Autor: *Francisco
Alano
Publicado em:
23/03/15
Um fato novo chama atenção no
momento político brasileiro. Diversas entidades empresariais catarinenses,
como CDLs, Associações Comerciais e Industriais e Sindicatos Patronais
passaram a conclamar os empresários de suas cidades a pressionar os
trabalhadores de seus estabelecimentos para participarem de atos políticos de
contestação. Supostamente, as convocações buscam reivindicar contra a
corrupção e a carga tributária excessiva, alegando um sentimento de
“insatisfação” dos empresários com a atual situação do país. Assim feito, as
entidades patronais, que costumam sempre agir nos bastidores, pela primeira
vez em muitos anos, vêm publicamente expor sua maneira de pensar sobre a
política.
Em nossa atuação no movimento
sindical, sempre repudiamos qualquer forma de corrupção, pois ela corrói o
patrimônio político e material de qualquer nação e de seu
povo.
É muito interessante analisarmos
como funciona o pensamento de parcela dos patrões de Santa
Catarina:
CONTRA A CORRUPÇÃO – Nunca devemos
esquecer que, assim como desvio do dinheiro público, sonegação de impostos
também se configura como prática de corrupção. Cálculo do Banco Mundial afirma
que no Brasil, 13,4% do PIB (total da riqueza produzida em um ano) é sonegado.
Não emissão de nota fiscal na venda, compra de bens pessoais em nome da
empresa e a prática do “pagamento por fora” da folha salarial, são práticas
clássicas de corrupção. Com isso, dados do Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário (IBPT) mostram que existem indícios de sonegação em
65% das empresas de pequeno porte, 49% das empresas de médio porte e 27% das
grandes empresas do Brasil. Será que os patrões que chamamos trabalhadores às
ruas também estão protestando contra este tipo de
corrupção?
CONTRA A ALTA CARGA TRIBUTÁRIA. É
preciso lembrar aos empresários que a carga tributária no Brasil é regressiva,
ou seja, quem ganha menos, paga mais. Isso ocorre porque a tributação é feita,
majoritariamente, sobre o consumo, e não sobre a renda. Desta forma, as
estimativas sobre a distribuição da carga tributária por nível de renda
mostram que, enquanto os que ganham até dois salários mínimos – grande maioria
dos comerciários, por exemplo – destinam 53,9% da sua renda para os impostos,
os que ganham acima de 30 mínimos – contribuem com apenas 29,0%. Além do
mais, é preciso lembrar aos empresários que a maior parte do imposto que os
mesmos tanto reclamam, não é pago por eles, mas sim pelo consumidor de seus
estabelecimentos, já que os impostos são incluídos no preço final das
mercadorias. “A quem tem, mais lhe
será dado, e terá em abundância; mas, ao que quase não tem, até o que tem lhe
será tirado.” (Bíblia, Mateus 25:29)
A forma de corrigir esta injustiça
é reduzindo os tributos sobre os mais pobres e taxando as grandes fortunas, as
heranças e adotando um imposto de renda progressivo, onde quem tem maior
renda, por uma questão de justiça tributária, paga mais. Cabe lembrar
inclusive, que este tipo de tributação já ocorre nos principais países
desenvolvidos, não sendo nenhuma novidade. Agora resta a dúvida, será que a
mobilização dos patrões é em torno deste tipo de reforma
tributária?
Por fim, resta lembrar a postura
dos sindicatos patronais na hora de negociar com os trabalhadores os reajustes
salariais em Santa Catarina. Qualquer 1% de ganho real, quando conquistado, é
sempre antecedido de uma chuva de reclamações, sempre evocando uma situação de
crise para legitimar baixos ganhos salariais para os trabalhadores. Desta
maneira, com as data-base das negociações coletivas dos sindicatos se
aproximando, resta perguntar: a quem interessa este clima, fabricado nas
redações da grande mídia, de crise generalizada? Certamente que não é aos
trabalhadores de Santa Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário