sábado, 30 de dezembro de 2017

Dodge encalhou


O Conversa Afiada publica notável e sereno Artigo de Joaquim Xavier, colunista do blog Conversa Afiada. 

A cidadã que hoje está sentada na cadeira de procuradora-geral da república conseguiu uma proeza. Em pouquíssimo tempo, já disputa nos livros o papel de figura mais perniciosa e patética a ocupar o posto. E olha que a concorrência é lascada. Já vimos no cargo gente como Geraldo Brindeiro, um mero ajudante de ordens de FHC consagrado como “engavetador-geral da República” de tanto acobertar denúncias contra o sapo dos sociólogos.
Há pouco esteve no posto Rodrigo Janot. Muito se fala das trapalhadas deste, das artimanhas, da verborragia e atração por holofotes. Mas o lugar de Janot no panteão dos desastres resta garantido mesmo pela fiança deslavada concedida ao golpe parlamentar do impeachment de Dilma Rousseff. Isto a mídia em decadência esconde.
Raquel Dodge disse a que veio até antes do primeiro instante, sua posse. Furtivamente, encontrou-se com o presidente ladrão para combinações fáceis de imaginar. É dele que recebe a gasolina batizada para fazer seu motor de improbidades funcionar. E, de lá pra cá, bate continência ao patrono. A procuradora não tomou nenhuma, nenhuma providência contra aberrações tais como a queima de recursos públicos para salvar Temer das denúncias de roubalheiras.
Raquel esconde-se como uma avestruz diante das acusações de que o juizeco Sergio Moro está envolvido numa indústria de delações conforme depoimento do ex-advogado da Odebrecht Tacla Duran. Silencia diante dos trambiques de Gilmar Mendes na escolinha da professora Carmen Lúcia. Não toma nenhuma atitude quanto ao trabalho sujo do diretor da polícia fascista –o mais recente, trocar o funcionário que investigava a roubalheira de Temer no porto de Santos. Raquel tampouco se sentiu incomodada com a truculência de procuradores, juízes e delegados que assassinou o reitor Luiz Carlos Cancellier.
Para alguém que nem sequer uma morte é capaz de comover, nada a estranhar que tal senhora também finja-se de poste diante do escambo delinquente operado pelo mais novo general da quadrilha de Temer. Promovido a ministro, Carlos “Cunha” Marun vem expondo com o estrépito habitual sua missão: manipular mundos e fundos do povo para comprar subserviência ao presidente punguista. “Cunha” Marun condiciona a liberação de dinheiro público a populações desesperadas ao apoio à gang do Jaburu –sem falar do “por fora” que provavelmente rola nestas negociações. Seria um caso de demissão sumária até mesmo em ditaduras preocupadas com fachadas. Aqui não vem ao caso.
Agora, na ilusão de lustrar um prontuário infame tão vasto em tão pouco tempo, madame Dodge insurge-se contra o decreto do indulto. Faz um arrazoado primário para jogar para a plateia: “querem salvar os corruptos”. Ora, todos os dados e números mostram que são pouquíssimos, quase nenhum, os “corruptos” alcançados pela medida. A maioria beneficiada são presos injustamente; gente que apodrece nas masmorras mesmo com penas vencidas; mulheres e homens lançados ao tráfico como mulas; autores de crimes tão graves como furtar barras de chocolate, coxas de frango ou restos de acém para poder sobreviver.
Caso estivesse mesmo preocupada com democracia, igualdade e Justiça, Raquel Dodge seria a primeira a se insurgir contra os atos discricionários tentando impedir manifestações em favor do ex-presidente Lula. As medidas, de autoria do ministério público federal (a senhora já ouviu falar dele, madame Raquel?), criminalizam por antecipação os protestos em Porto Alegre contra uma condenação tida como injusta pela maioria do povo brasileiro que deseja ver o ex-presidente disputando eleições.
Cadê Raquel Dodge nestas horas? Deve estar combinando mais um regabofe no Jaburu às escondidas, até ser flagrada por um repórter testemunha da nova falcatrua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário