José Álvaro de Lima Cardoso.
A democracia e os direitos sociais e
trabalhistas estão sendo assaltados como nunca o foram. Um dos eixos nucleares do
golpe de Estado em curso é o repasse do ônus da crise econômica para os
trabalhadores. Tenta-se empurrar goela abaixo do povo o programa mais
antinacional e antipopular da história do Brasil, objetivando:
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reduzir o custo da força de trabalho
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implodir a Carta Magna de 1988 e seus avanços civilizatórios
●
transformar direitos sociais em serviços pagos
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revogar a Consolidação das Leis do Trabalho
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vender na bacia das almas, o que restou de patrimônio público (CEF, BB, BNDES,
Petrobrás)
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destruir o Sistema de Seguridade Social
●
entregar de bandeja o pré-sal, maior descoberta de petróleo do milênio (o que
já estão fazendo com muita pressa).
O
programa ultraliberal que estão implantando foi encomendado pelo setor
financeiro e rentistas em geral. O conjunto das maldades em curso interessa
somente àqueles que parasitam o Estado via serviços da dívida pública e por
outros meios, em prejuízo de toda a população, especialmente dos mais pobres. O
empresariado industrial está apoiando o conjunto das atrocidades que estão
sendo praticadas contra o País, porque também vive de juros e não defende um projeto
nacional de desenvolvimento, por mínimo que seja. Esse apoio representa um
imenso tiro no pé, que pode destruir o país, como ficará cada vez mais evidente.
O programa coloca em risco a própria soberania do país. Se a indústria é arrebentada,
se os recursos naturais são vendidos a preço de banana, se as leis trabalhistas
são destruídas, e o mercado consumidor interno e a seguridade social são
liquidados, perde-se as bases da soberania nacional. Um país com políticas
voltadas exclusivamente para o interesse do 1% mais ricos é país sem futuro, inviável
sob todos os pontos de vista.
Os ataques aos direitos e aos sindicatos são
desencadeados num contexto, estruturalmente bastante adverso. A taxa de
sindicalização é baixa, girando em torno dos 17%, e uma boa parte dos
sindicatos foi seduzida pela lógica da meritocracia e pelas saídas individuais para
os problemas da classe trabalhadora. O trabalho assalariado, por sua vez, ainda
é apenas um grande sonho, interrompido bruscamente pelo golpe de Estado, que
agravou todos os indicadores do mercado de trabalho. Passados 74 anos de
existência da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), uma das grandes utopias do
movimento sindical continua sendo a regulação do trabalho, que sirva ao
conjunto da classe trabalhadora. Por outro lado, há um conjunto de temas a
respeito dos quais os sindicatos têm imensas dificuldades em interferir como é
o caso da privatização dos transportes, da educação, da saúde e outros. A insuficiente
resistência ao golpe até aqui decorreu, em parte, pelo ainda baixo nível de consciência
e pela frágil capacidade de organização política da classe trabalhadora.
É nesse
contexto que temos que entender projeto da contrarreforma trabalhista, que visa
reduzir custos diretos e indiretos do trabalho e enfraquecer as principais
estruturas de defesa dos trabalhadores, principalmente os sindicatos e a
Justiça do Trabalho. De quebra, a proposta de destruição da
CLT irá acelerar a inviabilização da previdência social, na medida em que, ao
expulsar trabalhadores do mercado formal de trabalho, irá reduzir a base de
arrecadação da previdência, que incide sobre a folha salarial com carteira
assinada.
A
proposta trabalhista é de interesse exclusivo dos patrões e vai elevar a taxa
de exploração dos trabalhadores. O portal The Intercept Brasil examinou as 850
emendas apresentadas por 82 deputados durante a discussão do projeto na
comissão especial da Reforma Trabalhista, nos últimos dias de abril. Das tais propostas
de emendas apresentadas, 292 (34,3% do total) foram integralmente redigidas em
computadores de representantes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da
Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e
Logística (NTC&Logística). O
pior é que a tentativa de destruição dos direitos vem num contexto
de elevação da taxa de desemprego, ou seja, há um crescimento do exército
industrial de reserva, o que contribui para a queda dos salários. A reforma
trabalhista irá aumentar a desigualdade social num país que já é extremamente
injusto. Ademais irá aumentar a informalidade, onde quase 50% da
população ocupada já se encontra.
Mas
como estão impondo um programa radicalmente antinacional e anti povo, no
contexto de uma democracia formal (por mais restrita que seja), precisam quebrar
os joelhos da resistência popular. E, com todas as limitações existentes, o
movimento sindical e social são quem dispõe de massa crítica e estrutura para resistir.
Precisam não apenas aumentar o chamado “precariado” no seio da força de
trabalho - caracterizado pelo menor custo, pela desarticulação política e pela
não organização em sindicatos - mas também esgotar a capacidade de resistência do
movimento sindical brasileiro.
Mesmo
estando apenas uma parte dos trabalhadores sob a proteção das entidades
sindicais, via filiação, os ataques aos direitos atingem o povo pobre como um
todo. Por exemplo, a destruição da previdência social, intenção primeira da PEC
287, irá piorar a vida de cerca de 100 milhões de compatriotas. A
responsabilidade do movimento sindical brasileiro neste momento é imensa e possivelmente
significa a maior batalha de sua história. Mas não há dúvidas que terá que cerrar
fileiras ao lado do povo trabalhador contra o pior ataque aos direitos sociais
e trabalhistas da história do Brasil.
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