No Jornal GGN
Por André
Araújo
Não é
preciso mais Marines para invadir e ocupar países emergentes. Os EUA
descobriram um método muito mais barato de imperialismo, que atende pelo nome
de Acordos de Cooperação Judiciária, onde o lado MAIS FORTE comanda os outros
pela lógica de quem tem o poder real manda em que tem apenas um poder formal.
Um acordo entre países absolutamente desiguais jamais seria um acordo
equilibrado, a balança vai sempre pender para a parte contratante mais forte.
Os EUA
aplicam multas de US$ 2,6 bilhões ao Credit Suisse, US$900 milhões ao UBS Union
des Banques Suisses, US$ 14 bilhões ao Deutsche Bank, US$ 230 milhões à
Embraer, US$2,6 bilhões à Odebrecht, fecharam o banco suíço bicentenário
Wegelin & Cie., prenderam o brasileiro José Maria Marin na Suíça, tudo com
base nos Acordos de Cooperação Judiciária, MAS alguém ouviu falar de um País
aplicar multas a empresas americanas nos EUA e prender americanos dentro dos
EUA?
Claro que
não, os Acordos são a FAVOR dos EUA e contra outros países. A Chevron vazou
óleo nas águas brasileiras da bacia de Campos? O governo do Brasil pensou em
processar a Chevron NOS EUA? Jamais se atreveria a pedir a cooperação do
Departamento de Justiça para tal atrevimento, mas o Brasil ofereceu servilmente
entregar a Petrobras e a Odebrecht ao Departamento de Justiça, para lá serem
processadas e multadas e, no caminho, terem que contratar caríssimos advogados
americanos, depois disso o Departamento de Justiça indica fiscais americanos
(“Monitors”) para ficarem DENTRO da Petrobras e da Odebrecht por 10 anos,
controlando todos os contratos, obras, investimentos para ver se as empresas
atendem aos padrões americanos de COMPLIANCE.
Parece um
delírio? Não, é a PURA REALIDADE que está acontecendo agora.
Nessas
duas empresas, os fiscais (“Monitors”) já estão no Brasil dentro das empresas,
também estão na EMBRAER acompanhando todo seu programa de venda de aviões. E
quem paga esses fiscais, seus honorários e manutenção? Ora, que pergunta, somos
nós, os brasileiros, NÓS pagamos tudo, as multas, os advogados, os fiscais e
ainda ficamos contentes com o privilégio de sustentar esse circo de horrores.
E, atenção, os honorários dos fiscais são ALTÍSSIMOS.
O pior
não é o fato, o pior são funcionários do governo brasileiro acharem isso normal
a até prazeroso, batem palmas em homenagem aos senhores americanos de quem
também recebem “homenagens” orgulhosamente noticiadas por nossa imprensa servil
e ignorante.
Ninguém,
nem as autoridades brasileiras e muito menos a imprensa ignorante, vê a
aberração da AFRONTA A NOSSA SOBERANIA, somos tratados abaixo do Haiti e acham
isso ótimo.
A nossa
mídia idiota noticia com orgulho que somos cumprimentados pelas autoridades de
outros países como EXEMPLO de combate à corrupção, nos automutilamos e ficamos
felizes.
Os
Acordos de Cooperação Judiciária são para os EUA agirem contra e em outros
Países, NÃO é para outros Países agirem dentro e contra os EUA, deu para
entender?
Se existe
uma cláusula histórica nos EUA é essa, eles NÃO ACEITAREM, EM HIPÓTESE ALGUMA,
jurisdição estrangeira em seus assuntos e sobre seus nacionais, todos os
Tratados onde os EUA são parte destacam como CLÁUSULA PÉTREA que cidadãos
americanos NÃO SE SUBMETEM À JURISDIÇÃO ESTRANGEIRA, nunca e em nenhuma
hipótese.
Então os
Acordos são um INSTRUMENTO de intervenção do Governo dos EUA dentro de outros
países, atingindo suas empresas e cidadãos, MAS não é para esses Países se
imiscuirem nos EUA contra suas empresas e cidadãos, é preciso que isso fique
bem claro.
Não é
preciso desembarcar tropas nem tanques, os procuradores de cada País funcionam
como prepostos do controle sobre empresas que estão se lançando nos mercados
externos concorrendo com as americanas e em outro patamar vetam ou prendem
políticos que não estão no figurino de colaboração com os EUA, portanto esses
Acordos que nascem de uma boa intenção servem para o poder geopolítico dos EUA,
foram desenhados para isso.
