Luis Nassif, no jornal GGN
Preparado pelo consultor legislativo Paulo César Ribeiro Lima, o
documento “A situação econômica e operacional da Petrobras” é um bom
roteiro para entender a situação da Petrobras e discutir as próximas
etapas.
Resultados da Petrobras
Em 2009, com o preço do barril em US$ 58,2 a Petrobras praticou
preços acima do mercado internacional, com lucro líquido consolidado de
R$ 29 bilhões; em 2013, com o barril a US$ 91,54, preços abaixo e o
lucro líquido foi de R$ 23 bilhões.
Para 2015, o trabalho prevê um lucro líquido de R$ 29 bilhões, mesmo com preços baixos de petróleo.
Os dados desagregados
Em 2013, a receita total foi de R$ 304,9 bilhões e o lucro líquido
consolidado de R$ 23 bilhões. Com os altos preços do petróleo,
Exploração e Produção apresentaram altos lucros e Abastecimento grande
prejuízo.
Exploração e Produção R$ 42,2 bilhões,
Abastecimento R$ (17,8) bilhões,
Gás e Energia R$ 1,387 bilhão,
Bicombustíveis R$ (254) milhões,
Distribuição R$ 1,843 bilhão,
Área Internacional R$ 3,775 bilhões,
Corporativo R$ (8,013) bilhões e
Ajustes R$ (215) milhões.
Em 2009, o quadro foi outro, com lucro líquido consolidado de R$ 29 bilhões..
Exploração e Produção, lucro de R$ 19,6 bilhões,
Abastecimento, lucro de US$ 13,3 bilhões.
Com base nesses números, para 2015 o trabalho estima um lucro de
aproximadamente R$ 30 bilhões para a Petrobras, assim divididos:
Exploração e Produção de R$ 23 bilhões, admitindo-se um custo de extração de US$ 15 por barril,
Abastecimento de R$ 7 bilhões, supondo-se que, em 2015, a diferença a
maior entre o preço praticado no mercado nacional e no mercado
internacional seja metade da diferença ocorrida em 2009.
Ou seja, mesmo com a queda do preço internacional, o lucro de 2015
poderá ser similar ao de 2009, período de preços baixos de petróleo,
“caso sejam mantidos os preços da gasolina e do óleo diesel ao longo de
2015”.
Custo de produção
O custo de extração de petróleo pela Petrobras é da ordem de US$ 15 por
barril. Com cotações mais elevadas, o pagamento da participação
governamental passou para US$ 17 por barril. Caindo as cotações,
reduz-se também a participação estatal.
Segundo o trabalho, somada a participação governamental e outros
custos gerais, o custo de produção de petróleo da Petrobras é da ordem
de US$ 28 por barril. O custo de refino, mais US$ 3. No total, US$ 31
por barril. Com as cotações em US$ 56 por barril, a lucratividade média
será de US$ 25 por barril.
O pré-sal e o PNG 2014-2022
Com a descoberta do pré-sal, entre 2002 e 2012 os investimentos da
Petrobras multiplicaram-se por dez. Em 2012, ela respondeu,
isoladamente, por 10% da Formação Bruta de Capital Fixo. De 2012 a 2015,
a cadeia do petróleo e gás deverá responder por 60% dos investimentos
previstos para o setor industrial.
Em 2013 os investimentos foram de R$ 98 bilhões, contra R$ 79,8 bilhões em 2012.
O PNG (Plano de Negócios e Gestão) 2014-2018 demandaria US$ 44,8
bilhões de empresas parcerias, nas atividades de exploração e produção
no Brasil. Na área de Abastecimento, estavam previstos US$ 38,7 bilhões,
incluindo os projetos da Refinaria Abreu e Lima, o primeiro trem de
refino do Comperj e a construção de 45 navios de transporte de óleo e
derivados (Promef). Na área de Gás e Energia foram previstos US$ 10,1
bilhões; na área internacional US$ 9,7 bilhões, dos quais 92% para
exploração e produção. Para biocombustíveis, US$ 2,3 bilhões de
investimentos para etanol e biodiesel. Na área de Distribuição, mais US$
2,7 bilhões.
O PNG definiu algumas pré-condições para garantir o financiamento desses investimentos:
- manutenção do grau de investimento;
- retorno dos indicadores de endividamento e alavancagem aos limites em até 24 meses;
- alavancagem (relação dívida/patrimônio líquido) menor que 35%;
- dívida líquida/EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) menor que 2,5 vezes.
- ausência de emissão de novas ações;
Para garantir o financiamento dos projetos em implantação, mais os
projetos em licitação, US$ 182,2 bi seriam provenientes de geração
operacional de caixa e desinvestimento; US$ 9,1 bilhões do uso de caixa
excedente; US$ 9,9 bilhões da reestruturação dos modelos de negócios e
US$ 60,5 bilhões, ou US$ 5,6 bilhões por ano de captações.
E aí e esbarra na perda do grau de investimento pelas agências de
risco, quando acelerou os investimentos e não cumpriu com as metas
acordadas de redução do endividamento.
O rating da Petrobras
O PNG da Petrobras (período 2014-2018) indicava fluxo de caixa positivo, antes dos dividendos, a partir de 2015.
As metas de redução do endividamento não foram cumpridas. Com novas
descobertas de campos gigantes, a empresa pisou novamente no acelerador e
no 3o trimestre de 2014 a alavancagem passou a 43% e a relação dívida
líquida/EBITDA para 4,63. Esses dados levaram a agência Moody’s a tirar o
grau de investimento da companhia.
Mas, por outro lado, os investimentos permitiram a descoberta de
volumes recuperáveis de 28 bilhões de barris equivalentes de petróleo
apenas na província do pré-sal.
A crítica do trabalho vai por ai. O grande ativo da Petrobras são
esses volumes recuperáveis. Mas na contabilidade entram apenas como
custos, sem contabilização no patrimônio líquido da companhia como
ativos.
A partir dessa constatação, o autor questiona o cálculo de alavancagem por se basear em um patrimônio líquido irreal.
Questiona também a comparação com outras petrolíferas, tendo em vista
que a descoberta do pré-sal exigiu grandes investimentos com a
consequente redução do lucro líquido.
O valor real dos ativos da Petrobras
O trabalho constata que a integração das atividades de produção, refino e distribuição assegura boa margem de lucro à Petrobras.
Supondo-se um barril de petróleo a US$ 50, o custo de produção de um
litro de diesel é de R$ 0,60 e seu valor no mercado internacional é de
aproximadamente R$ 1,35 por litro.
O principal fator de barateamento do diesel são os grandes
reservatórios, não especificamente as refinarias. É a sinergia entre
todos os ativos que garante a rentabilidade.
Justamente devido a essa integração, o analista questiona a avaliação de mercado pelas metodologias convencionais.
Por exemplo, o cálculo do ativo se baseia em uma análise do seu fluxo
de resultados, ou VPL (Valor Presente Líquido). A refinaria Abreu e
Lima está contabilizada por US$ 18 bilhões. Pelo cálculo do VPL, seu
valor seria de US$ 6 bilhões, o que poderia gerar uma baixa contábil da
ordem de US$ 12 bilhões.
Mas se levar em conta a sinergia decorrente da verticalização da
Petrobras (reservatório de Marlim, navio de transporte, dutos, Terminal
Suape, Refinaria Abreu e Lima etc), “é possível que se conclua que esse
conjunto de ativos está subavaliado, uma vez que os derivados produzidos
terão um custo muito menor que o valor de venda, o que geraria um
altíssimo valor presente líquido – VPL”.
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