Paulo Nogueira Batista Jr.
Faço parte de uma geração de economistas brasileiros que viveram
durante décadas atormentados por crises relacionadas ao desequilíbrio
externo da economia. Éramos devedores renitentes, eternamente sujeitos à
instabilidade econômica e às humilhações inerentes à situação de quem
depende de outros para pagar suas contas. Em vários momentos, e mais
recentemente no governo FHC, ficamos reduzidos à condição de pedintes
internacionais, passando o chapéu no exterior para fechar o balanço de
pagamentos do país.
Passou. A posição brasileira se transformou de maneira
impressionante. Chegamos a viver anos de glória. Viramos até credores do
FMI: emprestamos US$ 14 bilhões durante o governo Lula – e estão nos
pedindo mais US$ 10 bilhões.
A euforia passou também. Estamos ainda longe das condições que
nos levaram a crises cambiais, instabilidade e recessão. Mas a nossa
posição já não é tão forte. E pior: vem se deteriorando com certa
rapidez.
O superávit comercial veio caindo desde 2008 e virou déficit
neste ano. O balanço de pagamentos em conta-corrente, que era
superavitário em meados da década passada, também passou a registrar
déficit expressivo e crescente. Não só a balança comercial, mas as
contas relacionadas a turismo, transporte, remessas de lucros, entre
outras, vêm registrando desequilíbrios maiores. Para 2013, o Banco
Central projeta um déficit em conta-corrente de US$ 75 bilhões.
A posição externa brasileira ainda apresenta alguns aspectos
fortes. A flutuação cambial é mais eficaz do que o câmbio fixo ou
semifixo que tivemos em décadas anteriores. No regime de flutuação, a
depreciação funciona, dentro de certos limites, como um mecanismo
automático de correção do desequilíbrio externo.
Além disso, a elevada entrada de investimentos diretos
estrangeiros, uma forma relativamente estável de capital externo, ainda
cobre a maior parte do déficit corrente. E mais importante: o nível de
reservas internacionais do Brasil é bem mais alto do que o que tivemos
no passado. Nos últimos dez anos, as reservas subiram de cerca de US$ 50
bilhões para US$ 370 bilhões. Esse estoque de ativos líquidos em moeda
estrangeira constitui poderoso instrumento de autoproteção e preservação
da autonomia nacional.
Mesmo assim, preocupa a deterioração recente das contas externas.
Os nossos pontos fortes não representam garantia completa. A
depreciação cambial afeta a inflação e pode se tornar desestabilizadora.
As reservas podem sofrer queda acentuada se houver rápida conversão em
moeda estrangeira de ativos financeiros líquidos em reais.
O quadro mundial é instável e não podemos baixar a guarda. A
última coisa que um economista da minha geração gostaria de reviver é a
volta do país a uma situação de fragilidade externa.
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