*José Álvaro de Lima Cardoso.
Nas
eleições de 2014 o economista Armínio Fraga, ligado visceralmente aos
banqueiros, naturalizado norte-americano,
que foi presidente do Banco Central do Brasil no período FHC, afirmava
com todas as letras que não apenas o salário mínimo, mas os salários em geral,
tinham aumentado muito ao longo dos últimos anos. Segundo Fraga, se o seu
candidato fosse vitorioso, seria necessário tomar medidas impopulares já desde
o primeiro dia de governo, porque as pessoas precisavam “cair na real”. Passado
cerca de um ano e meio do golpe, apoiado por Armínio Fraga aliás, o conjunto de
maldades contra o povo e contra o Brasil, já fez a maioria da população cair na
real, que mais parece um horroroso pesadelo.
Uma das
maiores maldades dos golpistas é a tentativa de implantar a PEC 287, que vem
para desmontar o sistema de Previdência Social. Os formuladores da PEC 287 vendem
a falsa ideia (na qual eles também não acreditam) de que o problema fiscal
brasileiro decorre do aumento acelerado da despesa pública primária, ou seja,
dos gastos sociais, de saúde, educação, funcionalismo, etc. Enfim, os gastos
que são realizados para atender a grande maioria da população. Os que pretendem
destruir a Seguridade Social no Brasil, e que consideram os idosos e
deficientes pobres um estorvo à eficiência dos mercados, não dizem uma linha
sobre pagamento de juros da dívida pública. Enquanto o "déficit"
anunciado da Previdência é de 149,7 bilhões de reais (feito através de um
cálculo enganoso) o governo entrega aos rentistas (cerca de 10 mil famílias)
algo em torno de 6% ou 7% do PIB há muitos anos. As contas públicas não estão
fechando, não pela Previdência Social, mas em função dos gastos com a dívida
pública, que não tem paralelo no mundo. Dívida que, aliás, não resistiria a uma
auditoria, como determinou a Constituição Federal de 1988.
Os
defensores da destruição da Seguridade Social, não mencionam a sonegação de
impostos no Brasil que chega a R$ 500 bilhões e que a dívida total das empresas
com a previdência, que beira os R$ 400 bilhões. As renúncias fiscais da
previdência social, somente nos últimos seis anos, totalizaram R$ 270 bilhões. Há também com a PEC o objetivo oculto, que se esconde através
de argumentos falaciosos, de abrir mercados para os planos privados de
previdência. Daí o discurso catastrofista, fatalista, de que se não houver uma
dura e amarga reforma, a Previdência vai quebrar em poucos anos, etc. Este é
praticamente o mesmo discurso de empresas de consultoria, picaretas e caça-níqueis.
A esmagadora maioria dos benefícios da Previdência Social, cerca de 70%,
é de um salário mínimo, com elevado efeito distributivo e social. Além de serem
de uma crueldade inominável, as medidas propostas pela PEC 287 são contra o
desenvolvimento econômico nacional. As transferências da Previdência exercem
papel fundamental na distribuição regional da renda: em cerca de 71% dos
municípios brasileiros os montantes transferidos pelos benefícios da
Previdência Social são superiores àqueles repassados pelo Fundo de Participação
dos Municípios. Além disso, 68% dos benefícios da Previdência Social são
destinados a municípios com até 50 mil habitantes.
O principal argumento do governo para a reforma da
Previdência é o seu suposto déficit. Ocorre que ele não existe. A Previdência
Social compõe, conforme estabelece a lei, o sistema de Seguridade Social
Brasileiro, formado pela Previdência Social, Saúde e Assistência Social. Este
sistema é amplamente superavitário. Quando criado, além do alcance social,
pensou-se também em suas fontes de financiamento. Além da arrecadação
proveniente da folha de salários (através da contribuição de empregados e
empregadores), o orçamento do sistema de seguridade é composto por Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), Pis/Pasep (Programa
de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público),
CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido).
O governo ilegítimo, para justificar a
PEC, alega que a Previdência Social terá déficit de R$ 200 bilhões em 20 anos. No
entanto, a Medida Provisória 795, conhecida como MP da Shell, aprovada no dia
05/11, concede benefícios fiscais para multinacionais petroleiras, que alcançarão
R$ 1 trilhão nos próximos 20 anos. Simultaneamente à edição da MP 795, o
governo publicou o Decreto 9.128, que prorroga, de 2020 para 2040, o prazo de
vigência do Repetro, regime especial que concede suspensão de tributos federais
para equipamentos usados em pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e de gás
natural. Segundo estudos da assessoria econômica da Câmara dos Deputados, as
isenções fiscais para as petroleiras, irão representar, já em 2018, uma perda
de R$ 16,4 bilhões.
Do conjunto de políticas públicas
existentes no Brasil (que vêm sendo desmontadas pelo golpistas), nenhuma é mais
eficiente do que a Previdência Social, no aspecto de distribuição de renda. A
esmagadora maioria dos benefícios, cerca de 70%, é de um salário mínimo, com
elevado efeito distributivo. Além de prover dignidade para a população mais
pobre, as transferências da Previdência exercem papel econômico fundamental no
aspecto da distribuição regional da renda. E com grande capilaridade, na medida
em que em torno de 71% dos municípios brasileiros os montantes transferidos
pelos benefícios da Previdência Social são superiores àqueles repassados pelo
Fundo de Participação dos Municípios. Ademais, 68% dos benefícios da
Previdência Social são destinados a municípios com até 50 mil habitantes. A
proposta de reforma da previdência trazida pela PEC ataca direitos dos mais
pobres, em meio a mais grave recessão da história do país, o que irá agravar as
desigualdades de renda no Brasil.
O
Brasil de hoje é uma espécie de laboratório de medidas ultra neoliberais,
extremamente duras, que representam o maior ataque contra o povo visto nas
últimas décadas. Medidas que só poderiam vir mesmo através de um golpe de
Estado, jamais através de eleições. Neste quadro, já surgem ações vigorosas por
parte de setores mais conscientes da população. No dia 05 de dezembro três
integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) iniciaram uma greve de
fome, na Câmara dos Deputados, em Brasília, em protesto contra a proposta de
Reforma da Previdência. Um dos bravos resistentes, resumiu a razão principal de
uma ação tão extremada, que coloca em risco a própria vida desses brasileiros: “A
greve de fome significa que alguns passarão fome por alguns dias para evitar
que muitos passem fome uma vida inteira”.
*Economista.
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