terça-feira, 30 de maio de 2017

O fim de Temer é uma iniciativa da estratégia golpista



José Álvaro de Lima Cardoso.

     Temer pode não saber, mas já está liquidado. Só se encontra formalmente no cargo de presidente porque as facções golpistas não chegaram a um acordo em relação à continuidade do golpe. Irá cair porque um segmento dos golpistas viu que não conseguirá irá entregar o que prometeu, especialmente, a destruição da seguridade social e os direitos sociais e trabalhistas (essas são as principais neste momento, mas o cardápio de crimes contra o Brasil é mito mais amplo. Os golpistas provavelmente têm muito mais maldades a realizar, que ainda não revelaram). A base parlamentar de Temer, corrupta até os ossos, começa a se esfarelar, o que é típico de ambientes de “fim de festa”.
        Uma facção dos golpistas está tentando viabilizar, pela via indireta, um novo representante para aprovar as contrarreformas, especialmente o fim da Seguridade Social e dos direitos trabalhistas. Outra parte, em franca diminuição numérica, aposta suas últimas fichas no atual governo ilegítimo. O restinho do governo Temer advém de uma divergência tática entre os golpistas, no que refere ao seu preposto. Porém eles mantêm a unidade estratégica no que se refere à destruição dos direitos e à realização de eleições indiretas, via Congresso.
     A unidade do bloco golpista está em manter o povo longe da escolha, via a realização de eleições indiretas. Para eles o melhor é a eleição do presidente num jogo de cartas marcadas, por um oongresso corrupto, para garantir a continuidade do golpe, com a aprovação das contrarreformas da previdência e trabalhista, além da entrega das riquezas naturais e estatais ao capital internacional. Realização de golpes de Estado é tarefa complexa e perigosa. O golpe no Brasil não foi executado para, candidamente, devolver o governo central às forças progressistas nas próximas eleições.
     A vinda à público do conteúdo da delação da JBS foi iniciativa de parte dos golpistas para seguir com os seus objetivos. O ideal, para eles, seria que o governo Temer, mesmo com todos os seus problemas, tivesse cumprido os objetivos do golpe (contrarreformas, entrega do pré-sal, destruição da esquerda, etc.), de preferência com algum grau de apoio da população. Afinal não tem blindagem da mídia que sustente um governo que é rejeitado por, no mínimo, 95% da população.
     O fim do governo Temer, no conjunto dos acontecimentos, é importante e abre oportunidades de virada do jogo por parte do movimento popular. Mas se os golpistas divergem momentaneamente sobre o que fazer com o governo Temer, têm unidade estratégica em torno da continuidade do golpe. Mais do que isso, a liquidação de Temer decorre da necessidade de aprofundamento do golpe, ou seja, da aprovação das contrarreformas da previdência e trabalhista. O vazamento das gravações contra Temer e Aécio, mostra apenas que a iniciativa política continua na mão dos golpistas. É uma crise interna das facções que participaram do golpe, mas a iniciativa é dos golpistas. Claro é uma operação arriscada porque podem perder o controle do processo. 
     A cisão no bloco golpista está relacionada ao próprio crescimento do movimento de massas, visível principalmente a partir das mobilizações de março. O grau de repressão e truculência à manifestação do dia 24 é sintoma de que esses blocos estão muito preocupados com o avanço das mobilizações. Não por acaso os setores que ainda tentavam manter Temer através de aparelhos já estão abrindo mão e, ao que tudo indica, estão apenas discutindo a melhor forma de se livrar dele, evitando, por exemplo sua prisão.  
     Com todos os poderes metidos no golpe, não há saída, a não ser as manifestações populares e a organização dos trabalhadores através de suas entidades. O Congresso começa a preparar-se para eleger, por via indireta, um sucessor sem voto, o que só poderá ser impedido se as forças populares e democráticas forem capazes de produzir uma grande mobilização em defesa das eleições diretas. A única forma de interromper o golpe, que agora pode continuar sem Temer, é a mobilização popular, que parece ter ingressado num patamar superior.
                                                                                                         *Economista.

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