OS EUA
são campeões mundiais na ciência e aplicação de instrumentos de poder A REBOQUE
DE BOAS CAUSAS. Ninguém é a favor da corrupção, da lavagem de dinheiro e do
terrorismo, MAS essas boas causas podem também ser usadas como cobertura para
projeção de poder dos EUA sobre o mundo. Os americanos são PERITOS nisso, é o
“faz de conta” que fez Hollywood ser a meca do cinema e a Disneyworld ser o
mundo da fantasia encantada.
A
montagem de cenários de “make believe”, faz de conta, é uma invenção americana.
Logo
depois do fim da Primeira Guerra Mundial, a antiga Rússia Imperial transformada
em União Soviética conheceu um período de FOME pavoroso, porque, com a Grande
Guerra, os campos deixaram de ser cultivados e os estragos da guerra provocaram
uma completa escassez de alimentos até a agricultura ser reconstituída sobre a
terra arrasada.
O futuro
presidente Herbert Hoover, ao fim da Grande Guerra e morando em Londres, era um
rico engenheiro de minas, coordenou uma comissão para ajuda à Bélgica e norte
da França, levando alimentos a essa área especialmente devastada pela ocupação
alemã. A chamada Comissão Hoover para Socorro à Bélgica se transformou em
grande ampliação em um ente oficial, a Comissão Americana de Socorro (American
Relief Commission), já com dinheiro público, mandou alimentos aos hospitais de
São Petersburgo, e em um novo programa, ofereceu ajuda à União Soviética para
suprir o País de alimentos, visando atravessar o período negro da fome nas
cidades. Foi uma oferta generosa, Lenin agradeceu mas ao ver as “condições” da
Comissão recusou o auxílio. Porque? As “condições” significariam entregar o
domínio de vasto território da Rússia europeia, incluindo São Petersburgo e
Moscou, ao “controle” da Comissão Americana de Socorro, quer dizer, eles
entregavam alimentos mas controlariam todo o transporte, a logística, a rede
ferroviária, a forma de distribuição e armazenamento, o sistema de cadernetas
de entrega para cada família, os pontos de entrega da farinha, a propaganda
implícita nos anúncios de distribuição.
Lenin
educadamente recusou a proposta de ajuda, porque viu que por trás da
filantropia havia um mecanismo de governo paralelo do território através da
doação de alimentos.
A
narrativa está detalhadamente contada no livro A RÚSSIA E O OCIDENTE, de George
Kennan, o diplomata mais importante dos EUA no Século XX, Embaixador em Moscou
na década de 50 e chefe do planejamento estratégico do Departamento de Estado.
Esse livro existe em português (Editora Forense) e sugiro a leitura, também em
português, da primeira parte das memórias de Kennan, em dois volumes,
1915-1950, editora Top Books, publicado no Brasil entre outras razões por minha
sugestão. Vê-se então que já naquela longínqua época os EUA usavam a capa das
CAUSAS NOBRES para mascarar ações geopolíticas de primeira grandeza.
Hoje
essas CAUSAS NOBRES se escondem atrás dos Acordos de Cooperação Judiciária, que
permitem ao Departamento de Justiça INTERVIR dentro de Países como se os EUA
fosse um poder soberano universal, sempre em nome de boas causas, combate ao
tráfico de drogas, ao terrorismo, à lavagem de dinheiro, à corrupção, todas são
bons disfarces para a intervenção descarada e muito bem aceita por seus
parceiros locais, que se julgam honrados em tal papel.
Mas
porque os Países aceitam esses Acordos? Em grande parte por IGNOR NCIA das
reais intenções dos EUA, por subserviência, por vontade de agradar, por falta
de percepção intelectual. O General De Gaulle, por exemplo, sempre astuto e com
sexto sentido, jamais confiou nos americanos e nunca quis saber de seus
programas de “cooperação” porque percebia a mão do gato por trás desses acordos
aparentemente a favor de boas causas.
A ação do
Departamento de Justiça é altamente seletiva e tem pontaria geopolítica.
Quando o País alvo colabora e se submete voluntariamente aos EUA o Departamento de Justiça não precisa gastar esforços, queimar energia e mão de obra, o território “já está na rede”, a cooperação “está´no papo”, já é território conquistado.
Quando o País alvo colabora e se submete voluntariamente aos EUA o Departamento de Justiça não precisa gastar esforços, queimar energia e mão de obra, o território “já está na rede”, a cooperação “está´no papo”, já é território conquistado.
