*José Álvaro de Lima Cardoso.
A
decisão recente da China, de realizar todas as suas transações de petróleo em
yuanes, utilizando como lastro as suas enormes reservas em ouro, é um
acontecimento histórico. Pelo que foi noticiado, o país firmará seus contratos
futuros de compra de petróleo utilizando yuanes, com a opção de
convertibilidade em ouro. Esta decisão, já esperada para mais cedo ou mais
tarde, golpeia fortemente a hegemonia do dólar, moeda de referência para os negócios
de petróleo desde 1974, a partir da aceitação da Arábia Saudita, pais chave no
comércio mundial e detentor da segunda maior reserva de petróleo do planeta. A
decisão da China, maior comprador de petróleo no mundo, é estratégica e acelera
o desmoronamento do dólar como moeda líder mundial.
A medida
do governo chinês foi tomada num contexto turbulento para a moeda estadunidense.
Em meados deste mês de setembro, o governo Venezuelano havia anunciado que o preço
médio do petróleo no país passaria a ser cotado em yuan chinês. A medida
do governo venezuelano foi uma resposta às sanções do governo aloprado de Trump
que, em
25 de agosto, anunciou mais uma série de sanções contra a Venezuela. Foi a
primeira vez que o preço de venda do petróleo venezuelano deixou de ser cotado
em dólares. Ademais, há cerca de um ano o yuan entrou no grupo de moedas de reserva
do Fundo Monetário Internacional (FMI), juntamente com o dólar, o euro, o yen e
a libra esterlina.
O fato do dólar ser a moeda utilizada no comércio
mundial, e de ser a principal moeda de referência nas transações de petróleo,
do ouro e das mercadorias em geral, confere um poder absurdo aos EUA. Tal
hegemonia do dólar permite aos EUA não se preocupar, por exemplo, com a monumental
dívida pública (na casa dos US$ 23 trilhões, superior ao PIB do país),
financiando-a com a emissão ilimitada, de bilhões e bilhões de dólares.
Vale lembrar que um dos interesses diretos da participação estadunidense
no golpe de Estado no Brasil em 2016, foi isolar o país da política externa
multilateralista praticada nos BRICS. Pesou, neste contexto, a decisão do BRICS
de fundar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com o objetivo de financiar
projetos de infraestrutura em países emergentes. A intenção dos países que
compõem o BRICS é de que o NBD seja uma alternativa ao FMI, organização na qual
os EUA detêm a maior cota e total influência política, inclusive com mais de
25% dos votos na direção. Ademais, os países que compõem o BRICS já vêm em
processo de substituir o dólar por suas próprias moedas, nas transações
internas ao Bloco. Essas decisões de caráter financeiro do BRICS, que vinham num
movimento crescente, equivalem ao disparo de uma bomba nuclear no poderio
estadunidense, ancorado em parte, no poder de emitir uma moeda, que serve ao
mesmo tempo de referência para as transações mundiais.
A
substituição gradativa do dólar como moeda de referência no mundo, que irá afetar
diretamente a vantagem estratégica da economia estadunidense, deve aumentar a
agressividade dos EUA, e de outros países imperialistas, em relação à busca de transferência
de riqueza da periferia para o centro mundial do capitalismo. Especialmente de matérias-primas,
bens bastante escassos nos países ricos.
No
Brasil, o que foi divulgado ou
encaminhado até agora (congelamento dos gastos sociais, terceirização sem
limites, destruição da seguridade social, liquidação dos sindicatos e dos
direitos sociais e trabalhistas, desmonte da Petrobrás e das demais estatais),
não será suficiente. Deverão intensificar os ataques contra direitos sociais e
soberania nacional, inclusive com o golpe militar, que ao que tudo indica, estão
preparando. Na América do Sul, os dois principais países mais fortemente agredidos pelo
imperialismo são Venezuela e Brasil, não por coincidência as duas maiores
reservas de petróleo da região. Será que precisa desenhar?
*Economista.
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