terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dilma afina os controles (José Paulo Kupfer)

Mudanças na presidência de uma empresa como a Petrobras nunca são triviais. Mesmo quando o fato e os protagonistas são os esperados. Por isso, a troca de guarda no comando da maior empresa brasileira – e terceira do mundo no setor de energia –, com mais de 80 mil empregados e responsável por cerca de 10% de todos os investimentos na economia brasileira, chama tanto a atenção e suscita tantas especulações.
A substituição de José Sérgio Gabrielli por Maria das Graças Silva Foster, de 58 anos e mais de 30 em diversos departamentos e negócios da empresa, era uma pedra cantada. Só não estava cantado que já seria na primeira quinzena de fevereiro. Mas, se houve alguma surpresa no “timing” da mudança, não deixa de ser algo que se poderia prever – afinal, a presidência da Petrobras, na prática, equivale à chefia de um ministério e uma reforma do Ministério está na ordem do dia.
Jornais do mundo inteiro destacaram o perfil técnico e estilo gerencial duro da futura presidente da Petrobras – semelhante ao perfil grudado no da presidente Dilma Rousseff. Também não deixaram de mencionar a proximidade de Graça Foster com Dilma, de quem, nos tempos de Dilma no Ministério das Minas e Energia, a futura presidente da Petrobras foi secretária de petróleo e gás. Além de ser a primeira mulher a presidir a estatal em quase 60 anos de existência, Graça Foster é um raro caso de presidente saído do quadro de carreira da empresa
Graça Foster já havia sido cotada para um cargo no primeiro escalação do governo quando a presidente Dilma Rousseff estava montando seu Ministério, em fins de 2010. Na época, veio à luz uma série de negócios de seu marido, Colin Foster, com a Petrobras. De 2007 a 2010, a empresa C. Foster, de propriedade do marido, assinou com a Petrobras 42 contratos de fornecimento de componentes eletrônicos, dos quais a metade sem licitação.
As características de Graça Foster – o perfil técnico e proximidade com Dilma – foram saudadas como pontos positivos para a administração de uma companhia gigante, controlada pela União, que registra receitas anuais acima de R$ 200 bilhões, só inferiores, no País, ao total arrecadado pelo governo federal. As ações da Petrobrás subiram 3,5% no pregão desta segunda-feira na Bovespa, alcançado o maior valor desde abril do ano passado.
Espera-se, no mercado, que Graça Foster promova uma reestruturação na diretoria da Petrobras, com o objetivo de obter maior integração entre elas e concentrar esforços nos aspectos operacionais e de produção. A conferir, contudo, a autonomia que terá para designar os diretores e redesenhar as estruturas superiores da estatal. E também a habilidade política que, obrigatoriamente, terá de revelar, na condução da estatal.
Gabrielli sai oficialmente para ocupar um secretária no governo da Bahia, suposto passo para uma candidatura ao governo baiano, em 2014. A distância no tempo entre a saída e a execução de seu projeto político permite supor que esta foi o caminho mais suave possível encontrado por Dilma para dispensar Gabrielli e assumir mais diretamente, pelas mãos da especialista de total confiança, os controles da Petrobras.

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