José Álvaro de Lima Cardoso*
Segue o processo de polarização
política no país, como uma espécie de terceiro turno. Circulam na internet, por
exemplo, mensagens com o título de “O Fim do Brasil”, defendendo a tese de que
o Brasil vai quebrar nos próximos meses, que o desemprego vai aumentar, que o
país não conseguirá cumprir seus compromissos externos, etc. Há um verdadeiro
massacre informativo envolvendo a corrupção na Petrobras, dando a nítida
impressão aos incautos de que a empresa é um antro de ineficiência e corrupção.
A escolha de Joaquim Levy para a economia, por outro lado, tornou o governo
refém do êxito ou fracasso da política ortodoxa. O preço será alto em qualquer
hipótese: se fracassa o ministro, fracassa o governo; se o ministro tiver êxito
na sua política de ajuste, isto pode levar a um distanciamento do governo da
sua principal base social, que lhe ofereceu quatro mandatos seguidos.
A questão é ainda mais complexa. Mesmo que
o programa de Levy seja exitoso, isto é, reduza o nível inflacionário, atinja a
meta fiscal e melhore o desempenho da balança comercial (que acumula déficit
superior a US$ 6 bilhões no primeiro bimestre do ano), não há nenhuma garantia
de que o Brasil ingressará num novo ciclo de crescimento. É que a crise mundial
continua extremamente grave, apesar da melhor performance da economia norte
americana. Mesmo que a elevação dos juros e o corte de gastos públicos
signifique redução do poder de compra dos salários (o que inclusive pode abrir
um flanco de conflito com os trabalhadores, agravando ainda mais a crise
política), não será nada fácil para o país reverter a crise da indústria e as
dificuldades na balança comercial. O ambiente externo é muito difícil, a crise
já se prolonga por seis anos e o encolhimento dos mercados provocou uma espécie
de guerra cambial de todos contra todos.
Em outra frente de batalha, o massacre contra a
Petrobras continua ensandecido. Usando como pretexto os R$ 400 milhões
desviados da empresa pelos ladrões confessos (valor comprovado, especula-se que possa ultrapassar R$ 2 bilhões), o objetivo dos golpistas em geral
com a campanha contra a Petrobras são os trilhões de reais depositados no
pré-sal, (que podem alcançar R$ 20 trilhões). A campanha pelo impeachment da
Presidente da República se inscreve neste contexto. Imprensa, incautos,
traidores, entreguistas e outros falam em Petrobras “destruída”. No entanto a
empresa:
● Bateu o recorde de produção em dezembro com 2,17
milhões de barris de petróleo por dia. O sexto recorde anual seguido.
● No mês passado recebeu o OTC-2015, o
Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions,
"o mais importante para operadoras off-shore". O prêmio foi em
reconhecimento ao "conjunto de tecnologias desenvolvidas para a produção
na camada pré-sal". O OTC - Offshore Technology Conferences, é o
"Oscar" tecnológico da exploração de petróleo em alto mar, que
se realiza a cada dois anos, na cidade de Houston, no Texas, nos Estados Unidos
● É a maior empresa da América Latina, e a de maior
lucro em 2013 - mais de 10 bilhões de dólares (a PEMEX mexicana, por
exemplo, teve um prejuízo de mais de 12 bilhões de dólares no mesmo período)
● Ultrapassou, no terceiro trimestre de 2014, a EXXON
norte - americana como a maior produtora de petróleo do mundo, entre as maiores
companhias petrolíferas mundiais de capital aberto
● Tem faturamento de 305 bilhões de reais em 2013
● Investe mais de 100 bilhões de reais por ano
●Opera uma frota de 326 navios, tem 35.000
quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e
134 plataformas de produção de gás e de petróleo
● O pré-sal com apenas 47 poços operando
(isso é quase nada serão centenas), produz, entre petróleo e gás, 815,8 mil
barris de óleo equivalente por dia, um aumento de 93% de um ano atrás.
● Sozinha é responsável por mais de 10% de todo o
investimento brasileiro neste ano. A empresa é responsável pelo maior plano de
investimento em curso no século XXI, feito por uma única corporação: algo em
torno de U$ 200 bilhões de dólares serão aplicados pela estatal em exploração e
produção, entre 2014 e 2018.
Por todos os ângulos que se olhe,
nenhuma empresa tem números sequer comparáveis aos da Petrobras. Obviamente ela
está sendo atacada não pelos seus defeitos, mas pelas suas virtudes e por
significar um obstáculo fundamental na cobiça das multinacionais petrolíferas
pela riqueza contida no pré-sal. Quem deseja destruir a empresa tem hoje três
alvos principais: 1) acabar com as
políticas de conteúdo nacional da Petrobras; 2) extinguir o regime de
partilha no pré-sal; 3) abolir a exclusividade da exploração do pré-sal pela
Petrobras. Brasileiros e trabalhadores temos a obrigação de sermos críticos e
apontar implacavelmente os erros dos governos. Mas não temos o direito de ser
ingênuos.
*Economista e técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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