José Álvaro de Lima Cardoso.
É fácil concluir que a realização das
eleições de 2018 corre sério risco. Realizar golpe de Estado dá trabalho, ainda
mais quando a principal força do processo é uma potência estrangeira. O golpe
não foi realizado para devolver o governo ao campo progressista na primeira
eleição que ocorrer. Ele foi feito para cumprir um conjunto de tarefas, como reduzir
o custo da força de trabalho, destruir direitos sociais e trabalhistas, entregar
o pré-sal às multinacionais, inviabilizar o programa nuclear brasileiro (que
levou 35 anos para ser construído), retirar o Brasil dos BRICS, e vai por aí
afora. Um golpe dessa envergadura requer tempo, dinheiro e muita articulação. Algumas
ações vão requerer anos para serem completamente realizadas.
Vale prestar atenção nas palavras do professor Nilson Lage, da
UFSC: “(...) O legal não é legítimo: por meios institucionais, essa gente
jamais devolverá o poder. Ao contrário de 1964, quando o golpe foi dado contra
o trabalhismo e no contexto da guerra fria, esse objetiva desmontar o Brasil –
e o fará” (no Facebook, em 24 de junho). Os porta vozes do chamado “mercado” estão declarando, com todas as letras, que as eleições de 2018 não podem atrapalhar a realização das “reformas” encaminhadas pelo governo ilegítimo. Recentemente, num evento do Instituto Millenium (organização de estudos e debates, à serviço do grande capital), os empresários avaliaram que as eleições de 2018 são um risco à agenda de “reformas necessárias” para o país retomar o crescimento. Ou seja, os empresários estão preocupados que a democracia possa atrapalhar o funcionamento do virtuoso mercado. O mercado financeiro apoia a democracia apenas quando ela significa a aprovação de seus projetos antinacionais e antipopulares. Por isso apoiaram o golpe e já estão alegando que as eleições de 2018 significam um risco à economia.
Em um momento de crise da economia mundial, as exigências da democracia e dos direitos humanos, atrapalham a realização do lucro, determinação fundamental das políticas neoliberais. O que vê no mundo, com adaptações, é a redução do espaço democrático e a disseminação das medidas de exceção. No caso da América Latina, não se trata de restrição de espaço democrático, mas de golpes de Estados, mesmo, como ocorreu em Honduras, Paraguai e Brasil. Estão movendo mundos e fundos, além de muito dinheiro, para desalojar também, pela via do golpe, o governo da Venezuela.
A democracia não está mais sendo funcional, no mundo, para a implantação das políticas neoliberais. No Brasil vem sendo colocando em prática um programa ultra neoliberal de natureza destruidora de direitos e da soberania. O objetivo dos golpistas é alterar profundamente a natureza do Estado brasileiro, colocando-o ao serviço do capital internacional num nível nunca visto na História do país.
A coalizão que está no governo é a mais entreguista e subserviente ao capital financeiro da história. Um processo eleitoral, por mais limitado e manipulado que seja, permite à população rejeitar e, quem sabe, reverter as políticas que lhe prejudicam. Inclusive porque o Brasil já conhece as reformas neoliberais na década de 1990. E o programa dos golpistas, pelo visto até aqui, tende a fazer as reformas de FHC, dos anos 90, parecer uma brincadeira de criança.
Não podemos pecar pela ingenuidade e achar que as eleições irão ser realizadas normalmente em 2018. O golpe foi para valer e tem objetivos definidos e extremamente ambiciosos. Vão tentar continuar encaminhando o seu programa, que visa desmontar o Brasil, a qualquer custo. E tentarão fazer, com ou sem eleições em 2018.
Economista.
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