade) para
médicos brasileiros que atendem nas periferias revelou-se um sucesso e,
agora, os inscritos em 2015 foram incorporados ao Mais Médicos.
Em
junho de 2013, o governo brasileiro iniciou uma longa batalha para
aprovar a implantar o programa Mais Médicos. Seu objetivo: levar à saúde
para mais perto daqueles que, por não terem plano de saúde, por não
poderem pagar por uma consulta particular, não tinham direito ao cuidado
e ao acolhimento que só o atendimento médico pode oferecer em um
momento de tanta fragilidade como o da dor, o da doença.
Na
ânsia de afrontar os que mais precisam, a democracia é desrespeitada. A
democracia deve ser exercida para a liberdade. Somos um país
democrático também em suas ideias, em seus anseios. O respaldo do Mais
Médicos não é dado por mim. É dado pelos brasileiros e brasileiras
atendidos pelo programa, que antes ansiavam pela presença de um médico, e
por mais de 80% de toda população brasileira.
O
último ato de agressão foi inusitado. Hoje fui convidado para um almoço
em um restaurante no Itaim Bibi (bairro de classe média alta
paulistano) com amigos de infância. São pessoas com quem convivo há mais
de 30 anos. Uma amizade que sobrevive a tudo: distâncias e diferenças
futebolísticas e políticas. Os respeito, convivo, divirto-me com eles
tanto como com as outras amizades, que conquistei ao longo da minha vida
profissional em comunidades da periferia e da Amazônia brasileira e na
militância política. Talvez para a repugnância de alguns e dos
detratores da intolerância, sim, tenho amigos da elite econômica
paulistana e outros tantos tucanos, neoliberais e neoconservadores.
Parte disso, pois minha família com muito esforço me garantiu a
oportunidade de convivermos mesmas escolas e estudar na USP e na
Unicamp. Divergimos em opções de vida, profissionais e na política, mas
essas amizades sobrevivem apesar do clima de agressão, desrespeito, ódio
e intolerância que alguns buscam aquecer no país e na nossa cidade.
Tudo
ocorria normalmente quando de súbito um senhor que já se retirava
começou a fazer um discurso, sendo filmado em vídeo pelo seu colega de
mesa. Embora tenha buscado chamar a atenção do salão, talvez imaginando
que seria solenemente aplaudido, foi absolutamente ignorado pelas
dezenas de pessoas durante o seu ato de agressão. Apenas seu colega de
mesa o aplaudiu. Após sua retirada, os garçons, as pessoas de outras
mesas e o proprietário do estabelecimento prestaram solidariedade a mim.
Meus amigos, que divergem das minhas posições políticas, ficaram
indignados e certamente terão posições de maior rechaço a qualquer
postura de intolerância, falta de educação e agressividade que alguns
oposicionistas do Mais Médicos ainda alimentam pelo país.
Paradoxalmente, episódios como esse são capazes de despertar cada vez
mais as pessoas para que a democracia possa conviver com a diversidade e
a diferença.
Já é um desrespeito
aos meus direitos individuais alguém imaginar que pode me agredir em
público e fazer uso dessa imagem. É um desrespeito ainda maior quando
isso envolve direitos individuais dos meus amigos, que ao contrário do
que pode-se pensar, não possuem nenhuma vinculação partidária nem
política comigo.
Essas agressões
não me abalam. Enfrentei alguns colegas de profissão para defender o
Mais Médicos. Pelas pessoas beneficiadas pelo programa, venci
preconceitos e mentiras. Não é qualquer coisa que me deixa perder o rumo
e o foco. Muito menos me faz levantar de uma mesa repleta de amigos.
Tão pouco me impressionaria com um agressor e um aplauso solitários de
quem não encara um debate democrático e prefere a agressão e a fuga.
No
ano passado, percorri todas as regiões do Estado de São Paulo - o que
possui a maior elite econômica, o mais rico do país e o que mais pediu
por profissionais do Mais Médicos desde a primeira fase até hoje -. Não
foram poucos os depoimentos de agradecimento pelo programa. Ter a
certeza que o Mais Médicos mudou a vida de milhões de brasileiros é a
confirmação de que estamos melhorando a vida das pessoas, principalmente
das que mais precisam, cada vez mais. Ainda precisamos fazer muito para
melhorar a saúde do país. O Mais Médicos é apenas o primeiro e corajoso
passo, dado enquanto fui ministro da Saúde pela presidenta Dilma, para
que a saúde brasileira seja universal.
Posso
deixar alguns frustrados, mas saibam que agressões como essa não me
inibem, não reduzem meu convívio com amigos, sobretudo os não petistas,
nem farão com que eu deixe de frequentar qualquer lugar. Sou feliz por
ter amigos no Itaim Bibi e no Itaim Paulista e gosto muito de
cultivá-los. Tenho muito orgulho de ter criado o Mais Médicos e, como
disse, já enfrentei muito mais do que agressor solitário para
implantá-lo.
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