Prezado colega Joaquim Barbosa.
(via Lista de discussão UERJXXI)
Você
cobrou a exoneração do Ministro da Justiça por ter recebido advogados
das construtoras, alegando no seu Twitter: “Reflita: vc. defende alguém
num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos
perante o juiz, vc. vai recorrer à Política?”
Permita-me
ponderar, caro colega da UERJ, a Política com P maiúsculo, conforme você
bem escreveu, é a mais nobre das atividades humanas, pois é a partir
dela que se constrói uma sociedade rumo ao eldorado ou rumo ao abismo.
É
conveniente deixar claro que todos nós queremos a punição de corruptos,
o fim da corrupção e a repatriação dos bilhões evadidos. No entanto,
esse problema da Petrobras & construtoras está indo muito além
disso. Já extrapolou as decisões (aplaudidas) de um único juiz e passou a
ser uma questão de Estado.
Explico: (1) Países ricos são
aqueles que têm autonomia tecnológica, isto é, dominam o conhecimento
que transforma a natureza em riqueza, desde os projetos de engenharia
até o produto final. (2) Dentre as grandes empresas sediadas no Brasil,
praticamente apenas a Petrobras & construtoras têm autonomia
tecnológica. As outras grandes empresas, por serem mundiais, produzem
bens aqui mas não desenvolvem a tecnologia no Brasil. (3) Quem domina a
tecnologia tem o poder das decisões econômicas e a primazia dos melhores
lucros.
A Petrobras é responsável por cerca de 10% dos
investimentos realizados no País, cujo efeito multiplicador no
crescimento da economia é exponencial. São razões de estado, portanto,
que deveriam levar o governo a interceder politicamente no show de
horrores que está provocando paralisação de setores produtivos da
economia, desemprego e redução do PIB.
O que a Petrobras e
construtoras têm de perene são as suas máquinas, equipamentos, outros
bens materiais, o petróleo, trabalhadores e tecnologia, sinônimo de
conhecimento, que nada têm a ver com os desvios de dinheiro provocados
por meia dúzia de dirigentes ironicamente colocados em liberdade
“premiada”.
Digo, por experiência própria vivenciada no poder
executivo estadual, que a corrupção pode ser totalmente debelada sem
prejudicar as (únicas) grandes empresas nacionais que desenvolvem
tecnologia de forma autônoma.
Infelizmente, ao contrário do que
se esperava, a forma seletiva de divulgação de passos inconclusos e não
julgados do processo ‘lava-jato” está acarretando mais malefícios do que
benefícios, até porque as tais delações (absurdamente) premiadas saíram
dos bafos de bandidos confessos.
Mas isso agora é o de menos. O
pior é ver os negocistas e golpistas de plantão se aproveitando de todo
esse caldeirão de manchetes cientificamente encomendadas para enlamear,
não os corruptos, mas a empresa Petrobras e as construtoras visando à
enfraquecê-las para desnacionalizá-las.
Reflita, caro Joaquim,
(i) com tantas instituições há décadas sugando bilhões de dólares da
nossa economia sem qualquer reação do judiciário, ministérios públicos e
imprensa; (ii) com um processo criminoso de privatizações que aniquilou
empresas e inteligências brasileiras sem que houvesse um só pio desses
órgãos; (iii) e o que vemos agora é a exploração malévola para destruir o
que de melhor nos resta na engenharia brasileira.
Se o problema
fosse realmente punir corruptos, eles não estariam em liberdade
premiada. O alvo é realmente quebrar as últimas grandes empresas
nacionais de engenharia; e logo a engenharia, um dos ramos do
conhecimento que mais cria postos de trabalho em todas as áreas.
Isso
é muito triste para um país que já tem mais de 70% do seu PIB
controlado por não residentes. Será que você e o voluntarioso juiz Moro
conseguem enxergar que existe algo que vai muito além dos
“argumentos/métodos jurídicos” a que você se refere?
Nenhum
“argumento/método jurídico” pode estar acima dos interesses da
sociedade, nem pode ser usado para, por consequência, desgraçar a vida
de milhares de famílias inocentes que dependem do funcionamento pleno
das empresas nacionais que geram conhecimento e riquezas.
Lecionei
durante 36 anos na Faculdade de Engenharia da universidade a qual você
pertence, a UERJ. Sabemos o quanto é árduo a formação de engenheiros
desenvolvedores de tecnologia. E o que temos visto em todo esse episódio
do “petrolão” é a lubrificação dos dutos que podem, mesmo que não
houvesse intenção, levar o nosso petróleo gratuitamente para alhures e
destruir o que nos resta de tecnologia própria nas empresas de energia e
construção civil-mecânica.
Acredite, caro Joaquim, os abutres
já estão a grasnar: “entreguem tudo às empresas estrangeiras”; e, se
elas tomarem conta do pedaço que nos resta, adeus à soberania e à
tecnologia nacional. E isso, acredito, nem você nem o juiz Moro querem.
Certo?
Seria muito bom que juristas de escol colocassem os seus
saberes para impedir a alienação de riquezas e patrimônios nacionais.
Que achas da ideia? Se você puder convide o juiz Moro e apareçam em dois
atos em defesa da Petrobras e Soberania Nacional: dia 24/02,
terça-feira, às18h, na Associação Brasileira de Imprensa, e no dia
seguinte, 25/02, quarta-feira, às 17h, no Clube de Engenharia.
O
que está em jogo são os destinos soberanos do Brasil. Quebrem-se os
políticos e dirigentes corruptos, mas não a grande estatal e a
engenharia nacional.
Cordialmente.
Weber Figueiredo da Silva, D.Sc.
Professor na Engenharia do CEFET-RJ
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