Do portal do jornalista Luis Nassif
“Essa
história dos médicos cubanos lembra muito todo o perrengue que a
oposição e parte da classe média brasileira fez com o “Bolsa Família”
assim que foi lançado. Na época, o presidente Lula não teve dúvidas,
implantou e multiplicou o programa. O resultado em 10 anos já foi
destacado pela ONU e é copiado por dezenas de países em todo o mundo.
Agora,
a mesma turma se revolta contra a importação de médicos cubanos.
Qualquer ajuda aos mais pobres irrita profundamente cada um deles.
Só que agora o trabalho deles será muito mais difícil.
O insuspeito “New England Jounal of Medicine”,
principal jornal médico dos EUA, fez uma grande reportagem sobre a
medicina cubana no inicio deste ano. A partir daí, mesmo países
conservadores, ricos e alinhados aos EUA, como a Árabia Saudita, se
renderam aos médicos cubanos.
Já são 108 países atendidos pelos médicos cubanos. Algo único na história da humanidade.
Do blog “Saúde Brasil”:
SISTEMA DE SAÚDE CUBANO É ELOGIADO NO “THE NEW ENGLAND JOURNAL”
UM MODELO DIFERENTE – ATENÇÃO MÉDICA EM CUBA
Por Edward W. Campion, M.D., and Stephen Morrissey, Ph.D., no “THE NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE” (EUA), January 24, 2013.
"Para
um visitante dos Estados Unidos, Cuba desorienta. Automóveis
norte-americanos estão em todo lugar, mas todos datam dos anos 50.
Nossos cartões bancários, cartões de crédito e telefones inteligentes
não funcionam. O acesso à internet é praticamente inexistente. E o
sistema de saúde também parece irreal. Há médicos demais.
Todo mundo tem um médico da família. Tudo é de graça, totalmente de graça — e não precisa de aprovação prévia ou de algum tipo de pagamento.
Todo o sistema parece de cabeça para baixo. É tudo muito organizado e a
prioridade absoluta é a prevenção. Embora Cuba tenha recursos
econômicos limitados, seu sistema de saúde resolveu alguns problemas que
o nosso [dos Estados Unidos] ainda nem enfrentou.
Médicos
de família, junto com enfermeiras e outros profissionais de saúde, são
os responsáveis por dar atendimento primário e serviços preventivos para
seu grupo de pacientes — cerca de mil pacientes por médico em áreas urbanas.
Todo
o cuidado é organizado no plano local e os pacientes e seus
profissionais de saúde geralmente vivem na mesma comunidade. Os dados
médicos em fichas de papel são simples e escritos à mão, parecidos com
os que eram usados nos Estados Unidos 50 anos atrás. Mas o sistema é
surpreendentemente rico em informação e focado na saúde da população.
Todos
os pacientes são categorizados de acordo com o nível de risco de saúde,
de I a IV. Fumantes, por exemplo, estão na categoria de risco II, e
pacientes com doença pulmonar crônica, mas estável, ficam na categoria
III.As
clínicas comunitárias informam regularmente ao distrito sobre quantos
pacientes tem em cada categoria de risco e sobre o número de pacientes
com doenças como a hipertensão (bem controlada ou não), diabetes, asma,
assim como sobre o status de imunização, data do último teste de
Papanicolau e casos de gravidez/cuidado pré-natal.
Todo
paciente é visitado em casa uma vez por ano e aqueles com doenças
crônicas recebem visitas mais frequentes. Quando necessário, os
pacientes podem ser direcionados a policlínicas distritais para
avaliação de especialistas, mas eles retornam para as equipes
comunitárias para acompanhamento. Por exemplo, a equipe local é
responsável por garantir que o paciente com tuberculose siga as
recomendações sobre o regime antimicrobial e que faça os exames.
Visitas
em casa e conversas com familiares são táticas comuns para fazer com
que os pacientes sigam as recomendações médicas, não abandonem o
tratamento e mesmo para evitar gravidez indesejada. Numa tentativa de
evitar infecções como a dengue, a equipe de saúde local visita as casas
para fazer inspeções e ensinar as pessoas sobre como se livrar da água
parada.
Esse sistema altamente estruturado, orientado para a
prevenção, produziu resultados positivos. As taxas de vacinação de Cuba
estão entre as mais altas do mundo.A
expectativa de vida de 78 anos de idade é virtualmente idêntica à dos
Estados Unidos. A taxa de mortalidade infantil em Cuba caiu de 80 por
mil nos anos 50 para menos de 5 por mil — menor que nos Estados
Unidos, embora a taxa de mortalidade materna esteja bem acima daquela
dos países desenvolvidos e na média para os países do Caribe.
