Contribuindo, não se sabe se
conscientemente ou não, para dar uma "levantada na bola" da operação, e
enganar e manipular a população, parte da mídia comemora, no alto de
suas páginas, a suposta "recuperação" - que poderá levar cerca de 25
anos, prazo que algumas empreiteiras terão para "pagar" as penalidades -
de mais de 11 bilhões de reais, pela Lava-Jato.
Como se bilhões em dinheiro "roubado" dos cofres públicos estivessem voltando, vitoriosamente, para os cofres do erário.
E os prejuízos econômicos causados por
essa operação, em empregos, quebra de acionistas e fornecedores e
projetos sucateados e interrompidos, não fossem muitíssimo maiores do
que a quantia publicada nas manchetes em letras garrafais.
Pura conversa.
Primeiro, porque esse dinheiro não foi "recuperado", já que ainda não foi totalmente pago.
E em segundo lugar, porque não se recupera o que não se tinha antes.
Nem esses recursos foram desviados para
contas secretas na Suíça, nem se comprovou, até agora, inequivocamente,
com base em provas factuais, que houve desvios ou superfaturamento nesse
fantástico montante.
Mais de 90% dessa soma - certa imprensa
ainda fez o favor - não se sabe se também propositalmente - de misturar
alhos com bugalhos colocando no mesmo saco dinheiro apreendido e
recursos derivados de acordos de leniência - será "arrecadado" por meio
de multas punitivas, impostas às empresas como parte da estratégia que
exige que elas reconheçam publicamente, em amplo e contrito "mea culpa",
os seus "erros" e pecados cometidos contra nossos "homens de bem" e
nossa nunca hipócrita ou dissoluta sociedade.
Tudo como na época da Santa Inquisição -
ou dos processos stalinistas - com os "culpados" tendo que corroborar,
nesse meio tempo, a tese do MP que transformou automática e
retroativamente doações legais ou de Caixa 2 - tanto faz umas como as
outras - realizadas desde 2002, em "propina", além de concordar em
pagar também, à vista ou a prazo, bilhões de reais para não ter que
fechar, quase que obrigatoriamente, suas portas.
Quem explicou isso muito bem, para quem
sabe ler nas entrelinhas, foi o advogado do Sr. Marcelo Odebrecht,
Theodomiro Dias Neto, que deu a entender que seu cliente, contra sua
vontade, teve que se dobrar às exigências e ao discurso do Ministério
Público, sob pena de sua empresa acabar definitivamente:
"Um acordo de colaboração premiada -
afirmou o advogado - não é um acordo de pessoas, de partes em posições
simétricas. Há uma relação de total assimetria de poder nessa relação. O
acordo de colaboração premiada é um acordo de rendição, em que uma parte está se rendendo à outra.
O que é importante, é fundamental e um
desafio para você fazer um acordo é que no caso de uma empresa ninguém
faz um acordo para morrer(ou você faz o acordo ou "morre", diríamos
nós). Você faz um acordo para sobreviver".
Esclarecendo, em entrevista ao UOL - já
que para bom entendedor um pingo é letra - as verdadeiras condições em
que Marcelo Odebrecht, depois de quase dois anos detido sem flagrante -
fechou, "voluntariamente", o "acordo" que ainda deve mantê-lo preso,
"exemplarmente", em regime fechado, até o final de 2017, enquanto outros
"delatores", especialmente aqueles apanhados com dinheiro de corrupção
em suas contas, estão curtindo, há tempos, um uísquinho, nos
confortáveis sofás de suas salas.
Resta saber, agora, até onde irão as
consequências políticas e a extensão e profundidade da "rendição", ou
melhor, da "colaboração", do senhor Marcelo Odebrecht à Lava Jato e ao
Ministério Público, tanto no caso de Dilma e do PMDB, como no do PSDB,
considerando-se não apenas as afirmações feitas até agora pelo
ex-executivo do grupo, mas também a dos numerosos, mais de 70,
"delatores" "premiados" da empresa, que acompanharam a "decisão" tomada
por seu ex-chefe.
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