O Brasil
como ESTADO NACIONAL tinha obtido extraordinária projeção de poder na América
Latina e na África através de suas empreiteiras e marqueteiros políticos, operando
e influenciando governos que se ligavam dessa forma ao Brasil. Era um esquema
azeitado e operacional, conjugando obras e verbas para campanhas políticas,
Talleyrand não faria melhor, o Brasil usando todas as armas para se posicionar
no jogo do poder, o dinheiro era uma dessas armas, assim como a capacidade de
infiltração nas esferas de poder de países emergentes, tudo dentro do figurino
de grandes potências, que usam as mesmas armas há séculos.
Entra
então o moralismo e DESTRÓI todo o esquema vitorioso, expulsando o Brasil
desses países onde o nosso bom mocismo também desgraçou políticos locais amigos
do Brasil e que nos foram benéficos em obras e projeção política. O Brasil foi
varrido como potência influente em mais de 15 países para que nosso moralismo
fosse glorificado no Departamento de Justiça, a custa dos interesses
financeiros e políticos do Estado brasileiro. E ainda nossa mídia acha isso
bonito, reparando depois que o Brasil “está em crise”. Quebram a locomotiva e
depois se queixam que o trem não anda, não tem QI para ver que uma coisa tem
ligação com outra ,as empreiteiras brasileiras abrem negócios para o Brasil em
continuidade de sua presença.
Só um
país completamente desmiolado joga fora o trabalho de décadas em nome da
implantação da moralidade franciscana, mas aonde pensam que estão? Em que
mundo?
Ora, o
Brasil vai tornar Angola e Peru livres de corrupção, purificamos esses países
ímpios porque nossos promotores denunciaram nossas empreiteiras e estas por sua
vez denunciaram os políticos corruptos desses países, onde éramos bem
recebidos, como somos inteligentes, ora pois, Angola estava cada vez mais
“abrasileirada”, agora entregamos Angola aos americanos e chineses, brasileiro
lá nem como turista, entramos na casa e sujamos a cozinha.
Os cursos
de “compliance” dos mais admirados pelos jovens advogados e executivos dos
países colonizados, são uma invenção americana. Fazendo os cursos as mentes
desses alunos já ficam formatadas para achar pelo em ovo em negócios e
contratos, só servem se estão no figurino americano e dentro dos padrões da
justiça e da advocacia pregada pelos americanos, mas que são mais um “faz de
conta” que uma realidade, uma espécie de Disneyworld onde se recria um mundo de
fantasia , lá tudo é bonito e limpinho, um mundo só do bem com alguns
pecadilhos, como a Halliburton pagar US$150 milhões de propina na Nigéria, isso
coisa bem recente, de 2011, na cara do “compliance” e do Departamento de
Justiça, depois pegaram a corrupção, impuseram multa de US$ 456 milhões, a Halliburton
pagou mas a empresa não foi nem tocada, nem chegou a arranhar seu valor de
bolsa, a Halliburton seguiu poderosíssima, amparada por um de seus lordes, o
ex-Vice Presidente Dick Cheney, é atuante no Brasil, um dos maiores
fornecedores da Petrobras, bonitinha mas ordinária.
Se um
país cheio de malvados for bonzinho com os EUA não precisa de “compliance”, as
“boas causas” somem. O ruim vira bom, o corrupto vira santo, o lixão vira
perfumaria.
A EXXON
MOBIL, empresa símbolo dos EUA, anteriormente conhecida como Standard Oil Co.of
New Jersey, assinou em 2016 um contrato de exploração do pré-sal angolano com a
SONANGOL, cuja fama de empresa corrupta é lendária, sua presidente do Conselho,
Isabel dos Santos, filha do Presidente vitalício, José Eduardo dos Santos, é a
mulher mais rica da África, segundo a revista americana FORBES.
Como a
simpática, charmosa e bonita Isabel dos Santos nunca foi empresária por seus
próprios esforços e sim herdeira do pai, portanto a corrupção no caso é auto
explicável, não precisa de “compliance”. Ora, se nos padrões americanos a
corrupção é repulsiva, como o Departamento de Justiça aprovou o contrato da
EXXON MOBIL com a SONANGOL, cadê o COMPLIANCE? Os famosos ex-Ministros de
Angola são quase todos bilionários, alguns bem conhecidos no Brasil, com
apartamentos na Vieira Souto, o dinheiro deles veio da SONANGOL, de onde
sumiram em um exercício contábil US$32 bilhões, segundo a imprensa econômica
americana. Mas evidentemente a SONANGOL, ao contrário da Petrobras, jamais teve
problemas com o Departamento de Justiça.
A
ODEBRECHT é corrupta mas e a SONANGOL? Há uma diferença substancial, a
Odebrecht concorre com empresas americanas mas a Sonangol COLABORA com uma
empresa americana, o que explica tudo não é mesmo? Aos amigos tudo, aos inimigos
COMPLIANCE.