Sem
dúvida, os resultados são consequência de melhorias em nutrição e
educação, determinantes sociais básicos para a saúde pública. A taxa de
alfabetização de Cuba é de 99% e o ensino sobre saúde é parte do
currículo obrigatório das escolas. Um recente programa nacional para
promover a aceitação de homens que fazem sexo com homens foi desenhado
para reduzir as taxas de doenças sexualmente transmissíveis e aumentar a
aceitação e adesão aos tratamentos.
Os cigarros já não são
oferecidos na cesta básica mensal e o número de fumantes decresceu,
embora as equipes médicas locais digam que continua difícil convencer
fumantes a deixar o vício. Os contraceptivos são gratuitos e fortemente
encorajados. O aborto é legal, mas considerado um fracasso do trabalho
de prevenção.
Não se deve romantizar o sistema de saúde cubano. O
sistema não é desenhado para escolha do consumidor ou iniciativas
individuais. Não existe sistema de saúde privado pago como alternativa.
Os médicos recebem benefícios do governo como moradia e alimentação, mas
o salário é de apenas 20 dólares por mês. A educação é gratuita e eles
são respeitados, mas é improvável que obtenham riqueza pessoal.
Cuba
é um país em que 80% dos cidadãos trabalham para o governo e o governo é
quem gerencia orçamentos. Nas clínicas de saúde comunitárias, placas
informam aos pacientes quanto o sistema custa ao Estado, mas não há
forças de mercado para promover eficiência.
Os recursos são
limitados, como descobrimos ao ter contato com médicos e profissionais
de saúde cubanos como parte de um grupo de editores-visitantes dos
Estados Unidos. Um nefrologista de Cienfuegos, a 240 quilômetros de
Havana, tem uma lista de 77 pacientes em diálise na província, o que, em
termos de população, dá 40% da taxa dos Estados Unidos — similar ao que
era nos Estados Unidos em 1985.
Um neurologista nos informou que
seu hospital só recebeu um CT scanner doze anos atrás. Estudantes
norte-americanos de universidades médicas cubanas dizem que o trabalho
nas salas de cirurgia é rápido e eficiente, mas com pouca tecnologia.
Acesso à informação via internet é mínimo. Um estudante informou que tem
30 minutos por semana de acesso discado.
Essa limitação, como
muitas outras dificuldades de recursos que afetam o progresso, é
atribuída ao embargo econômico dos Estados Unidos [ilegal e cruelmente imposto desde 1960],
mas podem existir outras forças no governo central trabalhando contra a
comunicação fácil e rápida entre cubanos e os Estados Unidos.
Como
resultado do estrito embargo econômico, Cuba desenvolveu sua própria
indústria farmacêutica e agora fabrica a maior parte das drogas de sua
farmacopeia básica, mas também alimenta uma indústria de exportação.
Recursos foram investidos no desenvolvimento de expertise em
biotecnologia, em busca de tornar Cuba competitiva no setor com os
países avançados.
Existem jornais médicos acadêmicos em todas as
especialidades e a liderança médica encoraja fortemente a pesquisa, a
publicação e o fortalecimento de relações com outros países
latino-americanos. As universidades médicas de Cuba, agora 22, continuam
focadas em atendimento primário, com medicina familiar exigida como
primeira residência de todos os formandos, embora Cuba já tenha hoje o
dobro dos médicos per capita que os Estados Unidos.
Muitos dos
médicos cubanos trabalham fora do país, como voluntários num programa de
dois anos ou mais, pelo qual recebem compensação especial. Em 2008,
havia 37 mil profissionais de saúde cubanos trabalhando em 70 países do
mundo. A maioria trabalha em áreas carentes, como parte da ajuda externa
de Cuba, mas alguns estão em áreas mais desenvolvidas e seu trabalho
traz benefício financeiro para o governo cubano (por exemplo, subsídios
de petróleo da Venezuela).
Todo visitante pode ver que Cuba
continua distante de ser um país desenvolvido em infraestrutura básica,
como estradas, moradias e saneamento. Ainda assim, os cubanos começam a
enfrentar os mesmos problemas de saúde de países desenvolvidos, com
taxas crescentes de doenças coronárias, obesidade e uma população que
envelhece (11,7% dos cubanos têm 65 anos de idade ou mais).
O
seu incomum sistema de saúde enfrenta esses problemas com estratégias
que evoluiram da peculiar história política e econômica de Cuba, um
sistema que — com médicos para todos, foco em prevenção e atenção à saúde comunitária — pode informar progresso também para outros países.”
FONTE: reportagem de Edward W. Campion, M.D., and Stephen Morrissey, Ph.D., no “THE NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE” (EUA), January 24, 2013. Transcrita e comentada no “Blog da Saúde” e no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/sistema-de-saude-cubano-e-elogiado-por-medicos-dos-eua)
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