José Álvaro de Lima Cardoso.
Temer
pode não saber, mas já está liquidado. Só se encontra formalmente no cargo de
presidente porque as facções golpistas não chegaram a um acordo em relação à
continuidade do golpe. Irá cair porque um segmento dos golpistas viu que não conseguirá
irá entregar o que prometeu, especialmente, a destruição da seguridade social e
os direitos sociais e trabalhistas (essas são as principais neste momento, mas
o cardápio de crimes contra o Brasil é mito mais amplo. Os golpistas
provavelmente têm muito mais maldades a realizar, que ainda não revelaram). A
base parlamentar de Temer, corrupta até os ossos, começa a se esfarelar, o que
é típico de ambientes de “fim de festa”.
Uma facção dos golpistas está tentando
viabilizar, pela via indireta, um novo representante para aprovar as contrarreformas,
especialmente o fim da Seguridade Social e dos direitos trabalhistas. Outra
parte, em franca diminuição numérica, aposta suas últimas fichas no atual
governo ilegítimo. O restinho do governo Temer advém de uma divergência tática
entre os golpistas, no que refere ao seu preposto. Porém eles mantêm a unidade
estratégica no que se refere à destruição dos direitos e à realização de eleições
indiretas, via Congresso.
A unidade do bloco golpista está em manter
o povo longe da escolha, via a realização de eleições indiretas. Para eles o
melhor é a eleição do presidente num jogo de cartas marcadas, por um oongresso
corrupto, para garantir a continuidade do golpe, com a aprovação das
contrarreformas da previdência e trabalhista, além da entrega das riquezas
naturais e estatais ao capital internacional. Realização de golpes de Estado é tarefa
complexa e perigosa. O golpe no Brasil não foi executado para, candidamente,
devolver o governo central às forças progressistas nas próximas eleições.
A vinda à público do conteúdo da delação
da JBS foi iniciativa de parte dos golpistas para seguir com os seus objetivos.
O ideal, para eles, seria que o governo Temer, mesmo com todos os seus problemas,
tivesse cumprido os objetivos do golpe (contrarreformas, entrega do pré-sal,
destruição da esquerda, etc.), de preferência com algum grau de apoio da
população. Afinal não tem blindagem da mídia que sustente um governo que é
rejeitado por, no mínimo, 95% da população.
O fim do governo Temer, no conjunto dos
acontecimentos, é importante e abre oportunidades de virada do jogo por parte
do movimento popular. Mas se os golpistas divergem momentaneamente sobre o que
fazer com o governo Temer, têm unidade estratégica em torno da continuidade do
golpe. Mais do que isso, a liquidação de Temer decorre da necessidade de
aprofundamento do golpe, ou seja, da aprovação das contrarreformas da
previdência e trabalhista. O vazamento das gravações contra Temer e Aécio,
mostra apenas que a iniciativa política continua na mão dos golpistas. É uma
crise interna das facções que participaram do golpe, mas a iniciativa é dos
golpistas. Claro é uma operação arriscada porque podem perder o controle do
processo.
A cisão no bloco golpista está relacionada
ao próprio crescimento do movimento de massas, visível principalmente a partir
das mobilizações de março. O grau de repressão e truculência à manifestação do
dia 24 é sintoma de que esses blocos estão muito preocupados com o avanço das
mobilizações. Não por acaso os setores que ainda tentavam manter Temer através
de aparelhos já estão abrindo mão e, ao que tudo indica, estão apenas
discutindo a melhor forma de se livrar dele, evitando, por exemplo sua prisão.
Com todos os poderes metidos no golpe, não
há saída, a não ser as manifestações populares e a organização dos
trabalhadores através de suas entidades. O Congresso começa a preparar-se para
eleger, por via indireta, um sucessor sem voto, o que só poderá ser impedido se
as forças populares e democráticas forem capazes de produzir uma grande
mobilização em defesa das eleições diretas. A única forma de interromper o
golpe, que agora pode continuar sem Temer, é a mobilização popular, que parece
ter ingressado num patamar superior.
*Economista.
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