Paulo Moreira Leite, sem seu blog.
Segundo pesquisa, PSDB recebeu 42% das doações das grandes empreiteiras da Lava Jato aos partidos
A
descoberta de que o conjunto das empreiteiras investigadas na Lava Jato
responde por 40% das doações eleitorais aos principais partidos
políticos do país – PT, PMDB, PSDB – entre 2007 e 2013 é uma dessas
novidades imensas a espera de providências a altura.
Permite uma
nova visão sobre as denúncias envolvendo a Petrobrás, confirma uma
distorção absurda nas investigações e exige uma reorientação no trabalho
da Justiça e do Ministério Público.
É o caso de perguntar: e agora, Sérgio Moro? O que vamos fazer, Teori Zavaski?
Explico.
Conforme
o Estado de S. Paulo, entre 2007 e 2013 as 21 maiores empresas da Lava
Jato repassaram R$ 571 milhões a petistas, tucanos, pemedebistas. Desse
total, 77% saíram dos cofres das cinco maiores, que estão no centro das
investigações: Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Grupo
Odebrecht e OAS.
Segundo o levantamento, o Partido dos
Trabalhadores ficou com a maior parte, o que não é surpresa. As doações
ocorreram depois da reeleição de Lula. Cobrem aquele período do
calendário político no qual Dilma Housseff conquistou o primeiro mandato
e Fernando Haddad venceu as eleições municipais de São Paulo. Mas o
PSDB não ficou muito atrás. Embolsou 42% do total. Repetindo para não
haver dúvidas: conforme análise do Estado Dados, de cada 100 reais
enviados aos partidos, 42 chegaram aos cofres tucanos.
Gozado, não?
Agora
dê uma olhada na relação de beneficiários denunciados na Lava Jato e
pergunte pelos tucanos. O personagem mais ilustre, senador Sérgio
Guerra, já morreu. É acusado de ter embolsado dinheiro para inviabilizar
uma CPI. Infelizmente, não está aqui para defender-se – o que permite
imaginar até onde pode chegar a largura de suas costas.
O outro
implicado é o senador Antônio Anastasia, aliado número 1 de Aécio Neves,
forte candidato a um carimbo de “falta de provas” amigo nas próximas
etapas do percurso.
Como chegaremos aos 42%? Alguém vai investigar, vai explicar? Ninguém sabe. Nem uma pista.
Onde estão as delações premiadas, as prisões preventivas?
Apoiado
na delação premiada de Paulo Roberto Costa, que chegou à diretoria da
Petrobras com proteção do lendário Severino Cavalcanti, do PP
pernambucano, a investigação concentrou-se no condomínio Dilma-Lula e
legendas aliadas. Esbarrou no PSDB, de vez em quando, quase sem querer,
por acaso. E só.
A descoberta da fatia de 42% do PSDB na Lava Jato pode ser mais útil do que se imagina.
Deixando
de lado, por um momento, a demagogia moralista que tenta convencer o
país que todo político é ladrão cabe reconhecer um aspecto real e
relevante.
Estamos falando de um sistema no qual todos os
partidos se envolvem na busca de recursos financeiros para tocar as
campanhas. Todos. São as mesmas empresas, com os mesmos clientes, com os
mesmos doadores que se ligam às mesmas fontes.
Isso quer dizer o
seguinte: ou todos são tratados da mesma forma, conforme regra
elementar da Justiça, ou teremos, na Lava Jato de 2015, o mesmo
tratamento preferencial dispensado aos tucanos do mensalão PSDB-MG. Não
dá para dizer que um recebe “propina” e o outro ” verba de campanha,”
certo?
Acho errado por princípio criminalizar as campanhas
financeiras dos partidos políticos. Por mais graves que sejam suas
distorções – e nós sabemos que podem ser imensas – elas envolvem
recursos indispensáveis ao funcionamento do regime democrático. Mesmo a
Nova República, que substituiu o regime militar, nasceu com auxílio de
um caixa clandestino formado pelos maiores empresários e banqueiros do
país, na época. Não conheço ninguém que, mesmo informado dessa situação,
sentisse nostalgia da suposta — sim, suposta e apenas suposta —
moralidade do regime dos generais.
Se queremos uma democracia
emancipada do poder econômico, precisamos de novas regras – como
financiamento público, como proibição de contribuições de empresas –
para isso. E temos de ter regras transitórias para caminhar nessa
direção, que não joguem fora a criança junto com a água do banho, certo?
Mas
não é isso o que tem ocorrido. Pelo contrário. A tradição é
criminalizar os indesejáveis, submetidos a penas rigorosas, e poupar
amigos e aliados, através de uma prática conhecida.
Comparece-se a
AP 470 com o mensalão PSDB-MG.Julgados pelo mesmo crime que conduziu
importantes dirigentes do Partido dos Trabalhadores a prisão, os
acusados da versão tucana sequer foram julgados – até hoje. Muitos já
tiveram a pena prescrita. Não faltam acusados que dormem o sono dos
justos com a certeza de que jamais correrão o risco de qualquer
condenação. Os acusados tucanos que forem condenados – se é que isso vai
acontecer um dia — terão direito a um julgamento com segundo grau de
jurisdição, que foi negado aos principais réus do PT. A última notícia
do caso é que a juíza que presidiu o julgamento em primeira instancia
aposentou-se antes de terminar o serviço e ninguém foi nomeado para seu
lugar. Se esse filme parece velho, lembre das denúncias que envolvem as
obras do metrô paulista.
Muito instrutivo, não?
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