O pior da
história é que tem gente no Brasil que acha ótima essa interferência do
Departamento de Justiça no País. Quando Marin foi preso na Suíça por agentes do
FBI, um ato de arrogância único, o governo do Brasil não defendeu Marin, portador
de passaporte brasileiro e aqui no Brasil comentaristas esportivos como Juca
Kfouri e Flávio Prado elogiaram a ação dos EUA, “agora a coisa é séria” dizia
Prado no seu programa Mesa Redonda, Kfouri também ficou exultante, SEM PERCEBER
o absurdo e a ilegitimidade de um governo estrangeiro prender um cidadão
brasileiro em um terceiro País por delitos que não foram cometidos nos EUA, o
fato de Marin ter ficha ruim é problema do Brasil e não dos EUA.
Quer
dizer, a jurisdição americana se fazendo valer na Suíça para prender um
brasileiro por delitos que não foram cometidos nem nos EUA e nem na Suíça, o
FBI agindo como uma “ polícia do Mundo” e brasileiros achando isso normal e até
elogiando SEM PERCEBER a aberração do ataque à soberania brasileira sem nenhuma
cerimônia, o que demonstra uma completa alienação e desconhecimento do conceito
de Estado nacional por parte de muitos brasileiros que não dão valor à
nacionalidade e ao valor e prestígio de seu Estado protetor.
Na ÚNICA
vez em que o Brasil poderia invocar o Acordo de Cooperação Judiciária de 2001 a
seu favor, no caso dos pilotos americanos do Legacy que derrubaram no Brasil um
jato da GOL causando 183 mortes, nesse caso o Acordo de Cooperação Judiciária
NÃO FUNCIONOU, os EUA não entregaram os pilotos americanos condenados no Brasil
e jamais entregarão, aliás o Brasil nem pediu porque já sabe que esse Acordo só
funciona A FAVOR DOS INTERESSES AMERICANOS. Para completar o erro em cima do
equívoco do Acordo, a autoridade brasileira que devia operar o Acordo, segundo
estipulado no próprio Acordo, seria o Ministro da Justiça, titulado como
AUTORIDADE CENTRAL no texto do Acordo. Pois no limite do absurdo o Ministério
da Justiça ABDICOU desse poder e terceirizou a operação do Acordo na
Procuradoria Geral da República, algo NÃO previsto no Acordo. A PGR não tem
formalmente a representação diplomática no Acordo porque no Brasil a PGR não é
um ente do Poder Executivo, único poder que representa no exterior o Estado
brasileiro. Já a PGR é um organismo autônomo e jamais poderia se projetar fora
do País, capacidade que é exclusiva e indelegável do Ministério da Justiça.
Porque este abdicou desse poder?
Na minha
visão por ignorância sobre a importância do Acordo e em segundo lugar por
preguiça, vamos deixar esse trabalho para a PGR, que inclusive montou um setor
para cuidar desses acordos. Portanto um acordo dessa importância não conta com
a supervisão nem do Ministério da Justiça e nem do Ministério das Relações
Exteriores. E o Brasil ainda pretende ter uma cadeira no Conselho de Segurança
da ONU, um País que não cuida nem de seu quintal quer patrulhar o mundo, é uma
piada de mau gosto.
Mas
porque a PGR não deve ser o operador do Acordo no Brasil? Porque o Acordo NÃO é
apenas um mecanismo judicial, o Acordo TEM IMPLICAÇÕES POLÍTICAS , é assunto de
Estado, não é assunto de uma burocracia jurídica apenas, questões econômicas de
grande envergadura transitam SOB esse acordo, não é só uma questão de processos
e inquéritos, há interesses que afetam todos os aspectos do Estado, muito além
de réus individuais.
Para fins
de registro, o Acordo do Cooperação Judiciária Brasil-EUA de 2001 foi assinado
pelo do Governo FHC e tem tudo a ver com a ideologia subserviente desse
governo, mas o governo do PT nada fez para operar com visão nacional esse
acordo, ao contrário, entregou sua gestão à burocracia judiciária, quando o
eixo desse acordo no Brasil é o MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Desde sua assinatura, em
2001, NUNCA se viu na imprensa uma única manifestação do MINISTRO DA JUSTIÇA
sobre esse acordo que coloca em xeque a SOBERANIA do Estado brasileiro sobre
seus cidadãos e suas empresas, NEM UMA PALAVRA, COMENTÁRIO, OBSERVAÇÃO, o
Acordo corre solto, as multas ainda sem a Petrobras já atingem BILHÕES DE
DÓLARES a serem pagas ao Tesouro dos EUA, como se tudo isso fosse normal e
aceitável.
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