José
Álvaro de Lima Cardoso.
O grupo que tomou o poder à
força em 2016, e que, cindido e denunciado até o talo, luta para mantê-lo neste
momento, vem destruindo a democracia e as instituições visando
implantar um projeto ultraneoliberal, que não se realizou em plenitude em
nenhuma parte do mundo. Dentre os objetivos básicos deste grupo está o de
reduzir ao máximo a ação do Estado brasileiro em todas as suas dimensões. Não
há direitos sociais sem um Estado que possa garanti-los na prática. Por isso
quando votaram a Emenda Constitucional 95 (a PEC da Morte), que congela gastos
sociais por 20 anos, no fundo, estavam agredindo a própria soberania do país.
Não há país soberano com um povo que não
tenha o mínimo de sossego e bem-estar social. O congelamento dos gastos sociais
por 20 anos, para, conforme foi revelado, pagar ainda mais juros da dívida
pública, significa que os golpistas não queriam apenas aprovar uma medida
absurda, que não foi adotada em nenhuma parte do mundo. Mais do que isso,
queriam obrigar os futuros governos a executarem as políticas neoliberais
ultrarradicais que vêm implantando. É um projeto de destruição de direitos e
soberania, pensado para durar décadas.
Nessa política de subserviência e de
entreguismo extremos, não cabe a indústria nacional, tampouco direitos ou mesmo
políticas de Seguridade Social. Menos ainda estatais em setores estratégicos,
daí o interesse em privatizar o
que restou de patrimônio público (CEF, BB, BNDES, Petrobrás, estatais
estaduais). Fundamental também entregar a joia da Coroa, o pré-sal, que mudou a
inserção do Brasil no mundo, na área energética. Por isso é fundamental
desmontar a Petrobrás como já vêm fazendo os golpistas desde a primeira hora de
governo.
Para os
sindicatos de trabalhadores, e para a esmagadora maioria dos brasileiros, a
luta contra o golpe não significa uma defesa abstrata ou teórica da democracia.
Se trata de uma questão de sobrevivência. Ou a gente acaba com o golpe ou o
golpe acaba com o movimento sindical, com a aposentadoria, com as estatais, com
a Petrobrás. Acabam com o Brasil. Fecham os partidos democráticos e liquidam o
pouco que restou de democracia. Não é uma posição teórica ou meramente
ideológica. É questão de vida ou morte (inclusive física por que há uma
evidente restrição da democracia desde o golpe). A restrição da democracia não ocorre por acaso.
Como calar 150, ou 160 milhões de brasileiros que se recusam a ir para o
matadouro como gado, com comportamento bovino, em face da destruição do país? Para 90% ou 95% da população, quem pode
prescindir da seguridade social, dos serviços públicos, das leis trabalhistas,
dos recursos do pré-sal? Não é por acaso que Temer é o presidente que tem a
menor taxa de aprovação da história.
A radicalização advinda do golpe
de Estado está evidenciando que, ao fim e ao cabo, quem pode defender os
trabalhadores são suas organizações, por mais limitações que ainda tenham. A mobilização popular organizada pelos
sindicatos e movimento popular, foi decisiva inclusive na mudança da
conjuntura, provocando rachaduras no bloco golpista. Se não fossem as
mobilizações, que agora parecem ter agregado uma parte da classe trabalhadora
que estava apática, os golpistas não teriam rachado, fenômeno que abre uma
brecha importante para a luta do povo. Com
todos os poderes da República envolvidos até o pescoço no golpe, quem ainda
pode defender os trabalhadores contra o golpismo e todas as suas consequências
são as organizações sindicais e sociais. Por isso está no centro da estratégia
do inimigo a destruição da principal linha de resistência dos trabalhadores.
*Economista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário