quarta-feira, 31 de maio de 2017

Precisam quebrar a principal linha de resistência dos trabalhadores



 

                                                                                                                          José Álvaro de Lima Cardoso.
         O grupo que tomou o poder à força em 2016, e que, cindido e denunciado até o talo, luta para mantê-lo neste momento, vem destruindo a democracia e as instituições visando implantar um projeto ultraneoliberal, que não se realizou em plenitude em nenhuma parte do mundo. Dentre os objetivos básicos deste grupo está o de reduzir ao máximo a ação do Estado brasileiro em todas as suas dimensões. Não há direitos sociais sem um Estado que possa garanti-los na prática. Por isso quando votaram a Emenda Constitucional 95 (a PEC da Morte), que congela gastos sociais por 20 anos, no fundo, estavam agredindo a própria soberania do país.
     Não há país soberano com um povo que não tenha o mínimo de sossego e bem-estar social. O congelamento dos gastos sociais por 20 anos, para, conforme foi revelado, pagar ainda mais juros da dívida pública, significa que os golpistas não queriam apenas aprovar uma medida absurda, que não foi adotada em nenhuma parte do mundo. Mais do que isso, queriam obrigar os futuros governos a executarem as políticas neoliberais ultrarradicais que vêm implantando. É um projeto de destruição de direitos e soberania, pensado para durar décadas.
     Nessa política de subserviência e de entreguismo extremos, não cabe a indústria nacional, tampouco direitos ou mesmo políticas de Seguridade Social. Menos ainda estatais em setores estratégicos, daí o interesse em privatizar o que restou de patrimônio público (CEF, BB, BNDES, Petrobrás, estatais estaduais). Fundamental também entregar a joia da Coroa, o pré-sal, que mudou a inserção do Brasil no mundo, na área energética. Por isso é fundamental desmontar a Petrobrás como já vêm fazendo os golpistas desde a primeira hora de governo. 
     Para os sindicatos de trabalhadores, e para a esmagadora maioria dos brasileiros, a luta contra o golpe não significa uma defesa abstrata ou teórica da democracia. Se trata de uma questão de sobrevivência. Ou a gente acaba com o golpe ou o golpe acaba com o movimento sindical, com a aposentadoria, com as estatais, com a Petrobrás. Acabam com o Brasil. Fecham os partidos democráticos e liquidam o pouco que restou de democracia. Não é uma posição teórica ou meramente ideológica. É questão de vida ou morte (inclusive física por que há uma evidente restrição da democracia desde o golpe).  A restrição da democracia não ocorre por acaso. Como calar 150, ou 160 milhões de brasileiros que se recusam a ir para o matadouro como gado, com comportamento bovino, em face da destruição do país?  Para 90% ou 95% da população, quem pode prescindir da seguridade social, dos serviços públicos, das leis trabalhistas, dos recursos do pré-sal? Não é por acaso que Temer é o presidente que tem a menor taxa de aprovação da história.
       A radicalização advinda do golpe de Estado está evidenciando que, ao fim e ao cabo, quem pode defender os trabalhadores são suas organizações, por mais limitações que ainda tenham. A mobilização popular organizada pelos sindicatos e movimento popular, foi decisiva inclusive na mudança da conjuntura, provocando rachaduras no bloco golpista. Se não fossem as mobilizações, que agora parecem ter agregado uma parte da classe trabalhadora que estava apática, os golpistas não teriam rachado, fenômeno que abre uma brecha importante para a luta do povo. Com todos os poderes da República envolvidos até o pescoço no golpe, quem ainda pode defender os trabalhadores contra o golpismo e todas as suas consequências são as organizações sindicais e sociais. Por isso está no centro da estratégia do inimigo a destruição da principal linha de resistência dos trabalhadores.
                                                                                                             *Economista.

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